Pretexto para o “aluguel camarada”

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1ª Companhia do 20º Batalhão de Polícia Militar foi instalado no mesmo prédio da Funac, alugado por comunista, desta vez para a SSP

A gestão de Flávio Dino tenta se valer de uma reivindicação da população para manter o contrato de locação de um prédio na Aurora pertencente a um filiado ao PCdoB, mesmo partido do governador. Ignorando o escândalo protagonizado pelo governo há exatamente um ano, quando O Estado revelou a identidade e todas as credenciais do dono do imóvel, a administração estadual, via Secretaria de Segurança Pública, inaugurou, ontem, no mesmo prédio alvo de denúncia por pertencer a um comunista, a 1ª Companhia do 20º Batalhão de Polícia Militar, com direito a salva de fogos e sob aplausos da comunidade, que compareceu em massa ao ato.

Obviamente, a Aurora, assim como diversos outros bairros de São Luís, tem direito à cobertura policial adequada, capaz de combater a violência de forma satisfatória. É uma necessidade comum a toda a região metropolitana. O erro, portanto, não está em investir em segurança pública nesta ou naquela comunidade, mas sim na artimanha comunista de prestigiar com dinheiro público uma pessoa com relações políticas evidentes com o atual governo, do qual foi, inclusive, servidor, ocupante de alto cargo na Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), estatal que gerencia o Porto do Itaqui.

A imoralidade, travestida de boa intenção, e batizada de “aluguel camarada” pelos críticos, faz corar de vergonha alheia qualquer cidadão de bom senso e de conduta pautada na legalidade e seria motivo suficiente para uma representação do Ministério Público e demais órgãos de fiscalização e controle. Mas, para os comunistas, é algo natural e permitido, típico de governantes que precisam, a todo instante, reafirmar quem pode e quem manda.

Como sempre, os governistas lançaram mão de argumentos técnicos para tentar dar legalidade ao caso de favorecimento que expôs o Maranhão ao ridículo em nível nacional. Para a cúpula da segurança, a escolha do prédio não poderia ter sido mais adequada, uma vez que a estrutura do imóvel, segundo critérios que só o atual governo pode esclarecer, atende perfeitamente às necessidades inerentes à atividade policial. Quanto à camaradagem escancarada, que resultou, de agosto de 2015 até agora, no pagamento de quase R$ 360 mil ao locador, os palacianos não fazem qualquer menção.

Se a manutenção do “aluguel camarada”, por si só, já reascende o escândalo, o caso ganha contornos ainda mais graves quando se constata que o contrato de locação migrou de pasta. Se antes, eram partes na transação imobiliária o proprietário e a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP), a qual é ligada a Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), com a escolha do mesmo imóvel como sede da companhia militar, o vínculo contratual foi celebrado com a SSP. Resta saber sob quais termos se deu a migração, que exigiu cumprimento de etapas burocráticas comuns à administração pública e pode ter resultado, inclusive, em alteração de valores.

A manobra é um forte indício de que a intenção principal do governo, apesar da polêmica, é manter o privilégio ao correligionário, como uma espécie de compensação à perda do emprego na Emap em meio à ampla repercussão negativa do episódio e à exposição de sua imagem, associada ao mais desprezível vilão no rumoroso episódio.

Até o mais desatento cidadão desconfia da versão governista de que as especificações do prédio são a única razão para manter o contrato de aluguel. Motivos outros podem estar movendo as preferências palacianas. Resta saber qual serviço o dono do prédio prestou ao comunismo para fazer jus a tamanha exclusividade.

Editorial publicado nesta quinta-feira em O Estado do Maranhão

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