A SUCESSÃO MUNICIPAL NA MINHA TERRA

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A partir de 1960, quando o meu pai, Abdala Buzar, disputou as eleições de prefeito de Itapecuru, eu participo ativamente das campanhas eleitorais de minha terra.

Naquele pleito, ele, concorrendo pelo Partido Social Progressista(oposição), derrotou a forte candidata Graciete Cassas, do Partido Social Democrático e apoiada pela máquina governista.

Por um compromisso com o lugar onde nasci e me criei, nunca mudei o domicílio eleitoral para qualquer outra cidade, por entender ser uma obrigação de ordem moral e cívica, votar no candidato mais habilitado para dirigir os destinos de Itapecuru.

Salvo melhor juízo, de 1960 até 2016, quando atuei em todas as campanhas eleitorais, com vistas às eleições majoritárias, travadas no meu torrão natal, fui mais vitorioso do que derrotado.

AUSENTE, MAS INTERESADO

Este ano, contudo, face à pandemia e fazer parte da área de risco do coronavÍrus, aconselhado por médicos, amigos e familiares, inconsolável e triste, ausentei-me fisicamente da campanha eleitoral em que está em jogo os destinos de minha gloriosa terra.

Mesmo afastado de tão importante pugna eleitoral, acompanho com o mais desusado interesse a sucessão do prefeito Miguel Lauand, disputada entre os candidatos Benedito Coroba, que até recentemente fazia parte do Ministério Público, um vigilante defensor das causas para o dinheiro público não ser usado indevidamente por prefeitos corruptos e desonestos, e o jovem médico, Ricardo Lajes, da nova geração política itapecuruense.

ELEITO EM 1990, DERROTADO EM 1992

Coroba exerceu o mandato de deputado estadual, pelo PDT, nas eleições de 1990, e atuava de forma brilhante e desembaraçada na Assembleia Legislativa, mas, para atender a convocação dos conterrâneos, no pleito de 1992, candidatou-se ao cargo de prefeito de Itapecuru.

Pela maneira como se comportou na campanha eleitoral, disputando contra quatro candidatos, tornou-se o favorito pela maneira firme e corajosa como defendia ações e projetos para a sua terra sair do marasmo e do atraso.

Mas o favoritismo de Caroba terminou esbarrando na surpreendente vitória da candidata Risalva Rodrigues, esposa do ex-prefeito José Carlos Rodrigues, que na sua campanha prometeu demagogicamente mundos e fundos para o eleitorado de menor poder aquisitivo.

Vinte e oito anos depois daquele inesperado insucesso nas urnas, Benedito Coroba, em atendimento aos apelos do povo itapecuruense, novamente concorre à disputa eleitoral.

FOTO LEGENDA 1- Em Itapecuru, os Beneditos Buzar e Coroba, com o Padre Alonso.  

A GOROROBA E OS BOIOLAS

Da redemocratização do país, em 1946, aos dias de hoje, salvo melhor juízo, só lembro de dois ex-presidentes da República, que nos seus mandatos,  não visitaram o Maranhão: Itamar Franco e Michel Temer, os quais, na condição de vice-presidentes, substituíram Fernando Collor de Melo e Dilma Roussef, defenestrados do Palácio do Planalto pelo expediente do impeachement, decretado por membros do Congresso Nacional.

Os que nos visitaram, eleitos por via direta ou indireta, excetuando-se Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, foram extremamente educados, cordiais e respeitosos.

GOROROBA JANISTA

De Jânio Quadros, da UDN, que venceu o general Henrique Teixeira Lott, do PSD-PTB, nas eleições de 1960, sabe-se que quando esteve em São Luís, em 1961, para participar de uma reunião de trabalho, com os governadores do Maranhão (Newton Bello) e do Piauí, pediu ao amigo e correligionário, deputado José Sarney, que não lhe fosse servido durante sua estada entre nós, o Guaraná Jesus, que apelidou de “gororoba cor de rosa”.

O pedido de Jânio foi atendido, mas teve uma repercussão péssima junto à população maranhense, que sorve com prazer e orgulho um produto autenticamente regional e da criatividade de um industrial competente e politicamente de esquerda, chamado Jesus Norberto Gomes.

Quem ficou constrangido com aquele infeliz pedido de Jânio Quadros foi o deputado José Sarney, que nas eleições de 1960, fez questão de lutar para o candidato udenista ter uma boa votação no Maranhão, mormente em São Luís.

BOIOLA MARANHENSE

Cinquenta e nove anos depois do impensado e leviano gesto de Jânio Quadros, eis que outro presidente da República, desta feita, Jair Bolsonaro, não bem-sucedido no pleito de 2018, em terras maranhenses, na sua recente visita ao nosso Estado, mal pisou no aeroporto de São Luís, ao beber o precioso Guaraná Jesus, inopinadamente declarou: – “Agora virei boiola, igual a maranhense”.

Trata-se de um desabafo de mal gosto e dito num  momento inoportuno e de maneira equivocada, pois o termo boiola não tem nada a ver com o Maranhão, mas com o Rio de Janeiro, cujo povo também se sentiria ofendido por uma saudação ofensiva e indelicada, pois essa não é a forma pela qual o chefe de uma nação deve se dirigir aos seus compatriotas.

