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Milhares de famílias que residem nas 62 áreas de risco mapeadas pela Defesa Civil municipal em São Luís voltam a viver o medo de uma tragédia com a proximidade do período chuvoso. Encravados em áreas de encostas ou de relevo baixo, bairros como Coroadinho, Sacavém, Alto da Esperança e Sá Viana estão muito mais sujeitos a desabamentos, deslizamentos, desmoronamentos e alagamentos e geralmente costumam sofrer de forma mais cruel as consequências das chuvas. Não raro, registram cenas de extremo desespero, inclusive com perda de vidas.
A apreensão de quem mora em áreas de risco é permanente. Assim que surgem os primeiros indícios de chuva, como céu nublado e ventos fortes e frios, fenômenos que se repetem a cada início de ano, a ameaça torna-se ainda mais real. Mesmo com o perigo, a imensa maioria dos cidadãos permanece em suas casas, muitos por ignorância e outros simplesmente por não terem para onde ir. O poder público, que deveria intervir de forma efetiva para evitar ou pelo menos amenizar o drama, quase nada faz, relegando as famílias à condição de vítimas potenciais de uma catástrofe.
A instalação de nove núcleos de defesa civil comunitária e a construção de barreiras de contenção em pontos considerados críticos, medidas preventivas adotadas em São Luís com vistas ao período chuvoso que se avizinha, são necessárias, mas não são o bastante. A Defesa Civil municipal poderia fazer muito mais, caso tivesse estrutura condizente com os problemas que tem que enfrentar todos os anos. Como os recursos são limitados, a atuação do órgão é capenga e se mostra inócua quando um temporal castiga os bairros ameaçados com mais intensidade.
A falta de ações efetivas contra catástrofes mostra-se ainda mais absurda quando se observa que o poder público tem, pelo menos, seis meses de estiagem para planejar intervenções nas áreas de risco na capital. Ao que parece, nem mesmo os graves acidentes registrados no passado foram capazes de ensinar aos gestores públicos locais que a prevenção é a medida mais sensata e que apresenta maior chance de garantir uma estação chuvosa livre de tragédias.
Como as ações do poder público deixam a desejar, resta à população redobrar a atenção e os esforços para tentar evitar o pior. Não basta apenas seguir as orientações da Defesa Civil. É preciso eliminar situações que representem perigo. Reconstruir ou demolir estruturas ameaçadas e, em casos extremos, deixar o imóvel durante a estação chuvosa são recomendados caso o risco seja visível. Manter-se informado também é importante, pois dá a verdadeira dimensão do problema com o qual se está convivendo.
Todos os anos, muitas famílias de São Luís vivem o drama de ter suas casas inundadas e até mesmo destruídas pela chuva. Estarrecidas, algumas pessoas se dispõem a ajudar as vítimas, enquanto outras apenas assistem, desoladas. A repetição ou não desse cenário vai depender do compromisso das autoridades com seus habitantes, em especial com aquelas que vivem em áreas vulneráveis.
Editorial publicado em O Estado do Maranhão neste sábado
Foto: Biaman Prado/O Estado do Maranhão