Não bastasse ser financiado por um contingente cada vez maior de usuários, o tráfico de drogas conta com outro aliado capaz de arrefecer qualquer esforço governamental para combatê-lo: a corrupção policial. O vazamento da operação deflagrada ontem pela Secretaria de Segurança Pública no Barreto provou mais uma vez que o comércio de entorpecentes em São Luís transcende as bocas de fumo. Avisados por quem deveria se empenhar para prendê-los, os traficantes tiveram tempo de fugir ao cerco, em mais um episódio que manchou a imagem da polícia e tornou os cidadãos ainda mais vulneráveis à criminalidade.
Principal enclave do tráfico de drogas em São Luís, o Barreto ostenta poderio maior a cada operação policial. O bairro, que por ironia está situando em uma pequena faixa de terra entre a sede da SSP, o 1º e o 9º Batalhões da Polícia Militar, parece imune à repressão do Estado. Em seus becos e vielas, traficantes, aviões, usuários e outros personagens do tráfico exercem abertamente sua relação com a droga. É difícil conceber como um território tão minúsculo se mantém há décadas como um dos maiores nichos do crime na capital.
Cerca de cinquenta homens e um número expressivo de viaturas foram mobilizados para a operação no Barreto, deflagrada para cumprir 10 mandados de prisão e de busca e apreensão. Com o vazamento, o resultado se resumiu à prisão de três pessoas, à apreensão de 100 gramas de cocaína e, pasmem, uma jaguatirica, animal silvestre em extinção. Nenhuma arma foi encontrada nas casas revistadas, embora se saiba que os traficantes do bairro dispõem de um verdadeiro arsenal, muitas vezes exibido abertamente, de modo a intimidar os moradores que não têm envolvimento com o comércio e o uso de drogas, entre outras modalidades de crime.
Pelo prejuízo que causou, o vazamento deve ser alvo de uma investigação interna minuciosa na SSP. Punir severamente os culpados é o único meio de tentar evitar que traficantes voltem a ser informados antecipadamente sobre operações policiais. Em um primeiro momento, a secretaria não deu detalhes sobre as providências que tomará em relação ao episódio. Mas é provável que a caça ao autor já tenha começado.
Enquanto as medidas cabíveis não são tomadas, traficantes continuarão faturando à custa da desgraça dos cidadãos. O estrago é tamanho que não é exagero afirmar que as drogas estão na raiz de diversos outros crimes, como assaltos, pistolagem, sequestros, estupros e outras formas de violência. Por isso, a repressão deve ser incluída entre as prioridades de qualquer governante. É preciso encurralar os autores, até sufocá-los e eliminar seu poder de atuação. E isso só será possível com o trabalho de policiais verdadeiramente comprometidos com o dever de proteger a sociedade.
Se é para cortar na própria carne, que seja feito logo, de forma implacável, sem favorecimentos. O que não se pode é manter nos quadros da polícia elementos que, uma vez pagos pelo contribuinte, estejam a serviço do tráfico, praga social que tem destruído milhares de famílias e deixado o cotidiano das cidades muito mais violento.
Editorial publicado neste sábado em O Estado do Maranhão