A vitória de João Castelo (PSDB) na eleição de prefeito de São Luís suscitou um clima de grande expectativa. Terminado o pleito, passa-se a cogitar os nomes que vão compor o secretariado do tucano (os de Saúde e Educação já foram escolhidos), faz-se conjecturas sobre a transição da administração de Tadeu Palácio para a nova gestão e até arriscam-se palpites sobre o horário e ritos da cerimônia de posse. Essa é a atmosfera que cerca os momentos que antecedem uma mudança de governo em qualquer sociedade.
Nesse contexto, deve-se, também, refletir com muito mais ênfase a estratégia usada pelo candidato eleito para garantir a vitória. Isso porque, na teoria, é a partir dela que o governante conduzirá sua gestão.
Para ser mais claro, é necessário recapitular cada uma das promessas de campanha – e se for o caso, anotá-las no papel, no computador ou algo que o valha -, com a intenção de cobrar do futuro governante o seu cumprimento.
Fiz todo esse preâmbulo para alertar aos cidadãos, independente de ter votado ou não em Castelo, de que é fundamental cobrar do prefeito eleito fidelidade aos compromissos assumidos com o povo. Na intenção de conquistar o voto, o então candidato prometeu de tudo um pouco, desde comida e transporte pela metade do preço à extinção das submoradorias erguidas sobre a lama dos manguezais, as famosas palafitas.
Consciente da fraqueza de memória que atinge a maioria da população, faço aqui um resumo das promessas mais chamativas feitas pelo prefeito eleito de São Luís, seguidas dos possíveis benefícios que elas trarão aos cidadãos caso virem realidade:
Bom Preço: trata-se da reedição de um programa de distrbuição de alimentos a baixo custo à população, que fez bastante sucesso na época em que Castelo foi governador, há quase 30 anos. Resta saber se hoje esse tipo de idéia é viável, uma vez que enfrentará forte resistência da rede varejista convencional. Além do mais, o governo terá que gastar alta soma para subsidiar o preço da comida e assim torná-la mais barata. A qualidade dos produtos e a quantidade da oferta deverão estar de acordo com o que espera a população.
Palafita Zero: resta saber se o novo prefeito adotará um modelo próprio para beneficiar os palafitados ou se buscará uma ação conjunta com o Governo Federal, que já executa obra com igual finalidade na margem esquerda do rio Anil, o maior curso d’água de São Luís, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Filiado ao PSDB, partido que no plano nacional faz oposição velada ao governo Lula, Castelo, possivelmente, não terá tanta facilidade em conseguir apoio federal para sua empreitada. Ainda mais quando se observa o acirramento da disputa com vista à eleição presidencial de 2010, em que o antagonismo entre tucanos e petistas estará muito mais evidente.
Fardamento e material escolar gratuitos: a concretização desse projeto requer uma disponibilidade financeira altíssima. Afinal, a rede municipal de ensino comporta dezenas de milhares de alunos. Apesar dos fartos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), a Prefeitura terá outras prioridades, tais como contratação de novos professores, construção e reforma de escolas, concessão de reajustes, etc. É aguardar para ver.
Hospital de emergência no Angelim: outro investimento de altíssimo custo. Além de construir e equipar a unidade de saúde, a Prefeitura terá que contratar uma numerosa equipe, levando-se em conta que o hospital será de grande porte. Há ainda quem critique a localização escolhida para unidade de saúde. O argumento é o de que a avenida Jerônimo de Albuquerque, que dá acesso ao Angelim, é uma das vias de maior congestionamento da capital.
Leite de graça para estudantes: proposta viável e de certa relevância, uma vez que estimula os estudantes a manter a freqüencia escolar. No entanto, pareceu muito mais produto de propaganda do que algo que possa ser levado a sério. Possivelmente, será esquecida em meio às prioridades do novo gestor.
Meia-passagem nos ônibus aos fins de semana: outra promessa de campanha de difícil concretização. Para conceder tal benefício, a Prefeitura terá que subsidiar o desconto na tarifa. Além disso, não se sabe como a idéia será recebida pelos empresários do setor de transporte coletivo. Da forma como foi idealizado, o benfício terá um caráter de serviço público, o que põe em xeque sua eficiência.
Construção de mais cinco terminais de integração: mais um investimento de alto custo. O Terminal da Praia Grande, primeiro dos cinco que existem atualmente em São Luís, foi inaugurado em 1996. O quinto, o do Distrito Industrial, foi entregue em 2005. Ou seja, foram necessários 11 anos para se chegar ao número atual de terminais. Castelo prometeu construir outros cinco em quatro anos. É uma tarefa difícil, sobretudo porque o novo prefeito precisará recorrer a recursos externos, inclusive de fontes internacionais.