Raras foram às vezes em que me dispus a abordar assuntos relacionados ao futebol neste espaço, embora seja fanático por este esporte desde que me entendo por gente. Não se trata de omissão, inaptidão, preguiça ou outra coisa que o valha, mas sim de bom senso, pois julgo que existem especialistas no ramo altamente gabaritados entre os blogueiros do portal imirante.com. Mas não poderia me furtar a comentar a convocação do técnico Dunga para a Copa da África, tamanha a grandiosidade do evento e a repercussão que a lista causou no Brasil e no exterior.
Citada por nove entre 10 comentaristas esportivos do país como principal parâmetro usado por Dunga na montagem da lista, a coerência, neste caso específico, acabou resultando em injustiças e equívocos. Naturalmente, Dunga agiu certo ao prestigiar jogadores que o ajudaram a consolidar-se não só como técnico da seleção brasileira, mas como treinador de futebol. Em contrapartida, acho que essa afinidade não poderia impedi-lo de olhar com atenção atletas que no momento vêm brilhando muito mais do que alguns dos escolhidos.
Na convocação não poderiam faltar o goleiro Júlio César, os laterais direitos Maicon e Daniel Alves, os zagueiros Juan e Lúcio e os atacantes Luís Fabiano e Robinho. Por outro lado, há nomes, no mínimo, contestáveis, e entre estes cito os meio-campistas Josué, Júlio Batista, Elano e Kleberson e o atacante Grafite, considerado a maior surpresa da lista. A maioria destes não vive boa fase e quase sempre não conseguem sequer ser titulares nos clubes europeus que defendem.
Há 3 anos e meio no cargo, o técnico preferiu olhar apenas para o seu curto retrospecto na seleção ao montar o grupo que levará para a África do Sul. Não se dispôs ao menos a ponderar o desempenho deste ou daquele jogador no presente momento, ignorando solenemente a boa fase de alguns que agora amargam a condição de ex-convocáveis.
Nem de longe sou entusiasta do “oba-oba” que se formou em torno dos santistas Neymar e Paulo Henrique Ganso. O primeiro, por sinal, teve até abaixo-assinado defendendo sua presença na seleção, sem contar o apoio escancarado que recebeu de nomes já consagrados do futebol, como Robinho e o rei Pelé. Apesar do lobby, uma possível convocação de um deles – ou de ambos – despertaria em mim a mesma desconfiança que sinto quanto à presença dos atletas que citei dois parágrafos acima, pois acho que falta-lhes bagagem internacional.
Discordâncias à parte, a decisão de Dunga é soberana e todos devem respeitá-la. A história prova que a harmonia é fator preponderante para que um grupo saia vitorioso de uma Copa do Mundo. A nós, brasileiros, resta agora apenas torcer para que o time faça bonito e traga o tão sonhado hexa.