Por Roberto Veloso
O hino da Cidade de São Luís é belíssimo e retrata bem a vocação da capital maranhense. Foi escrito em 1977 pelo poeta Bandeira Tribuzi, nascido José Tribuzi Pinheiro Gomes em 2 de fevereiro de 1927.
Coincidentemente, sua morte ocorreu em um dia de aniversário da cidade natal, em 8 de setembro de 1977.
A poesia deixada em louvor à Ilha do Amor pode ser analisada estrofe por estrofe como um discurso do poeta aos seus atuais moradores, pedindo que olhem para a cidade e não a deixem padecer frente às adversidades. É preciso atender às palavras contidas no hino.
O poeta pede para a cidade deixá-lo viver. Para dar efetividade a essa solicitação é preciso criar emprego e renda. Meios de subsistência adequados para uma população de cerca de um milhão de habitantes. Há um número cada vez maior de desempregados, exigindo que haja políticas públicas voltadas para trazer as pessoas para o mercado de trabalho.
Ele também quer aprender, não só ele, mas uma parcela considerável de pessoas que estão sem acesso à educação. Segundo dados do TRE, mais de cem mil pessoas precisam concluir o ensino fundamental na capital maranhense.
O sol e o mar fazem parte do cotidiano ludovicense. O mar precisa de cuidado. As praias estão cada vez mais impróprias para o banho. Apesar das placas indicativas, muitos do povo continuam a mergulhar nas águas salgadas das praias.
A ausência de um sistema de tratamento de esgotos eficiente tem afastado o turista das belas praias da Ilha. Mesmo São Luís sendo a porta de entrada aérea dos Lençóis Maranhenses, pouco tem ficado aqui. Não há uma interação entre o turismo de Barreirinhas e Santo Amaro com a capital.
É necessário dizer que o turismo interno entre as cidades do interior do estado e a capital é muito deficiente, faltando atrativos capazes de incentivar o deslocamento, entre eles a qualidade da água do mar e a limpeza das praias. Por falar em limpeza, não raro tem-se visto cidadãos engajados em campanhas de retirada do lixo na Litorânea.
Não é demais dizer que a periferia urbana é a mais sofrida e desassistida. Talvez por isso, o autor do hino da capital tenha se referido ao gemido dos tambores do Congo “a evocar martírios, lágrimas, açoites que floriram claros sóis da liberdade”.
O poeta estava a vaticinar a degradação dos espaços urbanos, a falta de cuidado com as vias públicas e calçadas, a dificuldade do transporte público de qualidade, a insegurança nas moradias e o caos do serviço de saúde.
E um dos principais temas da poesia: as ruas, fontes, cantarias, torres, mirantes, igrejas e sobrados do combalido Centro Histórico. São Luís foi planejada pelo português Francisco Frias de Mesquita, engenheiro-mor do Estado do Brasil, em 1615, logo após a expulsão dos franceses, que a fundaram 1612, para ser uma cidade fortificada.
É uma riqueza inigualável,possuída por poucas cidades no mundo. São mais de mil imóveis, em uma área aproximada de 60 hectares, tombados pela Unesco e titulada como Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Uma de suas características marcantes são os azulejos guarnecendo as fachadas das residências e comércios, em uma típica herança da colonização portuguesa.
Infelizmente, esse patrimônio está sofrendo há tempos. Restaurá-lo e fornecer segurança para os que desejarem habitá-lo será um presente para a cidade. Todos ganharão e o hino de louvação a São Luís será cantado em homenagem à cidade como sonhou o poeta.
*Ex-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE