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O renomado médico infectologista David Uip participou de uma live sobre o tema “O Cenário da Saúde no Brasil”, voltada a alunos das instituições de ensino superior que integram o Grupo Educacional Ceuma. A apresentação do evento acadêmico coube à reitora do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (UniFamaz), Adriana Letícia Gorayeb, e a mediação ficou a cargo do médico e coordenador do curso de Medicina da Universidade Ceuma, José Márcio Leite, ex-secretário de Estado da Saúde do Maranhão e atual presidente da Academia Maranhense de Medicina.
Professor-doutor em Medicina, David Uip é ex-secretário de Saúde do Estado de São Paulo, ex-diretor-executivo do Instituto do Coração de São Paulo, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. É considerado um dos maiores especialistas em doenças infecciosas, em especial a AIDS, do país.
Ao longo da transmissão, David Uip fez colocações extremamente relevantes para a formação acadêmica dos alunos da área médica da Universidade Ceuma, UniEuro (Brasília), UfiFamaz, Centro Universitário do Piauí (Ceupi) e do Centro de Ensino Superior de Palmas (Cesup), no Tocantins. Foi a primeira de uma série de encontros virtuais nos quais o conceituado médico e docente compartilhará seus conhecimentos e experiências com os estudantes de Medicina e áreas afins das cinco instituições.
Inicialmente, David Uip fez considerações importantes sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), centrando foco no desempenho do programa desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Segundo ele, a atuação do SUS foi fundamental, pois impediu que o país sucumbisse durante a crise sanitária. Ele comparou a situação local com a de países desenvolvidos, como França, Estados Unidos e Alemanha, onde pacientes com Covid-19 deixaram de ser atendidos por falta de um modelo universalizado de assistência à saúde.
Ele destacou que o SUS deve ser pensado no modelo triparte – com participação do Governo Federal, estados e municípios – e defendeu que o sistema deve ser repaginado. O infectologista apontou como principal problema do SUS o financiamento. “Cada vez mais, o financiamento do SUS pelo Governo Federal tem diminuído. O orçamento, via Ministério da Saúde, é insuficiente para a demanda dos quase 230 milhões de brasileiros”, ressaltou.
Sobre o modelo de atendimento adotado no Brasil durante a pandemia, David Uip concordou com a colocação apresentada pelo colega José Márcio Leite de que a atenção primária deveria ter tido mais ênfase, com rastreamento do vírus SARS-CoV-2 e realização de testes rápidos. “A saúde poderia ter sido mais resolutiva e nós poderíamos ter testado muito mais pessoas. “O sistema de testagem foi insuficiente para o tamanho da pandemia”, avaliou.
De acordo com o infectologista, a pandemia do novo coronavírus também proporcionou importante aprendizado, assim como várias outras, em tempos anteriores, como a da meningite meningocócica e a da Aids. Sobre essa última doença, ele relembrou que em seu consultório foi diagnosticada, em 1982, a primeira transmissão autóctone (de um indivíduo para outro na mesma região) dentro do pais. “Epidemia é isso, você aprende, perde e ganha, até que você tem a solução. E qual é a solução? Que prevenção é vacina”, enfatizou.
Dado inédito
David Uip mencionou, em primeira mão, durante a live promovida pelo Grupo Ceuma, um dado sobre um estudo feito por sua equipe, que será apresentado no próximo Congresso Brasileiro de Epidemiologia, com 1.900 pacientes com Covid-19, dos quase 850 foram internados. “É um número muito significativo de pacientes tratados por um só médico”, frisou.
Em resposta a um questionamento sobre o novo agravamento da Covid-19 em alguns países da Europa e a necessidade de manter no Brasil as medidas de distanciamento social, de proteção individual, chamadas na epidemiologia de medidas de contenção, enquanto a vacinação avança, Uip afirmou estar plenamente de acordo. Ele lembrou que no dia 26 de fevereiro de 2020, foi convidado pelo governador de São Paulo, João Dória, a montar o Centro de Contingência naquele estado. “Montei, dirigi e participo até hoje. Agora, o centro se tornou um comitê científico de apoio ao secretário de Saúde e ao governo”, pontuou. “Uma das primeiras providências foi adotar as medidas de contenção”, acrescentou.
Segundo David Uip, graças a essa mobilização, foi possível retardar a chegada do vírus ao interior paulista, fazendo com que as pessoas entendessem a importância dessa proteção. “Eu afirmo que muitas vidas foram poupadas graças ao distanciamento social e ao uso de máscaras”, declarou.
Cedo para abrir mão do uso de máscaras
O infectologista informou ainda que após uma reunião na última quarta-feira (1º), o comitê científico elaborou uma nota sugerindo ao governador paulista que não desobrigue o uso de máscaras em lugares abertos, como está previsto para o próximo dia 11. “Caiu muito o número de internados, o estado de São Paulo tem 75% das pessoas vacinadas e na capital a imunização é de praticamente 100%. Mas nós entendemos que ainda não é tempo de abrandar medidas, principalmente porque estamos próximos das festas de final de ano e do Carnaval, quando são registradas grandes aglomerações”, advertiu.
Quanto à nova variante do novo coronavírus (Ômicron), oriunda da África do Sul, Davi Uip disse que a resposta que se espera é se ela é mais infectante e transmissível, se é mais mórbida e mais letal e se as vacinas disponíveis têm eficácia para garantir a prevenção. Ele frisou que na África a cepa foi mais transmissível e menos mórbida e letal. “É preciso aguardar para saber como a nova variante vai se comportar na América Latina, mais especialmente no Brasil”, recomendou.
Ao término da live, David Uip agradeceu ao Grupo Ceuma pelo convite para compartilhar seus conhecimentos e experiências com alunos e professores e disse que espera a participação de todos novamente nas próximas lives.
Assista à transmissão na íntegra: