Manifestação folclórica mais popular do Maranhão, Patrimônio Imaterial do Brasil e candidatíssimo ao título de Patrimônio Cultural Imaterial Mundial, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Tantos predicados não têm livrado o bumba meu boi de maus tratos, na forma de repressão policial e consequente violação da sua tradição, cometidos justamente por quem deveria atuar para preservar sua identidade e originalidade.
A pré-temporada junina deste ano tem sido marcada por episódios lamentáveis envolvendo o Boi da Maioba e as forças de segurança pública, que não mais têm permitido que o grupo realize seus ensaios até o amanhecer, como é de costume há décadas. Contrariando a vontade da diretoria do batalhão maiobeiro e dos milhares de adeptos que comparecem às prévias da brincadeira, a Polícia Militar mantém rígido controle sobre os horários das festas, encerradas de forma abrupta em pleno auge da animação, um verdadeiro atentado à cultura popular.
A repressão ao Boi da Maioba é um fato emblemático em meio à crise de desvalorização que o segmento cultural amarga nos últimos anos. A pretexto de conter a violência, o atual governo adotou como estratégia limitar horários de festas e até mesmo vetá-las, quando deveria empregar a força e a inteligência policiais para atacar diretamente a bandidagem, não agir com base na suposição de que esse ou aquele evento poderá ensejar atos de criminalidade.
Trata-se de um grave equívoco, que gera impacto negativo não só para a cultura propriamente dita, mas também para toda a cadeia econômica fomentada pelas festividades da temporada pré-junina, como os ramos de alimentos, bebidas e transportes de passageiros por táxis, vans, veículos acionados por aplicativos de internet e até pelos populares carrinhos. São milhares de trabalhadores que outrora dispunham desse nicho de mercado para incrementar seu faturamento e agora estão privados desse ganho extra.
Obrigado a adiar ensaios e até a alterar os locais das prévias, em algumas ocasiões, devido à opressão oficial, o presidente do Boi da Maioba, José Inaldo Ferreira, já fez sucessivos apelos ao governo, ao qual estão subordinadas as forças policiais, para que a tradição do bumba boi seja respeitada. Em nome de todos os grupos do sotaque de matraca, o dirigente maiobeiro chegou a solicitar à Secretaria de Segurança Pública que fosse expedida autorização por escrito para que os ensaios se estendam até as 6h, mas, em vez de sensibilidade, prevaleceu a truculência.
Em comunicado distribuído esta semana aos demais membros da diretoria e aos adeptos e simpatizantes do Boi da Maioba, José Inaldo anunciou o adiamento de mais um ensaio, atribuindo novamente a mudança na agenda à limitação do horário pela polícia. Abatido com o que chamou de abuso de autoridade, ele lamentou estar diante do maior obstáculo enfrentado pelo batalhão, que este ano comemora 121 anos de fundação.
A repressão ao bumba meu boi é mais uma forma de perseguição ao povo perpetrada pelo governo comunista. Se antes, a pré-temporada junina era o aquecimento para a explosão de alegria que tomava conta do Maranhão durante a maior festa popular do estado, hoje, nada mais é do que o prenúncio de mais um fiasco.
Editorial publicado nesta quinta-feira em O Estado do Maranhão