O inusitado episódio ocorrido no aeroporto do Tirirical, mostra como Bolsonaro foi mal assessorado pelos políticos maranhenses que o apoiam no Congresso Nacional, pois sabendo que a ele, em terras maranhenses, seria servido o Guaraná Jesus, deveriam tê-lo informado do orgulho que temos de consumir um refrigerante autenticamente maranhense, que caiu no gosto de crianças, jovens e adultos, criado pela genialidade de um industrial conterrâneo, que legou ao Maranhão uma linha de produtos de larga aceitação no mercado regional.

JESUS NORBERTO GOMES

Refiro-me com muita honra e respeito a Jesus Norberto Gomes, um homem que construiu, por conta de sua inteligência, denodo e formação política e intelectual, uma façanha empresarial ímpar e se tornou conhecido no Brasil por um refrigerante que até hoje se impõe pela qualidade, num mercado marcado pela presença de produtos similares, variados, nacionais e estrangeiros.

Além dos predicados como industrial, Jesus Norberto Gomes, pelas suas posições políticas avançadas, foi preso em São Luís, quando estourou a Intentona Comunista, em novembro de 1935, por ordem do governador Aquiles Lisboa, sendo encarcerado na Penitenciária do Estado e deportado para o Rio de Janeiro, numa viagem de navio de 15 dias.

Com outros maranhenses, foi levado para a Casa de Detenção, na Rua Frei Caneca, onde a ditadura getulista confinava os presos políticos até serem julgados pelo Tribunal de Segurança Nacional, que o pôs em liberdade em 10 de dezembro de 1936.

FUNERAL ANUNCIADO

Antes de morrer, Jesus Gomes, escreveu do próprio punho, como desejava o seu funeral.

  1. Quero ficar com a roupa do momento da morte. Braços estendidos ou com as mãos abertas, uma por cima da outra sobre o peito, envolto num lençol, com a fisionomia de fora.
  2.  Caixão de valor médio, sem enfeite ou cruz.
  3. Não quero tocha, santo ou missa, luto de roupa e outras exterioridades.
  4. Sepultura de barro e cimento com o número indicado pelo cemitério, data do nascimento e do falecimento, sem estrela ou cruz.
  5. Não comprem sepultura, aluguem por um período e abandonem. Os ossos, quando abrirem para enterrar outro, os coveiros levarão para o ossuário comum.
  6. Havendo forno crematório, não vacilem em preferir jogar as cinzas onde parecer melhor.
  7. Se quiserem gastar mais do que o necessário para esse funeral, entreguem a quem representar o Partido Comunista, para ajudar a politização esclarecida desse regime que exterminará a miséria física e moral.       

 FOTO LEGENDA 2 – O bravo e competente industrial, Jesus Norberto Gomes.     

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CANDIDATOS Á ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS

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Em seus 112 anos de pulsante existência, pela primeira vez num só exercício acadêmico, a vetusta Academia Maranhense de Letras, viu desaparecer de seu fraterno convívio, quatro insignes membros.

Em maio de 2020, a Casa de Antônio Lobo, perdeu o emérito professor José Maria Cabral, ocupante da Cadeira 38, patroneada por Adelino Fontoura.

No começo de agosto recente, deixaram de fazer parte da centenária instituição, o romancista Waldemiro Viana e o historiador Milson Coutinho, que ocupavam, respectivamente, as Cadeiras 2 e 15, patroneadas por Aluísio Azevedo e Odorico Mendes.

No final de agosto, a AML despediu-se do escritor Sálvio Dino, ocupante da Cadeira 32, patroneada por Vespasiano. 

 Com a vacância de quatro Cadeiras, era natural que haveria grande corrida de postulantes às vagas dos saudosos acadêmicos, que começou antes mesmo do Presidente Carlos Gaspar declará-las oficialmente desocupadas.

O primeiro candidato que se mostrou disposto a concorrer a uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras foi o pesquisador, professor universitário e ministro do Superior Tribunal de Justiça, Reynaldo Soares da Fonseca, que está com um pé dentro do sodalício da Rua da Paz, pelos méritos pessoais e jurídicos e não ter concorrente no pleito, marcado para 19 de novembro vindouro,  para ocupar o lugar do professor Cabral Marques.

Para a Cadeira 2, que pertencia a Waldemiro Viana, cinco candidatos concorrem: Fernando Braga, Teodoro Peres Neto, Roque Pires Macatrão, Mauro Bastos Rego e José Eulálio Figueiredo.

Com vistas à Cadeira 15, que Milson Coutinho ilustrava, disputam quatro postulantes: Daniel Blume, Rogério Henrique Castro Rocha, José Jorge Leite Soares e José de Ribamar de Castro Ramos.

Quanto à Cadeira 32, que Sálvio Dino ocupava, até agora estão inscritos: Antônio Guimarães de Oliveira, José Rossini Campos do Couto Corrêa e José Carlos Castro Sanches.

Fala-se que Flávio Dino, pai de Sálvio, tem pretensões de substituí-lo, mas até agora não se manifestou publicamente e nem cumpriu o ato da inscrição, que se esgota a 16 de novembro deste ano.    

Para as Cadeiras 2, 15 e 32, as eleições só deverão ocorrer no próximo ano.

