Uma questão de ordem técnica impediu, na última quarta (21), o lançamento do foguete sul-coreano, HANBIT-TLV, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), mesmo tendo sido cumpridos os passos previstos na contagem regressiva para o lançamento. Em publicação feita em seu site nessa sexta-feira (23), a Agência Espacial Brasileira (AEB) apresentou o real motivo que levou a equipe a abortar a missão.
O adiamento do lançamento ocorreu tendo em vista a perda de janela de lançamento. Na avaliação preliminar, não foram identificados problemas nem com o foguete, nem com o Centro de Lançamento. As equipes técnicas da INNOSPACE e do CLA passam, agora, a avaliar o que aconteceu para que o lançamento não ocorresse na data prevista.
O foguete passou em todos os testes de segurança e recebeu a aprovação para a fase final do voo, não apresentando problemas. É prematuro, portanto, dizer que pode ter havido falha de equipamento, de processo ou outra inconsistência de interfaces.
Sobre a Missão Astrolábio
A missão busca realizar o ensaio em voo do veículo sul-coreano e do Sistema de Navegação Inercial (SISNAV), carga útil brasileira a bordo.
Para que isso fosse possível, a INNOSPACE mantém um Acordo de Parceria Tecnológica com vigência de 48 meses. Nele está incluso o voo do HANBIT-TLV com o SISNAV e os voos de teste do HANBIT-Nano (lançador de 50 kg) e HANBIT-Micro (lançador de 150 kg).
Foi assinado, em abril deste ano, entre a empresa sul-coreana INNOSPACE e o Departamento Brasileiro de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), com apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB). Além disso, a empresa mantém um contrato com a Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE), com duração de cinco anos, para uso comercial. O contrato permite que a INNOSPACE possa ter um local de lançamento como ponto de partida para colocar satélites em órbita.
Foguete e carga útil
O HANBIT-TLV é um veículo de testes com 8,4 toneladas e 16,3 metros de altura, desenvolvido pela empresa INNOSPACE, que utiliza um sistema patenteado de alimentação por bomba elétrica, além de tecnologia híbrida, ou seja, com propulsão à base de oxigênio líquido e uma mistura de parafinas. Dessa forma, proporciona composição química estável, fabricação mais rápida e de menor custo.
Além disso, não existe impacto ambiental gerado pelo lançamento. Os gases emitidos se dissipam rapidamente na atmosfera ao longo do voo. Também não há impacto ao meio marítimo.
Já o SISNAV é um sistema inercial desenvolvido pelos militares e profissionais civis do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), que mandará dados de navegação para análise em Terra. A equipe técnica verificará se o sistema opera bem em ambientes reais, com variáveis extremas como vibração, choque e alta temperatura, que ocorrem em todo o processo desde a decolagem e durante o voo transatmosférico.
O SISNAV está inserido dentro do SISNAC (Sistema de Navegação e Controle) que fará parte do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), projeto este do IAE, apoiado pela AEB e dentro do Programa Espacial Brasileiro.
Sobre a INNOSPACE
A INNOSPACE é uma startup espacial sul-coreana, fundada em 2017. Tem como CEO, o engenheiro aeroespacial, Soo Jong Kim e fica localizada na cidade de Sejong, a menos de três horas da capital Seul (KR). Devido às relações com o Brasil, a empresa dispõe de subsidiária integral, localizada em São José dos Campos (SP). A INNOSPACE Brasil gerencia as operações de lançamento no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).
O seu objetivo é a fabricação de pequenos lançadores de satélites e serviços de engenharia aeroespacial. A empresa está desenvolvendo lançadores de pequenos satélites híbridos, movidos a foguetes (HANBIT), para fornecer serviços de lançamento que sejam confiáveis, de baixa latência e baixo custo, no mercado atual de pequenos satélites, que se encontra em rápida expansão, o chamado New Space.
Sobre o CLA
Inaugurado em 1991, na cidade de Alcântara, no Maranhão, o Centro de Lançamento de Alcântara completou 31 anos em 2022. O Centro possui tecnologia de ponta e coloca o Brasil em posição de vantagem no mercado espacial, em razão de apresentar as condições ideais para lançamentos.
O fato de estar próximo ao Equador permite o aproveitamento da velocidade de rotação da Terra, o que reduz a queima de propelente, gerando grande economia e tornando possível levar mais cargas úteis em cada lançamento. Sem contar que Alcântara apresenta condições climáticas favoráveis e, para completar, o Centro possui um azimute de 107 graus, que permite a mudança de planos orbitais sem a necessidade de mudar de local de lançamento.
Em um grande passo para o programa espacial, foram anunciadas, em 2021, as empresas selecionadas para realizar lançamentos de veículos espaciais orbitais e suborbitais, em Alcântara. O CLA tem se preparado para ser uma referência internacional, o que faz com o que Brasil tenha ainda maior participação no mercado espacial global, o que é essencial para o desenvolvimento tecnológico, econômico e de inovação.
Sobre a AEB
A Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão central do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (SINDAE), é uma autarquia pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), responsável por formular, coordenar e executar a Política Espacial Brasileira.
Desde a sua criação, em 10 de fevereiro de 1994, a Agência trabalha para viabilizar os esforços do Estado Brasileiro na promoção do bem-estar da sociedade, por meio do emprego soberano do setor espacial.