O psicólogo e preceptor do curso de Psicologia da Universidade Ceuma, Gilberto Costa, analisa as consequências da exposição excessiva das pessoas nas redes sociais. O profissional alerta para distúrbios comportamentais comuns a muitos internautas, como o hábito de stalkear (perseguir) perfis de famosos ou não, o que pode ser extremamente nocivo ao convívio em sociedade e causar danos tanto a quem é perseguido, quanto a quem persegue.
Gilberto Costa ressalta que o mundo pós-moderno e suas revoluções começaram a afetar o modo como as pessoas enxergam a realidade. “Não é à toa que as redes sociais, os arranjos de relação, a maneira como a gente vê o outro, seja no ambiente virtual, seja na vida real, estão afetando a forma como percebemos o mundo”, observa.
Para o psicólogo, o fato de as pessoas estarem muito expostas nas redes sociais, onde não existe mais o privado, leva a comportamentos literalmente preocupantes, por seu caráter obsessivo.
Perseguição
Ele cita como exemplo de distúrbio comportamental a mania identificada pelo termo inglês stalkear, que traduzido para a língua portuguesa significa perseguir ou vigiar alguém, e é comumente utilizado por um nicho crescente de internautas. Gilberto Costa explica que a palavra remonta à década de 80, quando famosos e celebridades se sentiam invadidos por fãs, pois estes simplesmente perseguiam suas vidas.
Ainda de acordo com o psicólogo, o ato de stalkear pode transcender o ambiente virtual e ocorrer também no mundo real. “É um fenômeno em que o comportamento da pessoa se baseia em vigiar e, de uma certa forma, observar o comportamento de quem ele deseja, de uma situação a nível virtual ou até mesmo pessoal”, assinala. “Estamos lidando com uma situação de mão dupla, em que o perseguido se sente invadido, hoje, dentro da sociedade, e o perseguidor acaba desenvolvendo comportamentos que afetam a sua saúde mental”, complementa.
O especialista diz que ao assumir comportamentos obsessivos, o perseguidor acaba desenvolvendo distúrbios mentais ligados a sentimentos negativos, como medo, insegurança e raiva, que fazem com que as coisas saíam do seu planejamento e acabem afetando a vida do perseguido.
Amor ilusório
Gilberto Costa cita o termo erotomania, bastante empregado em psiquiatria e usado como intervenção pela psicologia, que define o comportamento de imaginar estar sendo amado por alguém e achar que, de uma maneira irreal ou fantasiosa, isso nos afeta. “O que eu posso dizer a essas pessoas é que elas devem realmente buscar ajuda, pois estamos lidando com um comportamento que não afeta só a vida de quem está perseguindo, mas também do perseguido”, enfatiza o profissional.
O psicólogo frisa, ainda, que as redes sociais favorecem a dar continuidade ao que imaginamos do outro, de maneira real. Mas ele pondera que há uma fenda enorme entre o que se vê na rede social e o que se vive. “O que eu vejo na rede social não é real. As pessoas postam o que querem postar, o que estão vivendo e o que querem mostrar”, ressalva.
Diz ainda Gilberto Costa que as pessoas que precisam stalkear ou vigiar veem uma realidade que pensam ser verdadeira, mas não é. Para ilustrar o caso, ele menciona uma série televisiva chamada “You”, exibida pela Netflix, que aborda justamente a obsessão a partir de um perfil em rede social. O psicólogo já disse ter se deparado com pessoas que se identificaram com o enredo e ficou preocupado. “Se a pessoa está fazendo isso, eu oriento procurar ajuda, pois é uma coisa muito séria”, adverte.