PASTORES E PADRES

Leio no blog “Repórter Tempo”, do jornalista Ribamar Correia, que entre pastores e missionários evangélicos, 27 candidatos pretendem ocupar cadeiras na Câmara Municipal.

Enquanto os evangélicos procuram a militância política para se firmarem na vida pública, os padres da igreja católica, de uns tempos para cá, deixaram definitivamente de concorrer aos cargos eletivos.

ALBERIQUINHO DE FORA

O prefeito de Barreirinhas, Albérico Ferreira Filho, que se preparava para disputar a reeleição, decidiu vestir o pijama da vida privada.

Não concorre à reeleição municipal, mas apoiará para sucedê-lo no cargo de gestor de Barreirinhas, o ex-prefeito Leo Costa, que, no pleito passado, o ajudou a ganhar as eleições.

FENÔMENO SEM LUZ

Na legislatura de 2001 a 2004, o grande fenômeno na eleição para a Câmara Municipal de São Luís, foi o afrodescendente, Pedro Celestino.

Quem votou nele, dado o seu invulgar brilhantismo nos programas eleitorais, das emissoras de rádio e televisão, esperava um bom desempenho nos trabalhos legislativos.

Foi um fiasco e decepcionou o eleitorado no exercício do mandato de vereador, motivo pelo qual não se reelegeu no pleito seguinte.

Vinte anos depois, Pedro Celestino volta a se apresentar ao povo de São Luís, e tentar reconquistar uma cadeira na Câmara Municipal, mas sem chance de sucesso nas urnas porque perdeu a luminosidade de outrora.

ALCIONE, DONA DE BAR

Estourou como uma bomba no Rio de Janeiro, a notícia de que a cantora maranhense, Alcione, vai abrir um bar na Barra da Tijuca.

A casa, além dos bons petiscos e das bebidas, à base de mariscos e das frutas do Maranhão, oferecerá aos frequentadores shows com artistas de todo o país.

CANDIDATURA DO CARDIOLOGISTA

Quem conhece a capacidade profissional do cardiologista Bonifácio Barbosa e a numerosa clientela que tem em São Luís, não entende por que ele mudou o domicílio eleitoral para o município de São Benedito do Rio Preto.

A transferência do título para uma cidade onde não tem vivência política, habilitou o cardiologista a concorrer às eleições à prefeitura, ato que não acrescentará nada à sua vida e ao seu currículo profissional.

JOÃO ALBERTO EM BACABAL

Cumprida a quarentena, decorrente do ataque do Covid 19, João Alberto mudou-se de armas e bagagens para Bacabal.

Daquela cidade, só se afastará depois das apurações das eleições municipais e da certeza de que o povo bacabalense lhe confiou o mandato de vereador.

Se João Alberto se eleger vereador, só faltará a ele, como homem público, o exercício do cargo de Presidente da República.

 MATRIARCADO POLÍTICO

Nas eleições municipais deste ano, um fato chama a atenção de quem acompanha a vida política do Maranhão.

Nunca se viu tanta mulher postular tantos cargos eletivos executivos e legislativos. Se forem bem sucedidas no pleito, o matriarcado político se imporá no Maranhão de forma insofismável.    

SARNEY VEM AÍ

Pela primeira vez, ao longo de sua vitoriosa e brilhante vida pública, o ex-presidente José Sarney não votará na terra de seu domicílio eleitoral.

Por causa da pandemia e da idade avançada, ele e a esposa Dona Marly, decidiram ficar em Brasília no período eleitoral.

Mas já avisaram aos amigos que no final de novembro chegarão a São Luís, onde costumam passar as festas de Natal e Ano Novo.

FEIRA DO LIVRO

Alguns sonhadores da Secretaria da Cultura da Prefeitura de São Luís chegaram a se movimentar no sentido de realizar este ano, depois das eleições, a tradicional Feira do Livro.

O evento que teria como espaço o Convento das Mercês, foi inapelavelmente abortado pelo prefeito Edivaldo Junior, por motivos óbvios.  

CANDIDATOS MANJADOS 

São numerosos os candidatos à Câmara Municipal de São Luís, bastante conhecidos do eleitorado, pois em todas as eleições se habilitam ao pleito, alguns com nomes mais estravagantes.

Sabem que não se elegem, mas se candidatam para aparecerem nos programas da Justiça Eleitoral ou abiscoitarem alguma grana dos postulantes aos cargos majoritários.   

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A PRAÇA DOS POETAS E MARIANA LUZ

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Recentemente, o Governo do Estado teve a feliz inciativa, recebida com muita alegria pelo povo maranhense, da construção na Avenida Pedro II, de um vistoso espaço público, em homenagem aos intelectuais de nossa terra.

 Trata-se da Praça dos Poetas, na qual foram colocados bustos de dez destacados escritores maranhenses: Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Nauro Machado, Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, José Chagas, Gonçalves Dias, Maria Firmina, Dagmar Desterro e Lucy Teixeira, poetas brilhantes e reverenciados, pela contribuição que deram à Atenas Brasileira.

NOVAS PRAÇAS, OUTROS BUSTOS

Como o Governo do Estado e a Prefeitura de São Luís estão construindo outras praças na cidade, seria de bom alvitre, até porque a população gosta e aplaude projetos de natureza cultural, que nesses espaços urbanísticos fossem também homenageadas figuras maranhenses, que se encontram esquecidas e deixaram os nomes marcados, pelas valorosas obras em prosa e verso que legaram à sociedade.

