A Secretaria de Segurança Pública (SSP) prestou ontem um importante serviço à sociedade ao colocar na cadeia oito integrantes de uma quadrilha interestadual especializada em arrombamentos de caixas eletrônicos e saidinhas bancárias, modalidade de roubo em que a vítima é apontada aos criminosos por um comparsa infiltrando na agência. Os assaltantes presos são naturais do Maranhão, Piauí e Tocantins, o que mais uma vez comprova a associação entre bandos locais e de outros estados para a prática de crimes em território maranhense.
Com as prisões, a tendência é que tanto os arrombamentos de caixas eletrônicos quanto as saidinhas bancárias sofram recuo, pelo menos em um primeiro momento. Devido ao poder de fogo da quadrilha, com a qual foram apreendidos três carros e farto material usado para violar os terminais, como maçarico e cilindro de gás, não resta dúvida de que essa era uma das organizações criminosas mais atuantes na capital e no interior. As investigações, entretanto, deverão continuar, inclusive com a colaboração dos assaltantes presos, com o objetivo de desarticular outros bandos do gênero.
Um dos oito bandidos capturados na operação chamou atenção por sua condição física. Trata-se do amputado Jailson Nonato Araújo, vulgo Jajá, 29 anos, que tem apenas a perna esquerda e se locomove com o auxílio de uma muleta. A ele cabia a função de se infiltrar nas agências e identificar as vítimas, para em seguida apontá-las aos comparsas, que aguardavam as informações do lado de fora do banco. Segundo a polícia, Jajá atuou em pelo menos 60% das saidinhas bancárias registradas em São Luís nos últimos meses.
A participação de assaltantes de outros estados é mais um aspecto a ser destacado na onda de arrombamentos de caixas eletrônicos e saidinhas bancárias no Maranhão. Tais bandidos se associam às quadrilhas locais justamente por sua vasta experiência nesse tipo de crime em todo o Norte e Nordeste. Coibir essa interação criminosa depende essencialmente da ação conjunta das polícias das duas regiões, que devem lançar mão de todos os recursos de inteligência disponíveis para fazer frente aos bandos.
Mesmo com o empenho das forças de segurança pública, é preciso ter em mente que a violência é uma ameaça que continuará presente no cotidiano dos cidadãos. Essa tendência se deve principalmente à capacidade de rearticulação do crime, que a cada dia recruta mais adeptos, e à impunidade, pois em muitos casos bandidos perigosos conseguem liberdade pouco tempo depois de ser presos. No caso específico do arrombamento de caixas eletrônicos e das saidinhas bancárias, tem-se a ousadia como marca mais evidente, já que em muitos casos esses delitos são praticados em plena luz do dia e em áreas movimentadas.
Ao apresentar o bando à imprensa, a SSP fez questão de destacar que aquela foi 19ª quadrilha presa no Maranhão em menos de dois anos. Com certeza, é um feito digno de elogios, ainda mais diante das condições com que trabalham os policiais, que estão longe do ideal. Mas como a bandidagem se renova a uma velocidade espantosa e a impunidade é uma realidade que persiste, é preciso fazer muito mais para que a sociedade se sinta realmente segura.
Editorial publicado nesta sexta-feira em O Estado do Maranhão