Trilha:
Estava aqui lembrando a época em que a gente brigava pra ter mais tempo e menos espaço. A época em que a nossa rotina era um frio na barriga, com gosto de aventura. Lembro que você dizia que eu era um super-herói, cujo poder era um abraço que curava. Foi pensando nisso que eu a abracei tão forte quando me pediu um tempo. Eu queria curá-la: eu queria consertar você. Estou estacionado pra chorar sozinho, num desses lugares em que escolhemos. Estou ouvindo músicas que nem eram nossas, mas que agora lembra a gente em tudo. Estou de vista para o mar, cheio de água salgada. Não. Não é o oceano. É esse mar mesmo de saudade. Ele, por sua vez, não molha os meus pés, mas o rosto. São lágrimas que regam a saudade que meu coração sádico insiste em cultivar. O que fazer quando quem você mais quer por perto lhe pede um tempo? Tempo existe? Ou é só uma forma menos abrupta de iniciar o término de uma relação?
Hoje foi dia de pensar no que você era, no que a gente foi e no que ainda somos: uma falha do destino. Sim, um plano mal sucedido do cupido- um erro bom de errar. Por aqui, tudo ainda me faz lembrar você. Até quando consigo a façanha de esquecê-la, isso me faz lembrar que esse esforço todo é só mais uma prova de que eu só consigo lembrar. Eu até tentei segurar mais um pouco, depois que você tentou se distanciar. Só que você não ouviu meu coração, que já estava afônico de tanto gritar. Você foi e ainda é o mais belo adeus, a mais linda das esperanças que eu tive de ser feliz. Você foi aquele erro que eu cometeria milhares de vezes e voltaria a errar. Você foi o ponto fora da curva, que me levou à margem das minhas próprias convicções. Que me mostrou (ainda) que pode ser uma delícia não ter o controle de tudo.
Mais uma vez, eu vou chegar em casa e não vou reclamar da música alta, enquanto eu tento me concentrar pra escrever. Hoje há um silêncio ensurdecedor. A única coisa que eu consigo focar é no quão diferentes eram nossos gostos musicais, e eu (simplesmente) não tinha noção do quanto isso me fazia bem. Estou perdido nas lembranças que você deixou e nas que eu criei, depois que você se foi. Eu a recriei em textos, frases e músicas pra tentar consertar você de alguma forma aqui dentro. Mas, lá no fundo, quem está quebrado sou eu. Eu a busquei no que era seu, no que era nosso e no que ainda haveria de ser. –Sim, eu ainda tinha muito pra lhe mostrar e muito mais por lhe descobrir.
Mas, você se foi.
Foi junto com o tempo que passou. E, assim como o tempo, você não volta.
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