Neuropsicanalista diz que 2015 foi um ano complicado e, por essa razão, seu final é propenso a estados melancólicos
A crise e os problemas que marcaram 2015, sem dúvida, terão impactos na passagem de ano e agravarão os estados de espírito daqueles que, nesta época do ano, estão propensos a adentrar o terreno da melancolia. Foi o ano dos escândalos na política, das revelações bombásticas, das prisões inesperadas, da economia esvaindo-se no precipício e do desemprego e das dívidas que passaram a amedrontar os brasileiros como um fantasma. Tudo isso refletiu no lado sentimental das pessoas.
Segundo o neuropsicanalista Fabiano Goes, entre outras coisas, esses estados emocionais geralmente desencadeiam um sentimento de vazio e de perda de sentido das coisas. Manifesta-se ou se exacerba em alguns indivíduos, próximo ou durante as comemorações de fim de ano. As causas, não obstante, podem estar ligadas a conflitos psicológicos e relacionais silenciados ou negligenciados.
“A melancolia, dependendo da intensidade e da duração dos estados melancólicos, pode ter sérias implicações. E pode inclusive caracterizar uma patologia. Se for precedida por um evento verdadeiramente doloroso, se sua intensidade não comprometer a capacidade laboral do afetado, ou se tender a reduzir com o tempo, não é patológica. Entretanto, se surgir sem motivo plausível, comprometer o rendimento laboral do afetado e não se atenuar com o tempo, caracterizará uma doença”, explica Goes, acrescentando que há várias maneiras de tratamento, incluindo psicoterapia, psicofarmacologia e meditação.
Contudo, o mais recomendável é prevenir o seu aparecimento ou combatê-la em sua fase inicial. Como dizia Ralph Waldo Emerson, a modernidade gerou um estado de tensão permanente e dificilmente alguém sai ileso de seus tentáculos, sendo ela um terreno propício para o aparecimento ou o agravamento de debilidades e distúrbios psíquicos.
“A crise gera uma sensação de desamparo e perda de otimismo. Os que julgam que sua trajetória existencial encontra-se desordenada, em tempos de crise inclinam-se a prospectar futuros menos promissores e perdem ou diminuem o ânimo para o combate. As dívidas, as incertezas em relação ao futuro do país e o desemprego, tendem a agravar a situação, levando muitos ao desânimo e a uma tristeza que se agrava com a proximidade do Natal e da passagem de ano”, afirma o neuropsicanalista, acrescentando que os elementos agravantes são inaptidão para a reflexão e adoção de novas posturas, defesa, isolamento, retenção de mágoas e inabilidade no trato social, enquanto as atenuantes são apoio familiar, desejo de mudança, capacidade reflexiva, foco no positivo e combatividade.
O tipo de tratamento e sua duração dependem da natureza da melancolia. Se sua natureza for não-patológica, psicoterapia ou assessoria comportamental são suficientes para o enfrentamento, e os resultados vêm em um prazo mais curto. Se for de natureza patológica, o tratamento deverá englobar psicoterapia e psicofármacos (medicamentos que atuam no humor), e a duração excederá oito meses. Nos consultórios, o número de pacientes que sofrem desse tipo de melancolia aumenta a cada ano.
Conforme Fabiano Goes, até o comércio no geral está vivendo essa melancolia de fim de ano, uma vez que é mantido por pessoas que o operacionalizam, tanto como trabalhadores quanto consumidores, todos eles vítimas de um ano com problemas financeiros e políticos marcantes.
“Como a crise gera uma sensação de desamparo e perda de otimismo, obviamente, neste quadro, as pessoas tendem a ser mais tímidas em seus gastos, a não ver razão para comemorações e a criar reservas para possíveis pioras no campo financeiro. Sem falar que os desempregados, por questões práticas, não têm como contribuir intensamente para a movimentação do mercado”.