A Prefeitura de São Luís parece fazer pouco caso com o drama dos mais de 740 mil usuários do transporte público da capital. Além de não adotar as providências necessárias ao bom funcionamento do sistema, como a melhoria das vias e a licitação das linhas, a administração municipal deixa de executar serviços básicos como substituição e recuperação de abrigos em vários pontos da cidade. Há paradas de ônibus sem cobertura, sem assentos, sujas e até destroçadas, a exemplo da instalada próximo à escola municipal Ciep, na Avenida dos Franceses, na Alemanha, parcialmente destruída no último domingo por um carro desgovernado e que até hoje está na mesma situação.
Devido à complexidade do sistema, as ações com vistas à melhoria do transporte público devem ser adotadas em várias frentes. O problema é que a prefeitura não consegue agir com eficiência em nenhuma delas. Uma prova é incapacidade de recuperar as vias destinadas ao tráfego de ônibus, quase todas congestionadas, esburacadas e mal sinalizadas. O péssimo estado de conservação da frota é outro incômodo cuja solução não se vislumbra. Da mesma forma, a superlotação dos coletivos, que atormenta o dia a dia dos usuários, parece incorrigível.
Voltando aos abrigos danificados, há mais exemplos que evidenciam o descaso com a comodidade e a segurança dos cidadãos que usam ônibus como meio de locomoção. Um deles é a parada em frente ao antigo Cine Monte Castelo, na Avenida Getúlio Vargas, atingida por um coletivo há mais de dois meses. Apesar do longo tempo decorrido, a estrutura ainda não foi substituída. A prefeitura não se prontificou sequer a consertá-la, a fim de devolver aos usuários o mínimo conforto.
O descaso também pode ser constatado em um abrigo instalado na Avenida Jaime Tavares, entre o Terminal de Integração da Praia Grande e o espaço do Aterro do Bacanga onde funciona uma feira livre. Assim como as duas já citadas, a estrutura foi atingida por um veículo e jamais foi recuperada. Não há outra explicação para a não execução de serviços tão básicos senão a falta de compromisso público. Por isso mesmo, a reação cada vez mais indignada da população é perfeitamente compreensível e justificável.
Em audiência pública, ontem, na Câmara de Vereadores, o novo secretário municipal de Trânsito e Transportes, Carlos Rogério Araújo, apresentou um plano de ações que, se executado da forma como foi concebido, solucionará o problema da mobilidade urbana em São Luís. O projeto prevê, entre outras melhorias, a licitação das linhas, a criação de um corredor exclusivo para ônibus e a construção de um novo anel viário. Espera-se que não seja um item a mais na já extensa lista de promessas que marcam a gestão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PTC) nestes primeiros oito meses.
O caos no transporte público da capital já extrapolou todos os limites. O sistema está permanentemente sob o risco de um colapso e é alvo de críticas não só dos usuários, mas também de motoristas e cobradores, que alegam falta de condições de trabalho. Não menos insatisfeitos, os empresários se queixam constantemente de uma suposta crise financeira e, com base em tal argumento, restringem investimentos, o que fere gravemente o direito de ir e vir dos cidadãos.
Diante da complexidade do problema e da incapacidade da Prefeitura em resolver questões simples, a perspectiva ao transporte não é das melhores. O caos que impera no sistema impõe à administração municipal um grau de dificuldade extremo, que só será superado com dose extra de competência e disposição, virtudes que a atual gestão não demonstrou até agora.
Editorial publicado nesta quarta-feira em O Estado do Maranhão