Para as praças com bustos de intelectuais, nomes não faltarão para ornamentá-las, pois o Maranhão pode ser pobre quanto aos índices econômicos e sociais, mas em matéria de cultura, temos poetas e prosadores em demasia, que certamente merecem ser homenageados e evocados.

E são nomes de realce do cenário cultural maranhense. Com base em livros que tratam da Literatura Maranhense, de autores do quilate intelectual de Mário Meireles e Jomar Moraes, encontramos miríades de escritores que se projetaram no plano nacional.

NOMES EM PROFUSÃO

Escritores da qualidade literária de Estevam Rafael de Carvalho, José Candido de Moraes e Silva, Joaquim Franco de Sá, Cândido Mendes de Almeida,  Pedro Nunes Leal, Antônio Marques Rodrigues, Mariana Luz, César Augusto Marques, Luiz Antônio Vieira da Silva, Trajano Galvão, Gentil Braga, Paula Duarte, Ribeiro do Amaral, Teófilo Dias, Teixeira Mendes, Adelino Fontoura, Barbosa de Godois, Correa de Araújo, Antônio e Raimundo Lopes, Silvestre Fernandes, Clarindo Santiago, Oliveira Roma, Rubem Almeida, Manuel Sobrinho, Francisco Viveiros de Castro, Justo Jansen, Dunshee de Abranches, Tasso Fragoso, Inácio Xavier de Carvalho, Aquiles Lisboa, Astolfo Marques, Luso Torres, Maranhão Sobrinho, Alfredo de Assis, Alarico Cunha, Jerônimo de Viveiros, Vespasiano Ramos, Franklin de Oliveira, Lago Burnett, Odilo Costa Filho, João Mohana, Oswaldino Marques e tantos outros, podem ser perpetuados, pelo que fizeram em favor do  engrandecimento do Maranhão, no campo das letras e das artes.

A ESQUECIDA MARIANA LUZ

A louvada iniciativa do saudoso escritor José Nascimento de Moraes Filho, nos meados do século passado, revelou ao Brasil a romancista e poeta, Maria Firmina dos Reis, nascida em Guimarães e afro – descendente, de indiscutível valor intelectual, até então desconhecida da crítica literária nacional.  

Se outro escritor da estirpe de Nascimento de Moraes Filho, tivesse, também, levantado a bandeira para o Brasil saber que uma mulher nascida em Itapecuru, também professora e afro – descendente, batizada com o nome de Mariana Luz, escrevia poemas e sonetos da melhor qualidade intelectual, certamente que a minha conterrânea, que me ensinou as primeiras letras, estaria, como Maria Firmina, fazendo parte da galeria dos monstros sagrados da cultura brasileira.

AUSÊNCIA NA PRAÇA DOS POETAS

Eu e meus conterrâneos itapecuruenses, ficamos sobremodo decepcionados, quando vimos que o busto de Mariana Luz não marcava presença na Praça dos Poetas, ela, que deixou uma produção literária de grande monta e de renomado valor intelectual.

Em 1990, quando eu estava à frente da Secretaria da Cultura, mandei reeditar um pequeno livro de sua autoria intitulado Murmúrios, lançado na década de 1960, sob os auspícios do Centro Acadêmico Clodomir Cardoso, da Faculdade de Direito e do Orbis Clube de São Luís.

Recentemente, em função da fundação da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, que tem Mariana Luz como patrona, a acadêmica, Jucey Santana, encabeçou um movimento para o reconhecimento cultural da nossa conterrânea, por meio do livro “Vida e Obra de Mariana Luz”, em que a autora resgata passagens biográficas  da poeta e de sua rica produção literária.

MEMBRO DA AML

Nos anos finais da vida, Mariana Luz teve algumas alegrias e o reconhecimento de alguns setores da sociedade nativa, quando um grupo da Academia Maranhense de Letras a elegeu em 24 de julho de 1948, para ocupar a cadeira 32, tomando posse a 10 de maio de 1949, solenidade que contou com a presença do governador Sebastião Archer da Silva. Saudada pelo acadêmico Mário Meireles, por causa de sua carente visão, teve o seu discurso de posse lido pelo professor Mata Roma. 

Ao tomar conhecimento de que Mariana Luz era uma mulher pobre e de vida sofrida, o governador Archer da Silva fez a Assembleia Legislativa aprovar um projeto de lei, que lhe dava direito a uma remuneração mensal. Com esse mesmo desiderato, o ex-prefeito Bernardo Matos, em 1943, com a ajuda da municipalidade e de outras personalidades da cidade, construíram uma casa para a poeta, que morava desconfortavelmente num casebre de taipa.

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A luta de José Cândido pela liberdade

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Normalmente quando se especula a respeito do mais importante jornalista do Maranhão, a resposta é unânime: João Francisco Lisboa, o qual, teve como contemporâneo, outro jornalista, também defensor de ideias políticas e princípios éticos,  chamado José Cândido de Moraes e Silva, que, na verdade, não alcança a dimensão nacional de João Lisboa, mas se destaca na ati­vidade jornalística pelo talento inexcedível e pela intrepidez como lutou pela liberdade dos maranhenses, numa fase em que os portugueses teimavam em não reconhecer a Independência do Brasil.

