Por Adriano Sarney*
No último artigo ofereci uma alternativa à polarização política entre a esquerda e a direita, neste texto pretendo aprofundar essa tese. Partindo do pressuposto de que os extremos são iguais, intransigentes, o que o Brasil e o mundo precisam é de um caminho pelo centro, sensato, que dialoga, conversa e ouve as necessidades das pessoas. Esse caminho não se isenta de bandeiras e posicionamentos próprios.
ECONOMIA. O calcanhar de Aquiles do capitalismo é a desigualdade. Mas também a necessidade de manter o ânimo empreendedor da sociedade, o que o grande economista John Maynard Keynes chama de “espírito animal”, principalmente em períodos de crise como o que passamos. Por isso, a importância da presença do Estado na economia para criar regras em mercados que não se autorregulam, programas sociais para dirimir as desigualdades e gastos públicos para ativar os investimentos. Esse modelo forma um equilíbrio que se difere do liberalismo clássico ou do comunismo, dois extremos.
SOCIAL. Os programas sociais, quando bem elaborados, combatem a desigualdade, incentivam a educação, reduzem a criminalidade e influenciam na prevenção às doenças. Esses programas tem que ter um propósito, não basta apenas mandar um cheque para a casa do cidadão. No Brasil, o Bolsa Família foi criado para colocar as crianças na escola. Agora teremos o Renda Brasil a partir do cadastro gerado pelo “coronavoucher” e deve incluir 50 milhões de trabalhadores informais. O recurso sairá de benefícios já existentes como o BPC, Bolsa Família e o Seguro Defeso. Se o governo conseguir direcionar o auxílio para quem realmente precisa vai ser um avanço, caso contrário será um tiro no pé.
MEIO AMBIENTE. Essa área não trata exclusivamente da preservação e proteção de biomas. O Green New Deal (Novo Trato Verde), é uma resolução que busca combater alterações climáticas e a desigualdade econômica via investimentos massivos na transformação da matriz energética para 100% renovável e em mecanismos para zerar as emissões de carbono. Visa, também, a garantia de emprego, ensino público de qualidade, saúde universal, eficiência energética e investimentos no sistema de transporte elétrico. É uma proposta real de desenvolvimento sustentável.
HUMANITÁRIA. Chega a ser revoltante presenciar a politização em torno de avanços sociais que a humanidade vem lutando para conquistar. As lutas contra o racismo, a homofobia, o totalitarismo, e pela igualdade de gênero, por exemplo, foram transformadas em bandeiras políticas dentro da atual polarização. Como pode alguém usar a #BlackLivesMatter como bandeira política? Ou usar o anti-fascismo e ser taxado como esquerdista? No outro extremo, quem defende a família e tem fé em Deus é necessariamente um conservador de direita? A liberdade de pensamento, de religião, a democracia e o respeito pelo direito de igualdade, são conquistas irrevogáveis da humanidade e não de um partido ou movimento.
Aplicar as melhores soluções sem preconceitos e com diálogo: ideias de economia de mercado para gerar empregos, defender programas sociais para reduzir a desigualdade, combater injustiças e preconceitos para garantir a igualdade dos cidadãos, cuidar do meio ambiente para ter qualidade de vida, são ações que devem caminhar juntas, não separadas. Por não ter amarras extremistas, é no centro, com um passo à frente, no equilíbrio, onde os problemas são resolvidos.
**Deputado Estadual, Economista com pós-graduação pela Université Paris (Sorbonne, França) e em Gestão pela Universidade Harvard.
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