Por Ciro Nolasco*
O escritor e jornalistas inglês Gilberto Chesterton deixou uma frase que ficou para a história. Segundo ele, “uma das grandes desvantagens de termos pressa é o tempo que nos faz perder”. Como tinha razão o escritor. Visitar o inacabado, porém recém inaugurado Shopping da Ilha é a prova contumaz disso. Alardeado como o maior empreendimento do tipo no Maranhão, o shopping ainda está longe de ser aquilo que mostra enganosamente nas suas campanhas publicitárias. Na ânsia de abrir as portas para aproveitar o frisson consumista típico de final de ano, e reduzir a enxurrada de reclamações e ameaças de ações judiciais de seus lojistas que investiram alto para garantir um espaço dentro do empreendimento, os construtores do “elefante branco” da modernidade pecaram em vários quesitos: do estético aos itens de segurança. E é sobre esse ponto que queremos nos ater.
Os erros começam do lado de fora, onde não há nenhuma organização do espaço urbano e pedestres se arriscam na travessia da perigosa e movimentada Avenida Daniel de La Touche ou ficam expostos à poeira e ao fluxo de caminhões que ainda tocam a obra.
Do lado de dentro, a situação é mais alarmante. Escadas rolantes com inclinações elevadas, velocidade acima do que se costuma ver em outros lugares e sem nenhuma placa de orientação aos usuários. O único acesso para quem quer entrar ou sair são por esses equipamentos, que requerem muita atenção e cuidado de quem os usa. O elevador ainda não foi instalado e as escadas comuns estão interditadas. É tanta negligência que leva-nos a questionar: como um empreendimento desse porte pode entrar em operação sem oferecer o mínimo de segurança para seus consumidores? Aonde estãos os órgãos de fiscalização de segurança que ainda não viram essas falhas gritantes? Imaginemos que ocorra um incidente interno. Como as pessoas que estiverem dentro do shopping conseguirão sair de forma tranqüila e segura?
Na proximidade do Natal, a minha mãe, de 63 anos, estava com a família a conhecer aquilo que foi mostrado como a grande maravilha do consumo ludovicense, e aproveitar para fazer uma refeição noturna. Como ainda não tinha muitas opções no local, decidiu-se ir para outro ambiente. Na saída do shopping, ela desequilibrou-se no degrau da escada rolante e caiu, vindo a ter ferimentos nos dois joelhos e na cabeça, além de hematomas nas pernas e ombro e luxação no polegar esquerdo. Colocada em uma ambulância foi levada ao Socorrão II, na Cidade Operária, pois precisava se submeter a uma tomografia, já que tinha ferimentos e sentia dores em dois lugares na cabeça.
Ao chegar lá, deparei-me com uma cena típica dos ambientes de guerra, com pessoas – na maioria idosos – alojadas no corredor à espera de atendimento. A minha mãe era uma delas. Estava sentada em uma cadeira de rodas, há cerca de 40 minutos, esperando por um médico, que havia saído da sala de atendimento sem dizer o seu destino. Ao retornar, o “doutor” avaliou a paciente, encaminhou para exame e prescreveu um analgésico. Na enfermaria, fomos informados pela plantonista que não havia como aplicar o medicamento, por não ter na casa agulha. Isso mesmo: agulha. Ela sugeriu que a paciente fosse levada até a farmácia do lado de fora do hospital para o procedimento médico. O atendimento foi o mais desumano possível.
Já era quase 1h da manhã quando se decidiu levar a minha mãe para a UPA da Cidade Operária. Na entrada da unidade de pronto atendimento, percebemos visivelmente a grande diferença entre os dois hospitais. De um ambiente hostil, pesado e ensangüentado do Socorrão para um local limpo, acolhedor e humano da UPA. A paciente foi rapidamente atendida, e bem atendida. Constatou-se que a sua pressão arterial estava alta, o que foi prontamente controlado. O médico a avaliou dos pés à cabeça e a encaminhou para fazer os curativos que deveria ter recebido no Socorrão. Na UPA, não faltou agulha para aplicação de antiinflamatório e analgésico, e nem carinho pela paciente. Ficamos a comentar, como seria bom se os hospitais municipais de emergência tivessem o mesmo atendimento das UPA’s, por que é para lá que vão a maioria das pessoas acidentadas.
Conclusão
O episódio do shopping nos revelou que a pressa para apresentar o empreendimento à sociedade estragou o que de bom o local possa ter no futuro quando for finalmente concluído. Os construtores perderam tempo para apresentar uma obra inacabada e insegura. O episódio no revelou ainda a fragilidade do atendimento dos hospitais do município e a revolução implantada pelas UPA’s.
Quanto à minha mãe sobrou-lhe os ferimentos, as péssimas lembranças e a decepção em uma noite que poderia ser de festa, principalmente para alguém que mora no interior e espera receber um olhar mais especial na capital. Vítima do acaso ou do descaso? Alguém pode estar se perguntando. Eu digo que a minha mãe foi vítima, sobretudo, da pressa. Pressa pela ganância consumista de empresários que não respeitam o consumidor, oferecendo-lhes gato por lebre. Pressa de funcionários públicos que atendem mal para se verem livres dos pacientes nos hospitais. E acima de tudo, vítima da lentidão das autoridades que sabem de tudo isso, mas não se apressam para solucionar os problemas. Para quem leu esse desabafo, recomendo: Se você pensa em ir ao shopping da Ilha é bom não ter pressa. Você só tem a perder.
* Jornalista e integrante da Rede Nacional de Jornalistas da Construção
Uma fatalidade que aconteceu com essa senhora,mais quanto ao shopping,logico que ele esta inacabado,mais ja fui varias vezes e na minha opiniao esta bem sinalizado e de facil acesso e so com as lojas que estao funcionando ja acho melhor ir para la!!!!!Quanto a esse lance da escada rolante me poupe meu caro,eh facil colocar a culpa nos outros.