PRIMEIROS ESTUDOS

A 21 de setembro de 1807, José Cândido nasce no Sítio Juçara, em Itapecuru-Mirim. Filho de Joaquim Esteves da Silva, farmacêutico e português, e de Maria Querubina de Morais Rego, maranhense e de família nobre.

Com 9 anos, ele e mais cinco irmãos, todos menores de idade, ficaram sem o pai. Treze anos depois, em março de 1816, a mãe, também falece.

Na condição de órfãos, foram amparados pelos amigos e parentes. José Cândido fica sob os cuidados do comendador Antônio José Meireles, negociante português, que paga os seus estudos em São Luís. Aluno aplicado e inteligente, por conta de seu protetor, foi estudar na cidade de Havres, na França, de 1918 a 1821.

O comendador Meireles, percebe ser o protegido dotado de potencial vocação para as letras, por isso manda-o estudar Medicina em Lisboa e depois na Universidade de Coimbra, onde aprende grego e matemática.

RETORNO AO MARANHÃO

Ao tempo em que estudava em Coimbra, eclodiram no Brasil as lutas pela independência do jugo lusitano. Impregnado do sentimento de liberdade, abandona os estudos em Coimbra e a 15 de julho de 1823, deixa Lisboa com destino ao Maranhão, mas ao chegar não encontra o protetor, que se mudara para o Rio de Janeiro, mas recomenda ao seu guarda livros, José Gonçalves Teixeira, para colocar José Cândido à frente do serviço escrituração mercantil.

José Gonçalves, desencadeia perseguições de toda natureza e incompatíveis com a índole e a formação cultural de José Cândido, que chegavam ao cúmulo da agressão física. Depois de áspera altercação com o guarda-livros, o jovem itapecuruense abandona o serviço, indo morar na casa do avô paterno, que o recebe de braços abertos, onde já residiam as irmãs.

A NOVA FASE DE VIDA

Em 15 de dezembro de 1823, retorna às plagas em que nascera e instala-se em Palmeira Torta, às margens do rio Itapecuru, e monta um pequeno estabelecimento para venda de produtos agrícolas.

Os negócios iam relativamente bem, mas ele não se identifica com aquele tipo de vida, inadequada para quem tinha outras ambições. Com o falecimento do avô paterno em 1825, abandona Palmeira Torta e retorna a São Luís, onde, em maio de 1926, passa a morar com as irmãs.

Aos 19 anos, para sustentar a família, abre, na própria casa, uma pequena escola, para ensinar as primeiras letras, francês e geografia, o que fazia também em residências particulares e para quem desejava seguir a carreira militar.

COLÉGIO E JORNAL

Proibido de dar aulas para os futuros militares, instala um modesto internato. Para melhorar o estabelecimento, associa-se ao amigo Manuel Pereira da Cunha. Dessa união, surge um colégio de bom padrão, bem como fundaram uma modesta tipografia.

Com os recursos provenientes dos negócios, José Cândido e as irmãs tiveram as vidas substancialmente melhoradas. O desejo de ingressar na atividade política, começa a inquietá-lo e a comprometer a profissão de professor. Resolve, então, substituir o magistério pela tribuna jornalística, para defender as causas do povo e os desmandos dos governantes.

Determinado a cumprir a missão de jornalista, não se intimida com as invectivas pessoais e morais assestadas contra a sua pessoa, monta um jornal, que, a 27 de dezembro de 1827, circula com o título de O Farol, considerado o primeiro órgão divulgador das ideias liberais no Maranhão, para combater “os excessos contra a Constituição, a liberdade, a segurança individual e a propriedade dos cidadãos brasileiros”.

PERSEGUIÇÃO

O Farol, na sua luta constante e tenaz contra a opressão e o autoritarismo, não perdoava os governantes que teimavam, mesmo depois da independência, em ofender e perseguir os maranhenses pelos jornais oficiais Minerva e Bandurra.

A partir de fevereiro de 1928, passa a ser alvo de irresistível perseguição, do novo presidente da província, marechal Manuel da Costa Pinto, que não via com bons olhos um órgão da imprensa difundindo ideias liberais.

A princípio, tenta impedir a circulação de O Farol e fechar a tipografia onde era impresso. Como não consegue, pressiona o promotor público, Joaquim José Sabina, a mover seguidos processos contra o jornalista, sob a justificativa de cometer “delitos de abusos de liberdade de imprensa”. A despeito da perseguição, José Cândido não se abate e continua a batalhar pela causa da liberdade.

Não satisfeito, a autoridade provincial prepara contra o dono de O Farol um plano de vingança, para ficar sob a ira da opinião pública. Enquanto atacado, mais José Cândido se fortalecia politicamente e conquistava forças para defender as ideias para a conquista da liberdade do povo maranhense.

PRISÃO E LIBERDADE

Sem fazê-lo recuar com relação às causas que considerava justas, o presidente Costa Pinto, no auge da insanidade, o intima a comparecer ao Palácio, onde é submetido a rigoroso e desumano interrogatório, que serve de desculpa para prendê-lo, ato que fez O Farol deixar de circular e privar a família dos meios de subsistência.

