Empresários que exploram o transporte coletivo em São Luís afirmam que somente um reajuste de 27% na tarifa de ônibus seria suficiente para reverter a alegada pré-falência do sistema. O cálculo teria como base o aumento de preço de insumos como pneus e combustível e o déficit gerado pelo excesso de gratuidades concedidas a usuários do serviço. O percentual é divulgado justamente no momento em que há novo impasse na negociação de direitos trabalhistas reivindicados pelos rodoviários, situação que pode resultar em mais uma greve de motoristas e cobradores, com os respectivos transtornos à população.
De fato, os empresários têm razão quanto ao excesso de gratuidades em São Luís. Não é de hoje que o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (SET) denuncia a verdadeira farra na concessão do benefício e o uso indevido desse direito. O reajuste de preços de insumos também é uma realidade, que, segundo os empresários, corrói os lucros e inviabiliza melhorias na qualidade do serviço. Quanto aos 27% de reajuste da tarifa pleiteado pelas empresas, é preciso analisar minuciosamente se o percentual procede ou se é abusivo.
Congeladas desde fevereiro de 2010, as tarifas de ônibus cobradas na capital (R$ 1,30, R$ 1,60 e R$ 2,10) já não condizem com as necessidades do sistema, segundo os concessionários. Mesmo com a superlotação de praticamente todas as linhas de ônibus verificada diariamente e com a receita gerada pela demanda elevada de passageiros, os empresários dizem estar à beira do colapso financeiro. Verdadeira ou não, a alegação gera grave instabilidade no sistema.O resultado da suposta crise financeira das empresas são ônibus velhos, sujos e em quantidade insuficiente para atender a todos os usuários dignamente. A falta de investimento em capacitação de mão de obra é outra consequência do déficit. Instruídos precariamente e obrigados a cumprir jornadas estafantes, motoristas, cobradores e fiscais não dispõem de condições plenas de oferecer tratamento adequado aos passageiros, o que, não raro, gera conflitos durante as viagens.
Para piorar, a Prefeitura de São Luís mantém uma postura omissa ante o problema. Em quase quatro meses de gestão, não se viu qualquer sinalização de melhoria para o sistema. Pelo contrário, o que se constata nas ruas são ônibus a cada dia mais sucateados. Até mesmo a alardeada quebra de monopólio do transporte coletivo não passou de um engodo, engendrado a partir da necessidade do prefeito Edivaldo Holanda Júnior de mostrar serviço em meio ao bombardeio de críticas feitas pela população, que ganham ressonância na imprensa não alinhada à sua administração.
Já passou da hora de uma reformulação profunda no transporte coletivo de São Luís. Há alguns anos, a licitação das linhas vem sendo anunciada como a solução para o problema. O processo, no entanto, jamais foi concretizado, devido a sucessivos adiamentos. Diante do caos que se acentua a cada, é hora de, finalmente, quebrar esse tabu.
Editorial publicado neste sábado em O Estado do Maranhão