Uma questão de ordem

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Animador de loja usa megafone para atrair clientela, enquanto estudante mede nível de poluição sonora na Rua Grande

O nível elevado de poluição sonora registrado na Rua Grande, jamais reprimido com rigor pelos órgãos de fiscalização, chamou a atenção de uma estudante do curso de Geografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que abordará o tema em sua monografia. Logo em sua primeira incursão naquele ambiente, semana passada, a acadêmica Elaine Silva Rabanaque constatou que o nível de ruído ali proibido é pelo menos o dobro do que é considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Principal via do centro comercial de São Luís, a Rua Grande registra picos de poluição sonora de até 100 decibéis, duas vezes o limite tido como suportável pelo ouvido humano. As origens do barulho são diversas, assim como os males à saúde a ele associados. Expostas a ruídos produzidos pelo trânsito, por caixas de som, animadores de loja e aglomerações de consumidores, vendedores e camelôs, as pessoas ficam sujeitas a problemas como insônia, estresse, depressão, perda de audição, agressividade, perda de atenção e concentração, perda de memória, dores de cabeça, aumento da pressão arterial, cansaço, gastrite, úlcera, queda de rendimento escolar e no trabalho e surdez.

Diante de tantas conseqüências danosas ao organismo e à própria ordem urbana, é no mínimo intrigante a falta de ação dos órgãos ligados ao meio ambiente e até do Ministério Público. Por isso mesmo, o trabalho acadêmico, uma vez concluído e divulgado maciçamente, funcionará como um alerta às autoridades que, ao omitir-se a um problema tão grave, permitiram que a situação extrapolasse o limite do insuportável que temos hoje.

O único meio de coibir a poluição sonora é a postura implacável dos órgãos de fiscalização, que devem lançar mão de todos os recursos que dispõem para monitorar, evitar e punir os excessos. Ao adotar estratégias cada vez mais arrojadas para atrair clientela, o segmento do comércio muitas vezes ignora a legislação e o bom senso e comete abusos. Para que a situação não evolua para um cenário ainda mais caótico, só resta aplicar a lei com máximo rigor.

Por ser o ambiente de trabalho e local preferido para compras por milhares de pessoas, a Rua Grande acaba se tornando um centro de tensão, diante de sua complexidade e diversidade de problemas, sendo a poluição sonora um dos mais evidentes e danosos. Se a permanência por poucos minutos em meio a tanto barulho já é um incômodo, imagine a situação do trabalhador obrigado a encarar uma jornada de até 10 horas em um ambiente tão ruidoso. Certamente, um empregado exposto a tamanho desconforto produzirá menos e estará muito mais sujeito a falhas ao desempenhar suas funções. E não é exagero dizer que a médio e longo prazo, a tendência é que ele fique com a saúde abalada e simplesmente pare de produzir. 

Elevada à categoria de metrópole, São Luís, com seus mais de 1 milhão de habitantes, vem se deparando, nos últimos anos, com as conseqüências do desenvolvimento acelerado. Entre prós e contras desse processo, é inconcebível aceitar que o avanço venha acompanhado da desordem.

Editorial publicado nesta terça-feira por O Estado do Maranhão

Foto: Biaman Prado/O Estado do Maranhão

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