Mesmo com o sistema estadual de saúde mergulhado em grave crise, com direito a reportagem veiculada neste domingo, em tom de escândalo, pelo Fantástico, da Rede Globo, o governador Flávio Dino (PCdoB) segue tomando medidas controversas na área. A mais nova decisão do comunista é a reforma de uma clínica particular, em um bairro nobre de São Luís, com gasto de quase R$ 1 milhão em recursos do Estado, a pretexto de adaptar o imóvel para abrigar o setor de ortopedia antes instalado no Hospital Geral Tarquínio Lopes.

O prédio em questão é onde funciona a Clínica Eldorado, situada no Jardim Eldorado, bairro vizinho ao Turu, formado por mansões, endereço de endinheirados, entre os quais políticos, empresários, magistrados, representantes do Ministério Público e profissionais liberais muito bem sucedidos.

O valor da reforma é de R$ 903 mil, a serem pagos à construtora Peniel Indústria e Comércio LTDA. e Engetech, contratada pelo governo para executar a obra. O prazo de conclusão do serviço é de 90 dias.

Detalhe: a Clínica Eldorado fica em uma área de difícil acesso a pessoas com problemas ortopédicos, muitas das quais com limitações no aparelho locomotor. O local é servido por apenas uma linha de ônibus (Recanto Fialho) e, caso não estejam dispostos e/ou não disponham de transporte próprio, os doentes serão obrigados a percorrer, a pé, um trecho de quase 500 metros entre a Avenida São Luís Rei de França, onde há maior oferta de coletivos, até a unidade de saúde. Tantos obstáculos aos pacientes tornam o aluguel e a reforma escolhas, no mínimo, questionáveis.

Escândalo

Em reportagem de oito minutos e meio, exibida no quadro “Cadê o Dinheiro que Estava Aqui?”, o Fantástico esmiuçou o esquema que resultou no desvio de mais de R$ 1 bilhão da saúde pública estadual no Maranhão, via Instituto de Desenvolvimento e Apoio à Cidadania (Idac). Seu presidente, Antônio Augusto Silva Aragão, também presidente do PSDC local, foi preso na Operação Rêmora, deflagrada em São Luís, no último dia 2, pela Polícia Federal, com apoio da Controladoria Geral da União (CGU).

Outras quatro pessoas também foram detidas, Houve, ainda, a apreensão de R$ 644 mil em dinheiro vivo e de nove carros de luxo. Somadas as cifras depositadas em contas bancárias dos suspeitos, que foram bloqueadas, e imóveis a eles pertencentes, o rombo nos cofres públicos chega a R$ 12 milhões. Mas o prejuízo é muito maior, pois a PF investigou que uma quantia entre R$ 400 mil e R$ 600 mil cujo destino era a saúde eram sacados mensalmente e que um único operador do esquema chegou a sacar R$ 18 milhões, entre idas e vindas ao banco.

Diante do rombo de R$ 1 bilhão na saúde descoberto pelas autoridades e da repercussão nacional do desfalque, a reforma de uma clínica particular ordenada pelo governador é, no mínimo, uma afronta aos maranhenses.