A falta de entendimento entre os sindicatos das empresas e dos trabalhadores em transporte rodoviário de São Luís quanto à proposta de reposição salarial de 16% para motoristas, cobradores e fiscais é o prenúncio de um conflito que poderá resultar novamente em transtornos à população. Diante da irredutibilidade dos patrões em conceder o reajuste dos vencimentos no percentual pretendido pelos empregados, a ameaça de greve da categoria torna-se, a cada dia, mais concreta.
Em matéria publicada hoje em O Estado, o superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (SET), Luís Cláudio Siqueira, reafirma ser impossível atender o pleito dos empregados, alegando novamente que o sistema está à beira da falência. Do lado oposto, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de São Luís, Dorival Silva, que também foi ouvido, defende com firmeza as reivindicações da categoria, mostrando ser remota a chance de conciliação, pelo menos neste momento.
Tomando como base as greves de rodoviários ocorridas em anos anteriores, é evidente que a hipótese de uma nova paralisação é real. Todas as mobilizações anteriores tiveram como origem o desacordo entre patrões e empregados quanto ao atendimento de reivindicações salariais, de melhores condições de trabalho e outros benefícios. O clima atual é o mesmo, com o agravante da suposta falência alegada pelos empresários.
Apesar de o impasse apresentar-se a cada dia mais nebuloso, a Prefeitura de São Luís ainda não emitiu qualquer sinal de que tentará mediar uma solução. Mergulhada em uma crise de gestão, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT) não consegue sequer atacar problemas básicos, como as frequentes panes em semáforos e o contingente reduzido de agentes de trânsito para fiscalizar as vias públicas. Daí a dificuldade em lidar com uma situação muito mais complexa.
As duas entidades sindicais ora em litígio têm até o fim deste mês para tentar selar um acordo, já que a data-base dos rodoviários é maio. Para tanto, já definiram uma agenda de reuniões, que terá sua segunda rodada hoje, sem que tenha havido qualquer avanço até o momento. A partir das declarações dos dois dirigentes publicadas hoje em O Estado, um entendimento continua difícil. A não ser que os dois lados estejam dispostos a ceder, algo incomum quando se trata de negociação de salários e outros direitos trabalhistas.
Por ser uma medida extrema, a greve, em especial no caso dos rodoviários, é quase sempre resultado da intransigência das partes em conflito e da omissão do poder público, que em muitos casos deixa de exercer o seu papel de interlocutor. Ainda há tempo para evitar radicalismos e os inconvenientes que essa postura impõe aos milhares de usuários do sistema de transporte coletivo na capital.
Editorial publicado nesta quarta-feira em O Estado do Maranhão
Foto: Biaman Prado/O Estado do Maranhão