Após um período de aparente estabilidade, em que o cuidado em seguir as medidas de prevenção levou a um recuo do número de casos, a Aids volta a assustar a população de São Luís. É o que atesta a coordenação do Programa Municipal de DST/Aids, que diante do quadro alarmante chegou a solicitar ao Ministério da Saúde a instalação de um comitê de crise para acompanhar de perto a situação, a fim de conter o avanço da doença na capital e nos demais municípios da região metropolitana.
Para se ter ideia da gravidade, tem sido registrada uma média de 60 casos de transmissão do vírus HIV por mês em São Luís. O número é considerado recorde pelas autoridades de saúde, que alertam que o cenário atual remete ao que se vivia há 30 anos, quando surgiram os primeiros registros de Aids no Brasil. Portanto, a capital do Maranhão experimenta um retrocesso, uma situação ao mesmo tempo preocupante e vergonhosa.
Desde 1985, 3.098 casos de Aids já foram diagnosticados em São Luís. Como a média, atualmente, é de 60 testes positivos por mês, ou 720 por ano, constata-se que o ritmo de contágio aumentou substancialmente. Se a tendência se mantiver nos próximos 28 anos – período idêntico ao decorrido desde o primeiro registro da doença na capital – haverá uma alta assustadora. Daí a necessidade de ações emergenciais, com o objetivo de frear o avanço do vírus HIV.
Diante da tragédia anunciada, Governo Federal, Governo do Estado e Prefeitura firmaram um pacto que prevê a adoção de uma série de medidas de prevenção e tratamento da Aids, que matou 442 pessoas na capital entre 2009 e 2012 e ocupa o primeiro lugar entre as doenças infecciosas que mais causaram óbitos em São Luís no período. Uma das providências anunciadas é o aparelhamento de um hospital, de modo a torná-lo referência no atendimento a portadores do HIV. Está prevista ainda a compra de mais medicamentos contra o vírus, já que o estoque disponível atualmente na rede pública de saúde é insuficiente.
Números divulgados este mês pelo Ministério da Saúde colocam São Luís como a quinta capital do país em casos de Aids diagnosticados (até novembro era a sexta, o que indica piora nos índices). Outro dado novo, dessa vez, favorável, mas nem tanto: a cidade passou do primeiro para o segundo lugar do Nordeste em quantidade de pacientes soropositivos. No topo do ranking, agora, está Ipojuca, município da região metropolitana de Recife (PE).
Os homens ainda lideram as estatísticas de contágio pelo vírus HIV em São Luís. Do total de pessoas infectadas, 66% são do sexo masculino e 34% pertencem ao sexo feminino, embora os últimos levantamentos mostrem o aumento do contágio de mulheres. Os dados exibem um panorama alarmante e são particularidades de um fenômeno que se não for contido pode causar ainda mais estragos.
Editorial publicado nesta sexta-feira em O Estado do Maranhão