São Luís vive a expectativa de mais um dia de caos por causa do anúncio de outra greve de motoristas e cobradores de ônibus, com início marcado para amanhã. Desta vez, o sindicato da categoria protestará contra a demissão de centenas de trabalhadores devido a uma crise financeira alegada pelas empresas que operam no setor. O pior é que os grevistas pretendem radicalizar e parar toda a frota de ônibus que circulam na Ilha.
Como sempre, os maiores prejudicados pela paralisação serão os usuários. Mais uma vez, dezenas de milhares de passageiros serão privados do direito de ir e vir, por causa de um conflito interno entre patrões e empregados. Não que a motivação da greve seja injusta, mas os trabalhadores poderiam optar, com base nos transtornos causados por manifestações anteriores, por uma estratégia mais civilizada e que cause menos danos à população.
Segundo alardeiam as empresas, a crise que atinge o sistema já se tornou insustentável. Representantes do setor atribuem a queda de qualidade do serviço à diminuição dos lucros. As demissões, portanto, seriam uma forma de amenizar o déficit nas finanças e oferecer um transporte condizente com as necessidades dos usuários.
Com a maioria das companhias operando supostamente no vermelho, segundo alegam, o sindicato que defende os interesses dos empresários aponta o reajuste da tarifa, congelada há cinco anos, como a solução para a queda de receita. Para atingir seu objetivo, a entidade já recorreu até à Justiça e aguarda com expectativa uma sentença favorável e definitiva.
A Prefeitura de São Luís pode ter participação decisiva para o fim da polêmica ou para o seu agravamento. Com a prerrogativa de autorizar o reajuste tarifário, o Município vem resistindo bravamente às investidas das empresas desde a gestão anterior. Desde o último aumento, já ocorreram várias greves e em todas as mobilizações patrões e empregados do setor de transporte coletivo alegaram dificuldades financeiras para fechar acordo. Todas as negociações foram pontuadas por insinuações e cobranças ostensivas de aumento do valor da passagem.
Em entrevistas recentes, representantes da administração municipal e o próprio prefeito João Castelo (PSDB) mantiveram o discurso de que a tarifa permanecerá inalterada. Mas a cada declaração pública, o tom da afirmação parece mais frágil. Semana passada, durante o lançamento da programação natalina da cidade, o prefeito externou sensibilidade com o déficit financeiro das empresas, um forte indício de que a população, além do tormento causado pela greve, poderá ser surpreendida com a notícia de que só o reajuste da tarifa salvará o sistema.
Foto: arquivo/O Estado do Maranhão
Reproduzido de O Estado do Maranhão