São Luís terá sua rotina sensivelmente alterada hoje com o início de mais uma greve dos rodoviários. Mesmo com a decisão da Justiça do Trabalho que determina a circulação de 70% da frota de ônibus da capital, tudo indica que os mais de 700 mil usuários do transporte público enfrentarão grave dificuldade para se locomover ao trabalho, à escola e outros destinos. A previsão é de caos, que se não for contido pode evoluir para a violência, como já foi registrado em paralisações anteriores.
Incapaz de intervir satisfatoriamente para o fechamento de um acordo entre empresas e trabalhadores do transporte rodoviário, a Prefeitura de São Luís tem grande parcela de culpa não só pela greve, mas também pelas consequências negativas que a falta de ônibus vier a provocar. Se não admite o reajuste das tarifas, o Município poderia oferecer compensações, como a fiscalização mais rigorosa do uso das gratuidades e até da meia passagem nos coletivos, cuja desvirtuação impõe sérias perdas financeiras às empresas, fator preponderante para a péssima qualidade do serviço e para impossibilidade de conceder melhorias aos empregados.
Ainda sobre a atuação da prefeitura, é inevitável apontar a negligência em relação à tão esperada licitação das linhas. Caso o processo já tivesse sido iniciado, teríamos menos tensão no sistema e a expectativa de melhorias. É preciso, portanto, quebrar esse tabu, que tão mal tem feito à capital. Abrir a concorrência pode significar o rompimento com uma estrutura decadente e repleta de vícios.
Sobre a greve propriamente dita, o que se espera é que o protesto transcorra de forma ordeira. Até porque já bastam os transtornos causados aos usuários e à própria rotina da cidade, que será marcada por prejuízos ao comércio e aos demais setores cujo funcionamento depende basicamente da presença maciça de mão de obra. Sem transporte regular, muitos trabalhadores deixarão de comparecer aos seus empregos ou chegarão atrasados, comprometendo a produção.
Há ainda o risco de depredação dos coletivos que estiverem circulando. Com a frota reduzida, a insatisfação dos usuários de ônibus, que já é elevada em condições normais, atingirá nível insuportável. Portanto, é fundamental a presença das forças de segurança para evitar quebra-quebra de coletivos e até agressões a motoristas e cobradores, como já ocorreu no passado.
A greve de hoje é resultado de um processo histórico de desmonte do transporte público de São Luís. É também mais um dos sucessivos fatos negativos que vêm arruinando o serviço, que de tão essencial deveria ser tratado com mais zelo, seriedade e competência pelas autoridades.
Editorial publicado nesta quinta-feira em O Estado do Maranhão