Ela queria cinema e eu, praia. Eu pedi “ei, vai de vestido, ela veio de saia”. Ela queria sushi e eu, salada. Decidimos por pizza pra ninguém sair perdendo. Eu queria frango com catupury, ela queria presunto de peru. Adoraria dizer que nós pedimos metade de cada e engordamos juntos. Mas não, não aceitamos dividir a pizza em dois sabores. Não só a pizza, uma vida.
Somos desses casais que se amam em um dia o suficiente para uma vida toda. Somos desses orgulhosos que não admitem a saudade e aceitam a distância como o viciado aceita o vicio. Aprendendo a conviver com a triste constatação de que algumas pessoas nasceram para serem apaixonadas uma pela outra, mas não para ficarem juntas. Argumentamos sempre, exigimos demais e nos doamos de menos. Existe um equilíbrio entre os casais, é como a linha do Equador que divide o mundo em dois hemisférios. É invisível, mas sem ela não sabemos se estamos no sul ou no norte. Ela não só divide como também organiza, colocando suas partes em seus devidos lugares. É esse equilíbrio o que faz a relação durar mais que um final de semana, esse respeito e compreensão pelo lado alheio é que constrói a saudade. Essa reciprocidade é o segredo que nós deveríamos saber. Essa verdade subentendida nós devíamos ser. Eu queria acreditar que nós éramos diferentes. No começo, eu gostava de saber que você sequer ouviu falar do meu filme favorito. Que as musicas que eu ouço no volume mais alto possível, sequer ouviria com fone de ouvido. É, eu gostava de saber que existia alguém tão diferente de mim que estava disposta a conviver comigo. Eu queria acreditar que no caminho a gente poderia encontrar algo nosso, um gosto em comum, uma banda favorita ou até um destino para viajar. Queria acreditar que o mistério desse rio que se chama você, tivesse a transparência do mar. Você sabe, eu sempre fui apaixonado pelo mar. Não deveríamos estar discutindo qual a profissão mais rentável, nem você estar tentando viajar para Nova York enquanto eu só queria um final de semana em algum lugar com cheiro de mato. Não deveríamos concordar em tudo, mas seria bom concordar às vezes. Eu gosto de você, gosto da nossa intensidade, gosto do dia que a gente não se desgruda, gosto do dia que vivo de uma vez tudo que está acumulado. No amor, bom mesmo é cooperar e não competir.
Essa dose foi incrível, transcendente. Obrigado pelo belo texto!
Incrível e ler um comentário assim, obrigado amigo 😉 volte sempre