Aprenda, faça e repita: o valor do treino no dia a dia

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O poeta, cantor e compositor Zeca Baleiro dizia em seu sucesso Babylon: “Nada vem de graça, nem o pão, nem a cachaça”.  

Sábias palavras. Se você quer conquistar algo – entrar na faculdade, melhorar o abdômen ou aprender um idioma – será necessário se esforçar. Não há outro caminho. Muitas vezes subestimado, ou até mesmo esquecido, o treino de repetição é a pedra fundamental do sucesso em praticamente todas as atividades humanas. Aqui ou em Babylon.

O princípio básico é que quanto mais se repete, melhor se faz. Isso é bem claro na atividade física. Qualquer um que frequente uma academia percebe como funciona. No primeiro dia, você sofre nos aparelhos, o coração acelerado, os poros vertendo suor, e você se pergunta se não entrou acidentalmente em uma câmara de tortura. No entanto, com o passar do tempo, o exercício vai ficando fácil. Nesse momento seu instrutor aparece, aumenta o peso e… você volta ao sofrimento, mas desta vez com mais preparo e mais músculos.

Não é por acaso que se costuma referir aos exercícios de academia como ‘treino’. Porque é exatamente isso. Mas ele pode – e deve – ser estendido para outras atividades, físicas ou mentais.

Veja o aprendizado de línguas. Você pode ler e reler um livro de gramática inglesa e decorá-lo de ponta a ponta. Mas isso não te fará conseguir conversar com um gringo. É preciso treinar – falar, ouvir e escrever várias vezes, até que os sons, letras e significados sejam introjetados na sua cabeça. Quando chegar a esse ponto, seu amigo John começará a te entender – e você a ele.

Escrever também é uma atividade tipicamente dependente de repetição. Quanto mais alguém escreve, melhor consegue organizar suas ideias, e seu texto fica mais claro, coeso e agradável. Mas aqui há uma peculiaridade: você também consegue treinar sua escrita através de leitura. Quando lemos, o cérebro desconstrói o texto e absorve como ele foi feito, fato que com certeza te ajudará na próxima composição.

O treino de repetição vale também para jogos de cartas, como o adorado buraco ou o clássico blackjack. Um bom jogador entende seus parceiros e/ou estuda seus oponentes ao longo da sequência de rodadas. E então seu desempenho tende a melhorar, criando agradáveis momentos de entretenimento. Nem todo treinamento precisa acabar com você suado e ofegante.

Se você gosta de cozinhar, vai sentir na boca o valor da repetição. Quanto mais você prepara um prato, melhor ele tende a ficar – ainda que a receita não se altere. Com múltiplas tentativas, você pode perceber diferenças sutis no sal ou nos temperos, qual a melhor intensidade do fogo, quais as melhores marcas dos ingredientes. Há quem não abra mão de certos produtos, e isso é geralmente fruto da experiência que vem com o tempo. E com os elogios da família.

Filosofando um pouco, é possível dizer que o treino de repetição também é necessário na vida pessoal. Muita gente reclama, hoje em dia, que não tem amigos. Mas fazer amigos também é uma questão de treino. É preciso ter contato, conversar, conviver – repetidamente. Não há amizade que vá brotar do nada, só porque você quer.

O mesmo vale para um relacionamento romântico. No início, com as novidades e descobertas, tudo tende a fluir facilmente. Após algum tempo, quando um conhece melhor o outro, as coisas começam a ficar repetitivas. Muita gente acha que esse é o início do fim, mas, na verdade, é o início do treino.

Mas repetição não significa monotonia – quando você tem um objetivo. Se você quer fazer o relacionamento dar certo, abrace-o. Experiências vividas a dois, uma e outra vez, tendem a ser cada vez melhores, com mais prazer, mais compreensão e mais dedicação. Se você permitir, a repetição trará um enorme ganho de intimidade e cumplicidade. E isso é o abdômen trincado dos relacionamentos, é a proficiência escrita e falada no idioma do amor, é um dez com um ás no blackjack da vida a dois.

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