Maranhão registrou quase 13 mil casos de tuberculose em 5 anos

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Notificações vêm aumentando de maneira progressiva; só no ano passado foram 2.953 ocorrências

Médica verifica radiografia de pulmão de um dos seus pacientes

Por dois anos, P.O., 47 anos, tentou ignorar os sintomas da tuberculose. Fumante há décadas, ele acreditava que a tosse persistente era apenas um reflexo do hábito. “Sentia cansaço extremo, suava muito à noite e comecei a perder peso, mas nunca me senti à vontade para procurar ajuda. O medo do julgamento e da reação das pessoas me fez adiar a decisão de ir ao médico. Minha esposa insistia, preocupada, mas eu sempre dava uma desculpa”, relembra.

Com o tempo, sua condição piorou e até mesmo trabalhar se tornou um desafio. “Chegou um momento em que eu simplesmente não conseguia mais ignorar a situação. Minha saúde estava muito debilitada. Quando recebi o diagnóstico, já esperava, mas ainda assim foi um choque. O tratamento foi difícil, mas segui tudo à risca. Hoje, percebo o quanto foi perigoso adiar a busca por ajuda e quero alertar outras pessoas: quanto antes se inicia o tratamento, maiores são as chances de recuperação”, alerta.

A médica infectologista da Hapvida, Mônica Gama, alerta que o aumento dos casos de tuberculose no Maranhão reflete não apenas a alta carga da doença no Brasil, mas também a vulnerabilidade social da população. “A tuberculose está diretamente ligada às condições socioeconômicas, como moradia precária, desnutrição e trabalho inadequado”, explica. Além disso, fatores biológicos, como a redução da resposta imunológica em crianças pequenas e em pessoas com comorbidades, como HIV e diabetes, também aumentam o risco de contrair a infecção.

Outro fator que contribuiu para a identificação de novos casos foi a pandemia de COVID-19. “Muitas pessoas procuraram atendimento achando que tinham gripe ou COVID-19 e, com isso, conseguimos diagnosticar a tuberculose mais cedo”, destaca a especialista.

A principal medida de prevenção é a vacinação de todas as crianças com a BCG ao nascer. “Nenhuma criança deveria sair da maternidade sem ser vacinada”, alerta Mônica. Além disso, hábitos como cobrir a boca e o nariz ao tossir, manter os ambientes bem ventilados e evitar aglomerações ajudam a reduzir a transmissão da doença. Vale ressaltar a importância de procurar assistência médica ao sinal de tosses persistentes, para favorecer o diagnóstico precoce e evitar o agravamento da doença e a contaminação de outras pessoas. 

Cenário

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o Maranhão registrou 12.955 casos de tuberculose entre 2020 e 2024. O número de notificações aumentou progressivamente ao longo dos anos: em 2020, foram registrados 2.110 casos. Em 2021, 2.397. As estatísticas continuaram a crescer em 2022 (2.687 casos), 2023 (2.808 casos) e 2024 (2.955 casos). 

Para combater a doença, a SES tem intensificado ações de capacitação para profissionais de saúde e promovido campanhas de conscientização em todos os 217 municípios do estado. Também são realizadas buscas ativas de casos no sistema prisional e em comunidades indígenas, com o objetivo de agilizar tanto o diagnóstico quanto o tratamento. “O controle da tuberculose depende do compromisso de todos, desde a vacinação até a adesão ao tratamento adequado”, conclui a infectologista Mônica Gama.

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