
Entre tantas contribuições para a humanidade deixadas pelo Papa Francisco em seus 12 anos de papado, é impossível não destacar seu legado em prol da Sustentabilidade.
Francisco foi um visionário, um homem de coragem que soube equilibrar firmeza com doçura, seriedade com bom humor, ética com justiça. E foi um revolucionário. E foi também o Papa da Sustentabilidade e do ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança).
No Meio Ambiente foi um ferrenho defensor daquela que chamava de “Casa Comum”, a Terra e convocou a todos para sermos guardiões dessa Casa. Alertou sobre as mudanças climáticas de forma incansável e em 2015 publicou a encíclica Laudato Si (Louvado Seja) onde fazia um chamamento geral em prol de uma conversão sustentável em prol do Planeta Terra.
Em 2023 escreveu o Laudate Deum (Louvai a Deus) e cobrou mais uma vez a inação de líderes globais na solução de problemas ambientais e os danos que causavam ao planeta.
Defendeu a Amazônia, pediu desculpas aos povos originários por uma histórico de injustiças, defendeu a transição energética. Ele não poderia ter sido mais futurista quando afirmou que “Mudança climática é questão de justiça intergeracional”.
No Social, Papa Francisco foi ainda mais contundente ao criticar as injustiças e as políticas que promoviam e ampliavam as desigualdades. Chegou a ser enfático sobre o modelo de capitalismo selvagem ao dizer “Essa economia mata”!
Na obra “Vamos Sonhar Juntos – O Caminho para um Futuro Melhor” Francisco sugere um mundo mais humano, com mais inclusão e justiça social.
E foi além do discurso; ele convocou jovens do mundo todo a repensarem a economia em 2019. Nasceu ali a chamada “Economia de Francisco”; um movimento presente em mais de 20 países incluindo o Brasil, que continua até hoje e que consiste em empreendimentos, educação (EoF Academy e EoF School) e pesquisas que visam acelerar o desenvolvimento de um sistema econômico mais sustentável e mais inclusivo, que priorize a dignidade humana, a paz e o respeito ao meio ambiente.
O Papa também defendeu imigrantes e refugiados; e lembrou que “a crise dos refugiados é a maior tragédia desde a Segunda Guerra Mundial”. Pregou a união e a inclusão!
Cobrou maior proteção e assistência aos vulneráveis; acolheu gays e pessoas LGBTQIA+ e pessoas em segundos casamentos, afirmando que quem era ele para julgá-los….
Enalteceu e defendeu as mulheres, e promoveu nomeações históricas e inéditas de religiosas em cargos importantes no Vaticano. Acusou a Igreja de estar excessivamente “masculinizada”. E disse: “Ainda hoje, há uma escravidão das mulheres. Elas não têm as mesmas oportunidades que os homens”.
Na Governança foi assertivo ao punir aqueles que falharam na ética das finanças do Vaticano, se desculpou por padres abusadores e exigiu o afastamento de todos os infratores. E foi duro quando declarou: “Abusos contra menores são vergonha e humilhação da Igreja”.
Ele sabia o quanto era importante a Reputação como ativo.
Na Comunicação foi eloquente e de uma oratória assertiva que tocava e emocionava, transformando as pessoas que ouviam suas falas. Foi um frasista da maior qualidade, a exemplo de algumas, das tantas pérolas de sabedoria que nos deixou:
“A verdadeira fé nos faz mais caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais humildes.”
“Se o mal é contagioso, o bem também é. Deixemo-nos contagiar pelo bem.“
“Tornai vigilantes os nossos corações distraídos.”
“A verdade anda de mãos dadas com a beleza.”
“Ignorar um filho com tendências homossexuais é uma falta de maternidade e paternidade.”
“Ser homossexual não é crime.”
“O dinheiro deve servir, não governar.”
“O ser humano está em perigo. No mundo, não manda o homem, mas o dinheiro.”
“Converter-se é um Caminho! É aprender algo novo e ser melhor a cada dia.”
“O senso de humor é um certificado de sanidade. Um atestado de saúde.”
“Quem pensa em construir muros e não em construir pontes, não é cristão”.
“Não deixe que ninguém tire a sua esperança.”
Ele foi o Líder que engajou pelo exemplo e pela mansidão, nunca pela força e prepotência. Praticou com louvor a CNV – Comunicação Não Violenta, em narrativas simples e diretas, firmes mas bem-humoradas, e afetuosas sempre.
Foi Coerente em tudo. Walk the Talk, ou seja, faça o que fala. Pregou simplicidade e abriu mão de regalias. Eliminou excessos, viveu de forma simples e pediu para ser enterrado sem maiores ostentações.
Trabalhou até o último minuto. Pode até ter lhe faltado o fôlego, mas nunca a fé e a vontade de servir!
Encerro essas reflexões lembrando da minha alegria quando em 2018 eu tive a honra de editar um livro feito a muitas mãos por amigos católicos que integravam um grupo de estudos chamado “Caminho do Meio”, fundado e idealizado pela jornalista Teresa Nascimento, com direção espiritual do Pe. Djalma Tuniz e que tinha muito “a cara” de Francisco nas ações que realizamos.
Estivemos juntos enquanto Grupo por 10 anos e o livro “Fé, Beleza e Arte – Dez Anos de História do Caminho do Meio” foi o fruto que deixamos com depoimentos, lições e provocações.
Eu usei, ao longo da obra, muitas frases do Papa Francisco pois ele representava tudo o que pensávamos sobre a necessária interseção da fé, da arte e da beleza como alimentos vitais para a humanidade. E para a nossa felicidade, em 2019 o arcebispo Dom Belisário em visita ao Vaticano presenteou Francisco com nosso livro, recomendando a sua leitura por conter nossa metodologia moderna de estudar e contemplar o Evangelho. Que honra pensar em nosso livro nas mãos daquele que tanto nos inspirou!
Agora é hora de dizer adeus ao Papa do ESG, do Amor e da Inclusão.
Mas precisamos, mais que nunca, reforçar as ações em prol da agenda ESG – Meio Ambiente, Social e Governança – e da Sustentabilidade, como nos pediu Francisco. Que saibamos manter vivo o legado do Papa do ESG, o Santo Padre Francisco.
*Adriana Vieira – Jornalista, CEO da InterMídia Comunicação Integrada, Especialista em Gestão da Reputação e ESG. Editora da obra católica “Fé, Beleza e Arte – Dez Anos de História do Caminho do Meio”. Co-autora da obra “ESG: Estratégias de Sucesso”.