É no mínimo esdrúxula a estratégia adotada pelo Sindicato dos Rodoviários de São Luís para tentar convencer o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) a liberar as contas da entidade, bloqueadas por descumprimento de determinação da corte durante a última greve da categoria, em maio deste ano. Alegando dificuldades financeiras em razão da decisão da Justiça Trabalhista, o sindicato ameaça paralisar o transporte coletivo da capital e penalizar centenas de milhares de cidadãos que usam o serviço diariamente.
A assembleia na qual será votada a proposta de paralisação deverá acontecer quarta ou quinta-feira da próxima semana. O anúncio da possível manifestação, feita pelo presidente do Sindicato dos Rodoviários, Dorival Sousa da Silva, gerou forte repercussão na categoria e na população, que já aguarda apreensiva a definição do processo. Se for confirmada a intenção da entidade, São Luís, certamente, viverá momentos de caos, com saldo imprevisível.
Dorival Silva alega que o bloqueio imposto pelo TRT está inviabilizando as atividades sindicais. Uma das conseqüências é o atraso de quatro meses dos salários dos funcionários da entidade. Os serviços médicos e odontológicos disponibilizados aos associados também foram suspensos. O presidente diz que caso os recursos não sejam liberados de imediato, há o risco de o sindicato fechar as portas, deixando desassistidas centenas de motoristas, cobradores e fiscais que trabalham nas empresas que integram o sistema de transporte público da capital.
O cenário pintado pelo líder classista é realmente trágico para a categoria. A ser verdade a alegação, os rodoviários ficarão, mesmo que momentaneamente, sem representatividade e sem o apoio social oferecido pelo sindicato. Mas mesmo no caso extremo de fechamento da entidade, a via da paralisação não é uma medida sensata. Se adotar essa estratégia, a categoria cometerá grave equívoco, pois estenderá a toda a sociedade um ônus com o qual somente os sindicalistas devem arcar. Nesse caso, a resposta da coletividade pode ser a pior possível.
O correto seria o sindicato lançar mão dos meios jurídicos que dispõe e que a lei garante para tentar convencer o TRT a reverter o bloqueio das contas. A Constituição brasileira prevê o amplo direito à defesa e é nesse princípio que a entidade deve se amparar para obter a liberação dos seus recursos. Qualquer iniciativa que fuja ao diálogo com as autoridades judiciais soa como subversão, o que pode acarretar ainda mais prejuízos aos
rodoviários.
Espera-se que a sensatez predomine nestes dias que antecedem a paralisação intentada pelo Sindicato dos Rodoviários. Uma mobilização da categoria em plena campanha eleitoral, além de promover o caos urbano, serviria de mote político e desviaria o foco das propostas que realmente interessam aos ludovicenses. Enfim, é tudo o que a população não precisa.
Editorial publicado neste sábado em O Estado do Maranhão