Há exatamente um ano, cinco tiros ceifaram a vida do jornalista Décio Sá, profissional com trajetória marcante na imprensa do Maranhão. Décio foi morto aos 42 anos, no auge da carreira. Era repórter nato, com talento admirável para investigar fatos, transformá-los em notícia e publicá-las, muitas vezes, em primeira mão. Seu desaparecimento deixa uma imensa lacuna no jornalismo maranhense e reforça a certeza de que a profissão figura entre as mais perigosas, infelizmente.
Ontem, véspera do aniversário de morte do jornalista, a TV Mirante exibiu matéria exclusiva, em que os principais envolvidos no crime trocavam acusações entre si. Cenas deprimentes, nas quais ficou clara a intenção dos criminosos de confundir a polícia com mentiras e manifestações de cinismo.
Primeiro, o pistoleiro Jhonatan de Sousa Silva e José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, apontado como agenciador da execução, travaram forte discussão. Em acareação, o segundo afirmou não conhecer o primeiro e chamou-o de “bandido”. O assassino não deixou por menos e insultou Bolinha de “safado”, acusando-o de não cumprir seus compromissos, certamente porque este lhe repassara apenas R$ 20 mil dos R$ 100 mil que lhe foram prometidos para tirar a vida de Décio Sá, conforme contou o próprio Jhonatan à polícia.
Em outro momento, Bolinha e Gláucio Alencar, este último acusado de ser o mandante da morte do jornalista, junto com seu pai, Miranda, que também está preso, foram colocados frente a frente. Ambos tentaram se eximir de qualquer culpa pelo assassinato de Décio Sá, assim como pela execução do empresário Fábio Brasil, ocorrida em Teresina, menos de um mês antes.
Na tentativa de mostrar-se inocentes, os dois recorreram, em alguns momentos, ao sentimentalismo barato e à ironia. “Gláucio, tu tem que fazer sabe o que é? É falar a verdade. Quem mandou matar Fábio Brasil foi tu e teu pai. Agora, esse negócio de Décio Sá eu não sei, porque quem mexe com blog é tu também”, disparou Bolinha para o outrora aliado. “Se não tem o mandante, prende o coelhinho da Páscoa”, arrematou Gláucio, friamente, para espanto até dos policiais que acompanhavam a acareação.
O ano que passou foi marcado pela angústia da família, amigos e colegas de profissão de Décio Sá. Para piorar, constata-se, agora, em rede aberta de TV, a frieza e o cinismo dos principais envolvidos no crime, o que aumenta a revolta e a necessidade de justiça.