O prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior (PTC), reuniu a imprensa ontem, a pretexto de apresentar um balanço dos primeiros 100 dias de sua gestão. Mas, à medida que o diálogo com os jornalistas transcorreu, ficou evidente a falta do que mostrar. Os graves problemas da cidade, como a buraqueira, a precariedade do transporte coletivo e da coleta de lixo, o sistema de saúde falido, entre outras mazelas, passaram ao largo na entrevista, que confirmou definitivamente o fraco desempenho do prefeito nestes primeiros meses de governo.
Diante das poucas ações, sobressaiu-se a política, que mesmo abordada de forma breve, ganhou muito mais ênfase no discurso do prefeito. A reafirmação do projeto político do seu mentor e orientador político, o ex-juiz Flávio Dino (PCdoB), da maneira como foi exposta, pareceu ser para o prefeito bem mais importante do que o desafio de governar a capital. A informação dada pelo gestor de que tem sido difícil cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal ante o inchaço da folha de pagamento também teve forte ressonância, pois deixou clara a necessidade de demissões.
De resto, o que se viu foi a tentativa frustrada de Edivaldo Júnior e equipe de convencer a população de que a atual gestão está no rumo certo. Os fatos, no entanto, provam exatamente o contrário. A infraestrutura é a pior possível, seja nos corredores de tráfego, seja no interior dos bairros. O transporte público, idem. E o que é
pior: não se vê disposição em melhorar, o que ficou comprovado novamente ontem com a recusa da secretária municipal de Trânsito e Transporte, Myrian Aguiar, em participar de uma audiência pública, na Câmara Municipal, proposta pelo próprio líder do governo na Casa, vereador Honorato Fernandes (PT).
O texto enviado às redações pela Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) referente à coletiva também não deixou dúvida quanto ao fiasco. O próprio título da matéria diverge do propósito inicialmente anunciado: “Prefeitura anuncia ações para os próximos 30 dias”. Ou seja, em vez de apresentar ações já concretizadas, como fez crer ao convocar a imprensa, o prefeito voltou as fazer promessas, que, segundo ele, serão cumpridas em apenas um mês. Uma atitude que, com certeza, feriu ainda mais sua credibilidade.
Voltando à política, a impressão que ficou da entrevista é que a gestão de o sr. Edivaldo Júnior está muito mais engajada ao projeto eleitoreiro acalentado pelo grupo do qual é refém para 2014 do que a serviço dos ludovicenses. Talvez seja esse o principal fator a engessar a administração, a ponto de tolher iniciativas e recursos financeiros para implementar as melhorias que a cidade tanto precisa. Em razão dos prejuízos que pode causar ao bem comum, a interferência da política nas práticas de governo deve ser cuidadosamente observada pelos órgãos de fiscalização e controle e pela própria população.
Exceto a claque escalada pelo prefeito para aplaudi-lo, quem acompanhou a entrevista saiu frustrado. Nenhuma medida de impacto foi anunciada. Também não foi dessa vez que a atual gestão apresentou o que garantiu durante a campanha e que até agora não apresentou: um plano de governo viável, condizente com a realidade de São Luís. Mais uma vez, frustrou expectativas, confirmando as suspeitas de que o seu governo é uma aventura. Sim, porque tapar buraco e colocar escola para funcionar não é plano de governo, é obrigação de prefeito.
O sr. Edivaldo Júnior teria prestado um bom serviço à população se tivesse ficado calado. E trabalhando.
Editorial publicado nesta quinta-feira em O Estado do Maranhão