Escassez pediátrica
A oferta de atendimento médico a casos de urgência e emergência pediátrica vem se tornando a cada dia mais escassa em São Luís, ao passo que a demanda só aumenta. O problema atinge tanto a rede pública quanto a privada, gerando consequências graves às crianças acometidas por alguma doença que requeira acompanhamento profissional. Aflitos e indignados, os pais fazem um apelo para que o serviço seja restabelecido imediatamente, enquanto o Ministério Público investiga a suspensão, que por ter como vítima a parcela infantil da população é vista como um gesto de desumanidade.
Na rede particular, a Unidade Pediátrica e Cirúrgica (UPC) é o único hospital a manter o pronto atendimento. Depois que o Centro Médico e o Hospital Português fecharam seus setores de pediatria, a UPC tem enfrentado sobrecarga. Todos os dias, dezenas de crianças recorrem ao estabelecimento hospitalar. O resultado são longas filas, que persistem mesmo com o reforço do quadro de profissionais na unidade de saúde, conforme garante a diretoria.
Na rede pública a situação exibe contornos ainda mais graves, já que o número de pacientes é muito maior. O Hospital Odorico Amaral de Mattos, na Alemanha, unidade de referência no atendimento a crianças, funciona com capacidade reduzida quase dois meses depois que a Vigilância Sanitária Estadual e o Ministério Público interditaram uma ala inteira devido a uma série de problemas estruturais e até mesmo de ordem séptica, que comprometiam a saúde dos pacientes. Sem opção, pais e mães se sujeitam à humilhação de ter que esperar longamente a assistência médica com os filhos no colo, acomodados sobre bancos ou outra estrutura que os permita ficar em repouso, sem o mínimo conforto, diga-se.
O Materno Infantil absorvia boa parte da demanda de pacientes pediátricos da capital e do interior do Maranhão, mas deixou de prestar esse tipo de atendimento há cerca de dois anos. A direção do hospital alegou a necessidade de priorizar outros serviços de saúde, dando ênfase aos de alta complexidade, argumento que poderia ser aceito não fosse a falta de alternativas ao fechamento. Diante da carência, o mais sensato seria manter a assistência até que fosse adotada uma solução. Ao extinguir o serviço abruptamente, deixando milhares de crianças desamparadas, a diretoria do Materno Infantil só agravou o problema.
Uma das justificativas para a suspensão do atendimento pediátrico em várias Casas de Saúde é a escassez de profissionais no mercado, em razão do pouco atrativo que essa especialidade tem despertado nos acadêmicos de medicina. O problema é nacional e encontra explicação na questão financeira, já que a pediatria é puramente clínica, enquanto outras áreas oferecem remuneração maior por terem procedimentos mais caros. Seria o caso, então, de discutir novos parâmetros salariais para a categoria, uma vez que a saúde infantil deve sempre ser prioridade, a qualquer custo.
Se para os adultos a assistência à saúde não pode ser negada em hipótese alguma, para as crianças é um direito sagrado e uma necessidade extrema, tendo em vista a sua fragilidade orgânica. As redes pública e privada devem empenhar todos os esforços para que o atendimento hospitalar esteja ao alcance de todos que os precisam, sem distinção e com qualidade.
Editorial publicado em O Estado do Maranhão nesta quarta-feira