A droga no cotidiano

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Jovem aborda motorista em trecho semaforizado no retorno do São Francisco
Jovem aborda motorista em semáforo no retorno do São Francisco em busca de trocados (Foto: Biaman Prado)

São Luís é palco diário de cenas degradantes envolvendo usuários de drogas. Os pontos mais críticos são retornos, cruzamentos e imóveis abandonados, onde dependentes químicos, grande parte adolescentes, intimidam cidadãos e põem a própria vida em risco para manter o vício. Na tentativa de amenizar o drama, a polícia vem realizando operações periódicas de remoção de drogados para centros de tratamento, iniciativa que até o momento surtiu pouco efeito.

A mais recente operação foi realizada na última quarta-feira, na Praia Grande, Barreto, Maranhão Novo e Cohama. Nos quatro bairros, foram flagradas pessoas usando drogas em pleno espaço público. Vinte e cinco foram recolhidas para o Centro de Assistência Social – Álcool e Drogas (CAPSad), mas não há qualquer garantia de que elas continuarão o tratamento, que é opcional. Na verdade, a grande maioria dos dependentes retorna aos pontos que ocupavam, onde o contingente de usuários é cada vez maior.

Completamente dominados pelo vício, os dependentes cometem todo tipo de abuso para conseguir droga. O mais comum é a intimidação a motoristas, principalmente mulheres. Muitas têm pavor de passar em trechos com semáforos, onde um grande número de usuários se concentra a pretexto de limpar para-brisas de veículos em troca de moedas, usadas quase sempre para comprar crack, o entorpecente mais consumido atualmente na cidade. Os principais pontos são os retornos da Forquilha, da Avenida Guajajaras, do São Francisco, Avenida dos Franceses (próximo ao elevado Alcione Nazareth) e Avenida Colares Moreira, nas imediações do Marcus Center.

Imóveis abandonados e vias carentes de urbanização vêm sendo transformados em verdadeiras “cracolândias” há anos. Nesses locais, predomina a indignidade. Além de usar drogas abertamente, usuários cometem furtos e assaltos, se agridem, dormem ao relento e em alguns casos morrem assassinados ou em decorrência do uso excessivo de crack e outras substâncias. Quem assiste às cenas fica chocado com a gravidade do problema, que apesar de já ter sido incluído entre as prioridades dos sistemas de segurança e de saúde pública, ainda está longe de ter uma solução.

Em relação aos centros de reabilitação, é preciso criar condições para que esses espaços cumpram realmente sua finalidade. E isso só será possível com investimentos maciços e comprometimento com a causa. A formação de profissionais qualificados para lidar com a dependência química é outra providência fundamental. Por sua complexidade, a questão da droga requer medidas drásticas e precisas, plenamente adequadas à realidade.

O recolhimento de dependentes químicos das vias públicas é uma iniciativa válida, mas não é o bastante para enfrentar com êxito a situação. É preciso que os governantes ampliem as frentes de atuação, seja na forma de campanhas preventivas, seja impondo combate mais agressivo ao tráfico. Diante da pouca efetividade das ações, a tendência é que sociedade continue assistindo, estarrecida, à degradação humana provocada pelas drogas.

Editorial publicado neste sábado em O Estado do Maranhão

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