Na prisão, recebe a solidariedade dos que comungavam com as suas ideias, a ponto de a ele serem oferecidos recursos para fugir com destino à Europa, o que recusa, pois queria ficar no Maranhão, para continuar a luta que abraçara. O maior apoio que recebe naquela fase de prisioneiro partiu do amigo, Odorico Mendes, que veio do Rio de Janeiro para prestar-lhe solidariedade.

Após cinco meses de reclusão, consegue, afinal, a liberdade por iniciativa do novo presidente do Maranhão, desembargador Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, a 14 de janeiro de 1829. O Farol que havia paralisado a publicação no número 56, volta a circular.

PARTICIPAÇÃO NA SETEMBRADA

Com a abdicação de Pedro I, a 7 de abril de 1831, os liberais maranhenses, dentre os quais José Cândido e Frederico Magno de Abranches, articulam um movimento, conhecido por Setembrada, com o apoio de militares e de populares, exigindo do presidente da província várias reivindicações.

Num primeiro momento, o presidente Araújo Viana concorda com as propostas, tempo que precisa para a a13 de novembro prender os oficiais e os líderes civis engajados na Setembrada.

O dono de O Farol, um dos alvos da ofensiva governista, não consegue ser preso, porque foge para as matas do Itapecuru, onde fica até receber a cobertura parlamentar de Odorico Mendes, que o abriga em sua residência.

Por julgar que a casa do fraternal amigo não lhe dava a devida e necessária segurança, aluga casa, na Rua dos Remédios, dotada de esconderijo e propício para refugiar-se. Em uma das vezes, os policiais demoraram mais tempo do que o previsto e, por pouco, ele não morria asfixiado.

TRISTE FIM

Diante de tanta perseguição, suas condições físicas e financeiras pioraram e o seu organismo entra em processo de definhamento, causando-lhe o estreitamento da uretra, que, à falta de condições higiênicas, resulta numa incontrolável inflamação, cujo inexorável resultado é a sua morte em 18 de novembro de 1832.

José Cândido não publicou livros, mas o que escreveu no seu jornal serve, de acordo com o biógrafo Henriques Leal, para atestar que “Não houve nunca jornal que exercesse ascendente mais decidido sobre a população, nem tribuna que atraísse mais ouvintes, ou granjeasse com a sua imensa popularidade tão frenéticos e espontâneos aplausos”.

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REIS PERDIGÃO E A REVOLUÇÃO DE 30

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No dia 3 de outubro passado, completou 90 anos da Revolução de 30 no Brasil, episódio que passou em brancas nuvens no país, por conta da consabida falta de memória do brasileiro, com relação aos atos ou movimentos, destinados a mudar ou melhorar a vida de nossa gente e de nossa pátria.

A chamada Revolução de 30 é um exemplo desse desprezo por uma rebelião político-militar, que aconteceu ao final da Primeira República (1889-1930), com o objetivo de destruir a máquina administrativa, oligárquica e corrupta, dominada pelos presidentes dos estados de São Paulo e Minas Gerais, que se alternavam no Palácio do Catete.

O início do movimento, teve como pretexto o assassinato de João Pessoa, candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, candidato da Aliança Liberal.

REVOLUCIONÁRIO MARANHENSE

Dos movimentos políticos, que vieram à tona no Brasil e encabeçados pelos jovens tenentes, na década de 1920, destacando-se a Revolução Constitucionalista de 1922, em São Paulo, a de 1924, chefiada pelo general Isidoro Lopes, a Coluna Prestes, em 1925, liderada por Luís Carlos Prestes, e a Revolução de 30, sob o comando dos tenentes Juarez Távora, Siqueira Campos, Djalma Dutra, João Alberto, Cordeiro de Farias e Miguel Costa, o maranhense José Maria Reis Perdigão teve atuação  ativa e notabilizou-se pela audácia, coragem, determinação política e cultura, nascido em São Luís a 19 de abril de 1900, filho de Domingos de Castro Perdigão, um dos fundadores da Faculdade de Direito de São Luís.

Depois de passar a infância e parte da adolescência em São Luís, com 18 anos, muda-se para o Rio de Janeiro, onde gradua-se em Direito e começa a trabalhar em jornais e revistas, na função de redator.

Tinha 24 anos, quando troca o Rio de Janeiro por São Paulo, para juntar-se às forças que lutavam contra o Governo de Getúlio Vargas e comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes. De São Paulo, viaja para o Paraná, onde integra-se à Coluna Prestes, comissionado no posto de tenente e editor do jornal O Libertador.

Com o malogro da Coluna Prestes, exila-se na Argentina, morando dois anos em Buenos Ayres.

AÇÕES NO MARANHÃO

Em 1927, Reis Perdigão retorna ao Brasil e vem ao Maranhão, sendo convidado pelo grupo político, chefiado pelo médico Tarquínio Lopes, para se engajar ao movimento contra o governador Magalhães de Almeida, proposta que não lhe seduz, por só acreditar na luta armada.

Ao retornar ao Rio de Janeiro, recebe convite sedutor, do amigo, general Miguel Costa, para preparar no Maranhão e no Piauí uma rede conspiratória e engrossar no Norte do País, um movimento sedicioso de tomada de poder e derrubar do Palácio do Catete, o presidente Washington Luís.

