O Estado publica em sua edição de hoje uma notícia há muito tempo aguardada: a duplicação de toda a extensão do Campo de Perizes, trecho mais perigoso da BR-135 em território maranhense, onde já ocorreram inúmeros acidentes trágicos, com incontáveis mortes. A nova configuração da rodovia federal nos 19 quilômetros entre as duas pontes sobre o Estreito dos Mosquitos e o povoado Peris de Baixo, no município de Bacabeira, eliminou o risco de colisão frontal, o mais letal dos desastres automobilísticos, registrado com assustadora freqüência nas quase cinco décadas em que a divisão de pista se deu apenas por marcação no asfalto.
A construção de um canteiro central no Campo de Perizes faz parte de um projeto maior, a primeira fase da duplicação da BR-135, em uma extensão de 26,5 quilômetros entre Estiva e Bacabeira. Com a execução do projeto, os dois sentidos de tráfego estão devidamente protegidos entre si, diferente da realidade de outrora, em que veículos em direções opostas raspavam uns nos outros, quase sempre em velocidade excessiva.
Devido à circulação permanente de veículos pesados no Campo de Perizes, a probabilidade de acidente na pista não duplicada sempre foi alta. Os números jamais desmentiram a tendência do trecho de ser palco de tragédias. Em muitas ocasiões, o Maranhão foi abalado por mortes de famílias inteiras ou grupos de amigos que entravam em São Luís ou deixavam a Ilha para temporadas de lazer em carros de passeio. Mais frágeis, os automóveis eram literalmente esmagados por carretas, caminhões e ônibus. Foi essa a realidade sangrenta que perdurou por longo tempo na malha rodoviária federal do estado.
Vans do transporte alternativo também já se envolveram diversas vezes em desastres no Campo de Perizes. O saldo da irresponsabilidade ao volante combinada à insegurança da estrada sempre foi trágico ao extremo, produzindo cenas chocantes, que traumatizaram muitos dos que tiveram a infelicidade de testemunhá-las, mas não sensibilizaram as autoridades a tomar medidas ágeis para mudar o cenário fatídico.
Como se não bastasse a falta de divisão adequada de pista, o risco de acidentes no Campo de Perizes foi quase sempre agravado por buracos. A demora da manutenção em pontos com necessidade de intervenção custou número expressivo de vidas. Da mesma forma, a fiscalização falha contribuiu para que as estatísticas se mostrassem ainda mais assustadoras.
Para alívio dos viajantes e de toda a população, o Campo de Perizes já não é mais o mesmo. Se por muito tempo, trafegar em seu traçado foi sinônimo de medo e sobressalto, hoje, tem-se o alento, finalmente. Uma conquista justa, merecida e, acima de tudo, necessária à mobilidade, que deve ser um benefício, não uma ameaça à vida.
Editorial publicado nesta quinta-feira em O Estado do Maranhão.