2018, ano do laicato

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Por Natalino Salgado*

Para Natalino Salgado, corrupção só será erradicada com a prática dos ensinamentos do Evangelho

Com o lema “Sal da terra e luz do mundo” (Ev. De Mateus 5,13 – 14) a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em seu Documentos da CNBB 105, sugere que o ano de 2018 seja dedicado ao laicato, que significa o conjunto de homens e mulheres leigos, ou seja, sem título nenhum, mas com profundo amor pela causa de Deus, de onde provém a fé de que vivem imbuídos em seu cotidiano marcado pelos desafios que as muitas necessidades existenciais impõem.

O texto sagrado citado no primeiro parágrafo destaca parte do discurso de Jesus que contém as famosas “bem-aventuranças”. Um discurso para o povo comum, homens e mulheres que o buscavam pelas suas necessidades, mas também porque recebiam palavras de vida eterna. As palavras “terra” e “mundo”, contidas na fala de Jesus, apontam para o espaço físico onde a espiritualidade convida à existência, não no plano abstrato das intenções e boas vontades que não se concretizam.

Será que é demais imaginar que a primeira palavra nos fixa em nosso espaço próximo, aquele das relações íntimas e fraternas? Na terra nos ancoramos, construímos referências e vivemos. Aí também espalhamos os valores que o sal invoca, o de preservação daquilo que é permanente, que concilia, que pacifica, porque conciliação e paz distantes não edificam comunidades solidárias. A luz vai longe, é rápida, não esmorece e, obviamente, espanta as trevas. O mundo é vasto e múltiplo e não se ilumina, se no espaço íntimo da terra, não se realiza a espiritualidade que se importa com o próximo, nem se esconde na indiferença ou por comodidade.

Mais do que nunca, precisamos de pessoas que façam a diferença em nossa sociedade com seus exemplos de retidão e probidade. Uma das maiores chagas de nosso país, a corrupção, só será erradicada com o compromisso de todos com valores que o Evangelho dita para nossas vidas. O efeito da corrupção, aliás, se mostra mais deletério do que qualquer doença, porque afeta o desenvolvimento de um país, ultrapassando a mera questão criminal. A corrupção produz efeitos sistêmicos. Seu alcance perdura no tempo e as medidas de combate pedem o envolvimento do conjunto da sociedade.

Se cada leigo se afirmar como sal e luz em seus grupos, em seus trabalhos e em suas famílias, inevitavelmente teremos um mundo melhor. Um mundo em que fome, corrupção, violência e falta de assistência sejam apenas resquícios de um passado distante.

A poetisa Helena Kolody afirmou que a beleza é a sombra de Deus no mundo. Grande verdade. Mas acredito que sua bondade, misericórdia e compaixão se manifestam nos gestos, desde os mais simples até os grandiosos, realizados pelos seres humanos. Quando estes ajudam uns aos outros, estão manifestando, inevitavelmente, a graça de Deus.

O Papa Francisco, em carta enviada ao Brasil, a propósito do ano do laicato, conclamou os leigos brasileirosa se engajarem no que chamouuma nova saída missionária. “Não se trata simplesmente de abrir a porta, para que venham, para acolher, mas de sair porta fora, para procurar e encontrar”, exortou. Tratar-se de um servir ativo, protagonista, resgatador.

A seara é grande, disse Jesus, e não há ceifeiros suficientes, assim são os leigos em sua militância que levam as boas novas e a vivenciam. Eles são como as radículas de uma grande árvore que chamamos igreja. Penetram fundo na terra para alimentar tronco, folhas e frutos que, por sua vez, abrigam, alimentam e protegem.

*Professor Titular de Medicina da UFMA, Chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da UFMA, Coordenador da Pesquisa Clinica em Nefrologia do HUUFMA, Coordenador da Liga de Afecções Renais do HUUFMA

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