A reação de populares à operação deflagrada ontem pela Polícia Federal para desocupar 3.100 casas invadidas no Residencial Nova Terra, em São José de Ribamar, provou que há um grupo na Ilha de São Luís disposto a ir às últimas consequências para transgredir a lei e as normas de civilidade. Ignorando a decisão da Justiça Federal que determinou a desocupação das casas, invasores chegaram a bloquear a entrada do conjunto e enfrentaram os policiais com pedras, pedaços de pau e até rojões, gerando um conflito que por pouco não evoluiu para uma situação mais grave.
Cerca de 12 mil pessoas vinham ocupando o Nova Terra ilegalmente desde março deste ano. De cada quatro casas do conjunto residencial, financiado pela Caixa Econômica com recursos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, três abrigavam invasores. Muitos já se achavam donos dos imóveis e até já haviam feito benfeitorias nas habitações. Mesmo sem amparo legal, contrataram advogados para tentar evitar a expulsão. Tudo em vão, pois enquanto os invasores elaboravam o plano de resistência, uma força-tarefa composta por representantes da Caixa Econômica, Justiça Federal, Polícia Federal, Ministério Público Federal, Defensoria Pública Federal e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA) definia, cautelosamente, cada detalhe da desocupação.
Boa parte dos invasores deixou os imóveis ainda na etapa de notificação, há duas semanas. Muitos outros, inconformados, decidiram, de forma inconseqüente, permanecer nas casas até o último instante. Resultado: a PF, com apoio da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), teve e ainda terá muito trabalho para expulsá-los. Como medida extrema, os policiais usaram balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta para dispersar os manifestantes. Várias pessoas, entre as quais algumas crianças, precisaram de atendimento médico após inalar gás lacrimogêneo. Felizmente, ninguém sofreu dano físico grave.
Cerca de 700 imóveis foram desocupados no primeiro dia da operação. Devido às dimensões gigantescas do Residencial Nova Terra, que tem 4.250 moradias, foi estabelecido prazo até o próximo dia 31 para que a reintegração de posse seja concluída. Todo o cuidado será pouco até lá, já que muitos invasores insistem em permanecer nas casas, apesar da decisão da Justiça, da presença da polícia e do fato de a Caixa já ter montado stands na entrada do conjunto para assinar contratos com os donos legítimos dos imóveis.
Dezenas de casas do conjunto foram alvos de depredação. Portas, janelas, pias e até aparelhos sanitários foram quebrados ou furtados por pessoas inconformadas por ter que deixar os imóveis. Tais atos só vêm reforçar quão mal intencionados estavam alguns invasores. Alguns vândalos foram os mesmos que tentaram despertar clamor social, dizendo-se injustiçados e alegando não ter onde morar.
Apesar da tentativa de tumultuar a operação, tudo indica que a mesma será bem sucedida, pois foi elaborada com base em planejamento e organização. Insufladores contumazes, como líderes da indústria das invasões que atuam há décadas na capital e municípios vizinhos foram devidamente neutralizados. Políticos com ou sem mandato habituados a estimular ocupações também tiveram seus planos frustrados. Sendo assim, a desocupação seguirá, a contragosto do grupo interessado em promover o caos.
Editorial publicado nesta terça-feira em O Estado do Maranhão