Às vésperas do início do período oficial de campanha política, o governador Flávio Dino (PCdoB) intensifica as ações da sua gestão com motivação visivelmente eleitoreira. Disposto a reverter o desgaste de imagem que pode lhe custar a derrota nas urnas, em outubro, o comunista deu início a um plano desesperado, baseado no uso da máquina pública para patrocinar obras de infraestrutura e outras benfeitorias jamais vistas nos primeiros três anos e meio de gestão. Ciente de que os números das recentes pesquisas encomendadas pelo Palácios dos Leões, que apontam sua vitória já no primeiro turno, estão bem distantes da realidade, o governador não vê outra saída, senão usar a abusar do poder que o cargo lhe confere. Assim, tentará transformar a impopularidade de agora nos votos que podem lhe garantir o segundo mandato daqui a menos de quatro meses.
Uma das ações eleitoreiras de Flávio Dino foi a antecipação para hoje do pagamento da primeira parcela do 13º salário ao funcionalismo público estadual. Em conflito com os servidores por causa da política de achatamento salarial imposta a diversas categorias e após a recente derrota no Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da ação rescisória que obriga o Estado a pagar o percentual de 21,7% referente a perdas de remuneração acumuladas pelos trabalhadores, só restou ao comunista fazer um afago na classe, em uma clara tentativa de diminuir sua rejeição.
Outra benfeitoria introduzida pelo governo com a campanha eleitoral batendo às portas é um tal “Mais Saúde Criança”, realizado aos sábados e domingos no Centro de Especialidades Médicas do Pam Diamante, bairro Diamante-Centro. A última edição contou com a presença do próprio Flávio Dino, que beijou e carregou crianças no colo e até se deixou fotografar ao lado de palhaços. O curioso é que até então não se tinha visto iniciativa semelhante na área de saúde. Em vez disso, os maranhenses assistiram, constrangidos e revoltados, a sucessivos escândalos de corrupção no setor, com prisões de gestores, desvio de R$ 18 milhões constatado pela Polícia Federal e até a morte de um médico envolvido no esquema ilegal.
O comunista também recorre a intervenções na infraestrutura de São Luís e do interior para passar a imagem de bom gestor e auferir dividendos eleitorais à custa dessa falsa virtude. Na capital, sua ação mais recente nessa área é o início da execução da obra de revitalização do canteiro da Avenida Ferreira Gullar, orçada em mais de R$ 520 mil. O local da intervenção, o cruzamento entre as avenidas Ana Jansen e Ferreira Gullar, em frente a Lagoa da Jansen, parece ter sido escolhido com base em critérios não apenas urbanísticos, mas, acima de tudo, pelo potencial de exposição ao eleitorado, pois trata-se de um trecho com trânsito movimentado, que dá acesso à orla marítima.
O concurso da Polícia Militar, realizado em meio a uma série de atropelos, com saldo trágico de dois candidatos mortos no Teste de Aptidão Física (TAF), também é apontado por muitos como ação eleitoreira do governo Flávio Dino. Mesmo sob protestos de candidatos insatisfeitos com os prejuízos causados ao seu desempenho pela antecipação de provas, curto prazo para realização de exames, para preparação para o TAF e para o teste psicológico, o certame prosseguiu, amparado no argumento palaciano de que é preciso reforçar com urgência o efetivo da PM. Mas as pretensões do governo comunista vão muito além de viabilizar o aumento do contingente policial e de cumprir sua obrigação constitucional de proporcionar sensação de segurança à população.
Os próprios candidatos, ao externarem, em carta, seu descontentamento com a desorganização do certame e com a convocação de 3.125 aprovados para fazer o curso de formação, e não 1.200, dentro do número de vagas oferecidas pelo concurso, trataram de apontar o real objetivo do governo ao adotar tal medida: “Nós, alunos, sabemos a resposta: para simplesmente se favorecer nas próximas eleições”, declararam, aparente resignados com o tempo recorde de apenas dois meses de duração da preparação para atividade policial.
A lista de obras e outras ações eleitoreiras de Flávio Dino inclui centenas de outras intervenções Maranhão afora. É a máquina do Estado a serviço do poder e do continuísmo. Espera-se diligência do Ministério Público e da Justiça Eleitoral para coibir tais práticas.
Editorial publicado nesta quinta-feira em O Estado do Maranhão