Com este desiderato, retorna a São Luís em 1930 e com os tarquinistas passa a conspirar para derrubar, pela via revolucionária, as oligarquias dominantes no Maranhão.

A TOMADA DO PODER

 As primeiras ações para a deflagração em São Luís da tomada do poder, vieram pelo comunicado do tenente Juarez Távora de que o movimento sedicioso aconteceria na madrugada de 3 para 4 de outubro, oportunidade em que os adeptos de Reis Perdigão deveriam depor o governador Pires Sexto e tomar de assalto o quartel do 24º Batalhão de Caçadores, à época, instalado na Praça Deodoro.

Esse plano não deu certo porque a notícia chegou ao conhecimento do governador do Estado e do comandante do 24º BC, Luso Torres, que trataram de providenciar reforços e frustraram o levante.  

Reis Perdigão e os companheiros de conspiração não se deram por vencidos, tanto que prepararam para o dia 8 de outubro outra investida ao Palácio dos Leões e ao quartel do Exército, ato que contou, desta feita, com a participação do sargento Paes de Amorim, que, simpatizante do movimento, iniciou só e corajosamente a rebelião dentro do 24º BC, onde os revolucionários assumiram as ações sediciosas, reforçadas pela adesão do tenente Celso Freitas, com vistas a destronar o governador Pires Sexto, que mandou desligar a luz pública da cidade, para impedir o ataque ao Palácio.

Naquela madrugada de 9 de outubro, acontece o impossível: um soldado do Exército, que se encontrava de serviço nas ruas, embriaga-se e resolve retornar à caserna de maneira sorrateira, sendo flagrado pela sentinela e recebido à bala. Resultado: um intenso tiroteio veio à tona, despertando a população da cidade, que já se encontrava em pânico.

 Apavorado, o governador Pires Sexto, na suposição de o Palácio ser invadido e ele morto pelas tropas de Reis Perdigão, evadiu-se e viaja para Belém, a bordo de um vapor, já preparado para uma repentina fuga. 

ASSUME A JUNTA GOVERNATIVA

Às sete horas da manhã de 9 de outubro, depois de receberem a adesão dos oficiais da Polícia Militar, os revolucionários entram no Palácio do Governo, que passa a ser chefiado por uma Junta Governativa, constituída pelos tenentes Celso Freitas e José de Ribamar Maciel Campos e Reis Perdigão.

Por ordem do presidente Getúlio Vargas, a Junta Governativa, que ficou no poder de 9 de outubro a 15 de novembro, é substituída por interventores.

OS INTERVENTORES

O primeiro interventor nomeado para governar o Maranhão, indicado por Reis Perdigão, o major Luso Torres, que, por motivo de doença, entrega o cargo a 29 de novembro para Reis Perdigão, que, na sua gestão, deu prioridade a duas questões: os aluguéis residenciais e o custo de vida.

A 9 de janeiro de 1931, o comandante da revolução maranhense, transmite o poder para o padre Astolfo Serra, que se atrita com Reis Perdigão, sendo demitido e substituído por Lourival Seroa da Mota, que governa de setembro de 1931 a abril de 1932.  

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A CIDADE PLANEJADA(?) DE PARNARAMA

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Revendo o Álbum do Maranhão, editado em 1950, sob a responsabilidade do saudoso jornalista Miécio de Miranda Jorge, que ao longo de bons anos, militou nos Diários Associados, e ilustrado com fotografias do competente profissional Dreyfus Azoubel, encontrei informações ricas e preciosas sobre a vida administrativa, política, econômica e social do Maranhão.

O Álbum, pela sua excelente qualidade editorial, merece ser reeditado, para que as novas gerações possam ter a oportunidade de saber a respeito da situação em que se encontrava o nosso Estado, administrado pelo interventor federal, Paulo Ramos, nos anos da ditadura getuliana(1937 a 1944), após o que retornou ao regime democrático, sendo governado por Sebastião Archer da Silva,  eleito a 31 de janeiro de 1947.

MUDANÇA DE NOMENCLATURA

Nessa primorosa publicação de Miécio Jorge, tomei conhecimento de que em 1950, só existiam 72 municípios no Maranhão, alguns com os nomes de Picos, Curralinho, Miritiba, Ipixuna, Macapá, Engenho Central, Curador, Vila do Bacuri, Flores, Ponte Nova, São José dos Matões, mas posteriormente mudaram de nomenclatura e atualmente são conhecidos, respectivamente, por Colinas, Coelho Neto, Humberto de Campos, São Luís Gonzaga, Peri-Mirim, Pindaré-Mirim, Presidente Dutra, Santa Quitéria, Timon, Urbano Santos e Parnarama.

CIDADE PLANEJADA

De tudo que vi e li no Álbum do Maranhão, o que mais chamou a minha atenção foi a descoberta de que a partir de 1948, o nosso Estado passou a contar com um novo município, denominado Parnarama, dentro do qual surgiu uma cidade construída “pelo espírito progressista dos ideais municipalistas e sob os ditames do planejamento”, segundo os idealizadores do projeto.

Situada à margem esquerda do rio Parnaíba, era a primeira cidade maranhense erguida sob o signo modernista, com construções edificadas num planalto, tendo por berço o antigo município de São José dos Matões.

