A duplicação da BR-135, no trecho Estiva-Bacabeira, continua cercada de incerteza. Alegando a necessidade de reformulação do projeto atual, a pretexto de economizar R$ 140 milhões, a diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em Brasília, enviou um emissário ao Maranhão para anunciar que o órgão está disposto a adiar mais uma vez o início da obra. A proposta, classificada como indecorosa por autoridades locais, causou protestos no meio político e foi recebida com revolta pela população do estado tão logo foi tornada pública.
A intenção de mais uma vez postergar a duplicação da rodovia foi exposta em reunião realizada ontem, na Superintendência Regional do DNIT em São Luís. Na presença dos secretários estaduais Max Barros (Infraestrutura), Pedro Fernandes (Cidades), Ricardo Murad (Saúde), Victor Mendes (Meio Ambiente), do senador Lobão Filho e de outras autoridades, o diretor-executivo da autarquia, Tarcísio Gomes de Freitas, propôs ampliar o traçado junto à adutora do Sistema Italuís e não mais rente à Ferrovia São Luís/Teresina, operada pela Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN).
A proposta do DNIT foi rechaçada de forma unânime. Os gestores públicos maranhenses nem sequer cogitaram a mudança do projeto, argumentando que a alteração poderia resultar em um atraso de, no mínimo, dois anos, podendo chegar a três. Em vez disso, cobraram a conclusão da licitação iniciada em maio, que no momento está na fase de análise da única proposta habilitada, feita pelo consórcio Serveng/Aterpa. Com a recusa, espera-se que o processo avance e que a duplicação finalmente seja iniciada. Do contrário, ficará reforçada a impressão de desinteresse do Governo Federal em relação à obra.
Enquanto a burocracia oficial emperra a duplicação da BR-135, no Campo de Perizes, os acidentes continuam ocorrendo com frequencia no trecho, considerado o mais perigoso da rodovia. Com quase 20 quilômetros de extensão e apenas duas curvas, esse segmento da estrada há muito tempo entrou para as estatísticas mais sangrentas de acidentes de trânsito no país. Por isso, a lentidão da concorrência pública, que de hoje a exatos 15 dias completará três meses, soa como descaso.
A tentativa do DNIT de modificar o projeto, visando à economia de gastos, é algo preocupante. Orçada em R$ 370 milhões, a obra é apenas a primeira etapa de um projeto de engenharia grandioso, que consiste na duplicação de outros dois trechos: Bacabeira a Entroncamento (Itapecuru-Mirim) e Entroncamento a Miranda, totalizando cerca de R$ 100 km de uma nova rodovia. Ao alegar, de forma inesperada, que precisa economizar gastos na primeira etapa para possibilitar a execução da segunda, a autarquia deixa transparecer que a intervenção carece não só de recursos, mas, principalmente, de planejamento.
A cada dia, o fluxo de tráfego na entrada e na saída de São Luís se intensifica, tornando a duplicação do Campo de Perizes ainda mais urgente, sob pena de aumentar a carnificina. Se não há boa vontade do DNIT para executar a obra, como tudo indica, só resta às autoridades públicas e à população maranhense se manter vigilantes e exercer forte pressão.
Editorial publicado nesta quarta-feira em O Estado do Maranhão