Localizada no Araçagi, unidade será gerenciada pelo Instituto Raíssa Mendonça, iniciativa da personagem do livro “O Outro Lado da Maçã”; projeto acolherá transexuais vítimas do preconceito e exclusão familiar, para que conquistem uma profissão e entrem no mercado de trabalho
São Luís – Concebido para prestar assistência a indivíduos em situação de vulnerabilidade social pertencentes à população LGBTQ+, de todas as faixas etárias, o Instituto Social e Cultural Raíssa Mendonça inaugura, dia 27 de fevereiro, às 16h, a Casa Flore-SER Maranhão, localizada no bairro Araçagi. A inauguração contará com a presença de autoridades dos mais diversos segmentos, representantes de órgãos e entidades.
O foco é proporcionar oportunidades a pessoas com dificuldades de acesso à educação, vítimas do preconceito e exclusão familiar, que enfrentam inúmeras barreiras para conseguir capacitação e espaço no mercado de trabalho.
A entidade filantrópica sem fins lucrativos vai amparar, também, pessoas oriundas do sistema prisional maranhense, com ações postas em prática em parceria com órgãos públicos e a iniciativa privada, ofertando cursos profissionalizantes.
A casa oportunizará o empoderamento desses indivíduos, tanto por meio da capacitação profissional como do acolhimento, que será prestado de forma humanizada, fortalecendo a autoestima e reconstruindo vínculos familiares e comunitários.
O serviço oferecerá alimentação completa em diferentes turnos, higiene pessoal, acolhimento, atendimento socioeducativo e psicológico e encaminhamento à rede socioassistencial. Os conviventes poderão participar de oficinas, debates, palestras internas e externas, festas e outras atividades.
O projeto, inspirado na Casa Florescer de São Paulo, acolherá 90 pessoas em princípio. De acordo com a idealizadora, psicóloga transexual Raíssa Martins Mendonça, o objetivo é proporcionar um ambiente salutar e acolhedor e que, também, contribua para que os assistidos descubram seus talentos e potenciais.
“Além daqueles indivíduos que não se sentem acolhidos no ambiente familiar devido à sua identidade de gênero, nós receberemos pessoas em situação de vulnerabilidade social, inclusive vítimas das drogas e da prostituição, dando-as uma possibilidade de superar as mazelas e de viver com dignidade”, afirma Raíssa Martins Mendonça, acrescentando que o projeto prevê a construção de uma padaria comunitária e de um salão de beleza.
Sonho
Raíssa criou o Instituto Social e Cultural Raíssa Mendonça para realizar um sonho antigo de ajudar a comunidade LGBTQ+ com iniciativas concretas, pois, tendo sentido na pele, ela sabe das inúmeras dificuldades por que passam essas pessoas, devido ao preconceito da sociedade. “São muitas portas que se fecham quando você decide revelar a sua identidade de gênero. Eu passei por tudo isso e sei que não é fácil”.
Segundo ela, estima-se que 10% da população brasileira pertençam à comunidade LGBTQ+ e uma parte significativa é transexual ou travesti. Com expectativa de vida de 35 anos, este é, também, o grupo mais afetado pela violência relacionada à identidade de gênero e orientação sexual, fazendo com que o Brasil lidere, há anos, o ranking dos países que mais matam transexuais.
“A dificuldade de acesso à educação, o preconceito da sociedade, a exclusão familiar e a falta de vagas no mercado de trabalho são as barreiras cotidianas enfrentadas por essa parte da população”, frisa.
De origem humilde, a transexual Raíssa Martins Mendonça (o nome de batismo é Dorivaldo Martins Mendonça) passou a infância ajudando a família na roça, em Pedro do Rosário (MA), e deixou sua terra natal ainda adolescente, migrando para a capital com a ajuda de uma tia. Em São Luís, trabalhou como catadora de frutas descartadas, pregoeiro, empregada doméstica, cabeleireira e militante política na sede de um partido, até tornar-se governanta do vereador e líder religioso Astro de Ogum, decano da Câmara Municipal de São Luís.
Simpática, corajosa e determinada, ela conseguiu na justiça a mudança de seu prenome social, o que aconteceria depois de seu ingresso no curso de Psicologia, na Universidade Ceuma, com a ajuda de professores. “Foi como uma libertação psicológica. Eu precisava ter os meus direitos reconhecidos e não foi nada fácil conseguir, pois é tudo muito burocrático. As coisas melhoraram bastante depois dessa conquista”, conta a transexual.
Raíssa tem como uma de suas referências para seus projetos o neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl, para quem o sentido da vida reside em encontrar um propósito, em assumir uma responsabilidade para consigo mesmo e para com o próprio ser humano.
Livro
A vida de Raíssa foi marcada por muitos altos e baixos. Entre outras coisas, ela chegou a ser enganada no exterior, onde quase foi obrigada a se prostituir. Além disso, foi presa, após ser acusada de envolvimento em crime virtual, sendo a primeira transexual recolhida ao presídio feminino maranhense. Deixou a penitenciária com uma tornozeleira eletrônica.
As principais passagens da história de vida da transexual maranhense estão no livro intitulado “O Outro Lado da Maçã”, escrito por Evandro Júnior, jornalista, blogueiro e colunista do jornal O Estado do Maranhão. Raíssa explica que o dinheiro arrecadado com a venda dos exemplares será empregado nas primeiras ações da Casa Flore-SER Maranhão que, por enquanto, tem como um de seus mais fortes parceiros o vereador Astro de Ogum.
Serviço
O quê
Inauguração da Casa Flore-SER Maranhão
Quando
Dia 27 de fevereiro, às 16h
Onde
Rua Fé em Deus, S/N – Araçagi