Semana Santa e violência

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Câmera de videomonitoramento na Igreja do Carmo

Centenas de milhares de cristãos celebram com mais ênfase, a partir de hoje, em São Luís, a Semana Santa. Antes dedicado muito mais a orações e atos de penitência como abstinência à carne vermelha e jejum, o período passou a ser marcado também por excessos, com rasgos de violência, com o passar dos anos. Que o diga o contingente cada vez mais numeroso de pessoas vitimadas por criminosos no feriado, inclusive fiéis nas igrejas e arredores.

Foi-se o tempo que a Semana Santa era considerada sagrada para a maioria da população. Hoje, o período é aproveitado por muitos um momento propício às práticas tidas como profanas, como festas regadas a bebedeira e todas as suas consequências nefastas. Os cidadãos que ainda insistem em seguir a tradição religiosa tornaram-se uma minoria a cada ano mais reduzida, tamanho o desrespeito ao calendário. Sentindo-se ultrajados, muitos simplesmente abandonaram a prática religiosa.

A retração dos fiéis pode ser constada nas missas, cultos, procissões e outros ritos que marcam a Semana Santa. As missas dos Santos Óleos, da Ceia do Senhor e do Lava Pés, a Via Sacra, a Procissão do Senhor Morto e demais manifestações que para os católicos simbolizam a paixão e a morte de Jesus Cristo registram queda de público todos os anos.

Preocupadas com a fuga dos devotos, as paróquias adotam diferentes estratégias para evitar um esvaziamento ainda maior, desde a alteração e cancelamento de missas em determinados horários até a contratação de segurança privada e instalação de videomonitoramento nas igrejas.

As investidas de bandidos contra os templos religiosos na Semana Santa também mobilizou as forças de segurança, que passaram a montar esquemas especiais para garantir que os fiéis exerçam sua fé com tranquilidade. A situação mostra-se a cada ano mais crítica, a ponto de a Polícia Militar destacar boa parte do seu efetivo para resguardar a integridade dos devotos e do patrimônio dos templos.

Não menos violento é o trânsito no período entre a Quinta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa. A imprudência, que em dias úteis já é elevada, atinge níveis absurdos no feriado prolongado. Colisões, atropelamentos, capotamentos e outras ocorrências envolvendo motoristas são registradas em alta escala nesses quatro dias. Potencializada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas e pela fiscalização precária, a irresponsabilidade resulta, invariavelmente, em um saldo sangrento.

Data mais importante do calendário cristão, a Semana Santa foi reduzida a mera desculpa para os mais diferentes excessos. De momento propício a orações, à reflexão sobre a vida e à convivência harmoniosa com o próximo, o período passou a ser marcado também por maior tensão social, antes associada muito mais ao Carnaval e ao São João, engrossando ainda mais as estatísticas de violência.

Editorial publicado em O Estado do Maranhão nesta Quinta-Feira Santa

Foto: Biaman Prado/O Estado do Maranhão

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