Luto na polícia

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Corpo do PM foi sepultado em clima de comoção (Foto: Flora Dolores/O Estado)
Corpo do soldado PM foi sepultado em clima de comoção (Foto: Flora Dolores/O Estado)

Uma cerimônia realizada ontem no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, no Calhau, simbolizou um drama cada vez mais presente entre os maranhenses: o assassinato de policiais por criminosos. O caso mais recente aconteceu no último sábado, quando um soldado da PM foi morto ao reagir a uma tentativa de assalto a um açougue, na Avenida Guajajaras. Somente em São Luís, sete PMs já tombaram este ano em confronto com bandidos, estatística que evidencia a audácia crescente do crime diante da ação repressora das forças de segurança pública.

O soldado Dezivaldo Costa dos Santos, 37 anos, o último militar a ser executado, fazia trabalho extra como segurança particular. Como ele, tantos outros recorrem aos “bicos” nos dias de folga para aumentar a renda. Se quando estão em serviço os policiais já não são mais tão temidos como antes pelos bandidos, imagine trabalhando fora do expediente, na maioria das vezes, sozinhos, confiando apenas na preparação que tiveram na caserna. E o que é pior: tendo contra si o fator surpresa, principal trunfo dos criminosos, que quase sempre agem em grupo e fortemente armados quando sabem que o estabelecimento que irão assaltar é vigiado por um profissional de segurança pública.

Além de deixar as famílias e os colegas de farda de luto, o assassinato de policiais é um atentado gravíssimo contra a sociedade, que fica ainda mais intimidada pelo crime. A bandidagem, por sua vez, passa a se sentir fortalecida e com ímpeto renovado para promover o pânico entre os cidadãos. Diante de um fenômeno tão negativo, a única resposta que se espera é o rigor das autoridades, com pleno amparo na lei, para neutralizar a violência, de modo a punir os autores e restabelecer a paz.

Não é novidade que muitos policiais aproveitam as folgas para complementar a renda e ter uma vida mais digna. É uma aspiração justa a qualquer cidadão, mas é importante deixar claro que a atividade representa uma violação às normas que regem a carreira militar. Em meio à polêmica, o que se percebe é a aceitação dos “bicos” pelo alto comando da PM, que reconhece a defasagem salarial dos profissionais, mas ignora as consequências do trabalho extra para a tropa e para a própria coletividade.

Cada vez mais organizado, o crime já não mede esforços para atingir seus alvos. Em assaltos, por exemplo, bandidos usam carros e motos roubados e armas de grosso calibre, tudo para aumentar a chance de sucesso. Se encontram um policial em seu caminho, lançam mão de todo o seu aparato para enfrentá-lo. Chama atenção a divisão de tarefas pelas quadrilhas, que dificulta a reação das vítimas e as deixam expostas à crueldade e à covardia que costumam marcar as investidas. Foi o caso do militar morto no último sábado, atacado pelas costas após ter matado um dos três criminosos que o abordaram.

Felizmente, a morte de policiais é uma exceção. A regra ainda é a prisão ou mesmo a morte dos bandidos que ousam enfrentá-los. Mas como é crescente o número de empresas que recorrem aos serviços de policiais para proteger o seu patrimônio, a tendência é que haja novos casos. Daí a necessidade de uma ação mais enérgica das forças de segurança pública, para que evitar que a situação se inverta.

Editorial publicado nesta terça-feira em O Estado do Maranhão

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