Levantamento do Ministério da Saúde reforça a importância da prevenção e do tratamento adequado
“Eu nunca imaginei passar por uma situação assim. Quando soube que meu pai, com 76 anos, vivia com HIV, fiquei completamente em choque”, desabafou R.S. Seu genitor contraiu o vírus após um relacionamento e demorou a aceitar o diagnóstico, tomado por culpa e vergonha. “No início, foi muito difícil para ele, mas hoje entende que o tratamento é essencial e não há motivo para se envergonhar”, completou. Apesar das dificuldades, o idoso segue como um exemplo de coragem e resiliência.
Casos assim ilustram um fenômeno que preocupa especialistas. Nos últimos dez anos, os casos de HIV entre pessoas acima de 60 anos quadruplicaram, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2022, foram registrados 1.951 casos envolvendo esse grupo etário. No Maranhão, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) identificou 299 casos entre idosos nos últimos dois anos, com crescimento na faixa de 65 anos ou mais, de 69 para 78 diagnósticos entre 2023 e 2024.
Para o infectologista Yuri Eloy, da Hapvida Notredame Intermédica, diversos fatores explicam esse aumento. “A maior longevidade sexual, aliada ao uso de medicamentos como inibidores de disfunção erétil, tem permitido que os idosos mantenham uma vida sexual ativa. No entanto, jamais se pode negligenciar o uso de preservativos, que são indispensáveis em todas as etapas da vida”, afirmou.
Ele também ressalta a relevância da realização de campanhas educativas voltadas a essa população. “É importantíssimo dialogar com as pessoas idosas, que precisam se sentir incluídas nesse debate e conhecer os riscos relacionados às infecções sexualmente transmissíveis”, explicou.
Outro ponto crítico é o tabu em torno da sexualidade na terceira idade. Segundo Yuri, “muitos idosos evitam discutir questões de sexualidade com médicos ou parceiros, o que dificulta a identificação de ISTs e contribui para diagnósticos tardios”, acrescentou.
Prevenção é essencial
“É fundamental destacar a importância do uso de preservativos e da realização regular de testes de HIV”, defende o infectologista, que sugere também a promoção de ações em centros de convivência e grupos comunitários, como palestras e distribuição de preservativos. “Esses locais podem ser utilizados para ampliar o alcance da prevenção”, destacou.
A capacitação de profissionais de saúde também é um aspecto importante. Segundo Yuri Eloy, “treinar médicos, enfermeiros e psicólogos é essencial para que consigam sensibilizar os idosos sobre os riscos de manter uma sexualidade ativa sem o uso de preservativo”, apontou. Ele destaca ainda que a abordagem deve ser feita de forma sensível e sem preconceitos.
Cuidado integral para idosos com HIV
Para idosos que convivem com o HIV, o acompanhamento médico deve considerar tanto os aspectos físicos quanto emocionais. “A sensibilidade cultural e social é crucial para tratar questões como preconceito, isolamento social e discriminação”, enfatizou o especialista. Ele também chamou atenção para as comorbidades frequentes nessa população, como doenças cardiovasculares, metabólicas e ósseas. “Além de fazer o tratamento adequadamente, essa população exige acompanhamento frequente de especialistas, como geriatras e cardiologistas, para garantir qualidade de vida”, acrescentou.
Por fim, Yuri destacou a importância de redes de apoio para reduzir o isolamento social. Grupos de suporte para idosos vivendo com HIV podem ser uma ferramenta de grande ajuda, criando espaços de acolhimento e troca de experiências. “Promover o diálogo aberto sobre sexualidade e quebrar preconceitos é essencial para enfrentar esse problema”, concluiu o especialista.
Enquanto isso, R.S. segue ao lado do pai, garantindo que ele tenha acesso ao tratamento e suporte necessário. “Ele me ensina todos os dias que o amor e o cuidado são mais fortes do que qualquer doença”, finalizou, emocionada.