A nova sede do município, dista da antiga, cerca de 32 quilômetros, devia-se ao dinamismo do prefeito Lauro Barbosa Ribeiro e dos esforços do deputado estadual, Joel Barbosa Ribeiro.

A planta da nova cidade teve como autor o engenheiro Mauro de Sá Mota, funcionário federal e técnico do Ministério do Trabalho.

MATÕES VIRA PARNARAMA

O antigo município de São José dos Matões teve por sede, durante mais de um século, a velha cidade do mesmo nome, localizada em um chapadão insalubre, desprovida de água, tornando-se imprópria a qualquer reforma urbanística, motivo que levou os irmãos Lauro e Joel a conseguirem, mediante processo no Departamento Regional de Geografia  e uma lei, votada na Assembleia Legislativa, a mudança da sede municipal para um outro local, previamente escolhido e encravado numa área de terra de 500 hectares, doada pelo cidadão, José Torres de Assunção e mais 3 mil hectares, posteriormente adquiridos pelo prefeito municipal.

A CONSTRUÇÃO DA NOVA CIDADE

A construção da nova cidade começa em maio de 1947, numa solenidade que contou com as presenças dos deputados estaduais, Alexandre Colares Moreira e Joel Barbosa Ribeiro e dos médicos Antônio Costa Rodrigues e Pedro Braga Filho.

A transferência da sede do município de São José dos Matões para a nova cidade de Parnarama, resultou da lei estadual nº 128, de 17 de setembro de 1948.

Os primeiros prédios construídos foram de natureza pública, destacando-se a prefeitura, um grupo escolar, um mercado, um posto de puericultura e uma cadeia.

Uma particularidade: às ruas da nova sede do município foram dados nomes dos municípios maranhenses, fato que constitui algo inédito nas cidades brasileiras.      

 Faziam limite com Parnarama, os municípios de Caxias, Timon, São Francisco do Maranhão, Passagem Franca e Buriti Bravo, dotado de uma população 32.987 habitantes e uma superfície de 4.100 km2.

PARNARAMA: ONTEM E HOJE

Parnarama é uma das poucas cidades do Maranhão que eu não conheço e nunca tive interesse em pisar os pés naquele pedaço de chão pelo fato de não saber da sua origem, respaldada em estudos técnicos e devidamente planejada.

De Parnarama, o que eu sabia era algo vexatório e depreciativo: um município onde a fraude eleitoral nos anos 1950 corria solta e célere.

Hoje, 72 anos depois de sua construção, sob os fluidos  da modernidade e do planejamento, eu queria apenas esta informação: os prefeitos que sucederam a Lauro Barbosa Ribeiro, continuaram a executar o projeto concebido pelo engenheiro Mauro de Sá Mota, ou Parnarama parou no tempo e no espaço, e não passa de uma cidade semelhante às oitenta e três,  criadas irresponsavelmente pelos deputados estaduais que fizeram a recente Constituição de 1989, que transformaram povoados, desprovidos das mínimas condições de serem municípios, portanto, inabilitadas para adquirirem autonomia administrativa e emancipação política?      

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A TELEVISÃO NO MARANHÃO

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O Brasil comemora 70 anos da inauguração da primeira estação de televisão, a TV Tupi, em setembro de 1950, em São Paulo, solenidade que se repetiu na Cidade Maravilhosa, em janeiro de 1951, eventos presididos pelo poderoso dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, proprietário de quase todas as emissoras de rádio e jornais do País.

Eu tive o privilégio de ver a chegada da televisão em São Luís em dois marcantes momentos.

PRIMEIRO MOMENTO

Eu era estudante do Liceu Maranhense quando em fevereiro de 1955, por motivos políticos, o povo de São Luís teve a invejável oportunidade de conhecer uma novidade eletrônica, que o saudoso jornalista carioca, Stanislau Ponte Preta, chamava de “máquina de fazer doido”.

A população maranhense, em matéria de veículos comunicação social, desfrutava de três emissoras de rádio, cinco jornais e dezenas de serviços de alto falantes, de repente se dá conta de ser a terceira cidade do Brasil a ter diante dos olhos e ouvidos, imagens transmitidas pela televisão.

ELEIÇÃO DE CHATEAUBRIAND

Quem empreendeu tão arrojada iniciativa foi o jornalista Assis Chateaubriand, não por motivos financeiros ou culturais, mas por razões políticas, pois perdera a eleição de senador na Paraíba, sua terra natal.

Como Chatô era homem poderoso, o PSD precisava de sua cadeia de rádio, jornal e televisão, para apoiar a candidatura de JK à Presidência da República em 1955. Resultado: sob as bençãos do senador Vitorino Freire e do governador Eugênio Barros, o PSD maranhense assumiu o compromisso de realizar uma eleição fora de época.

Para isso, contaram como a colaboração do senador Antônio Bayma e do suplente Newton Bello, que renunciaram aos mandatos, bem como do TRE, que marcou para 5 de março de 1955, a nova eleição, na qual Assis Chateaubriand derrotou o candidato das Oposições, coronel da Aeronáutica, Armando Serra de Menezes.

A TV NA PROPAGANDA

Como não havia tempo para a realização de comícios e propaganda do candidato do PSD ao Senado, que estava sendo bombardeado pelos oposicionistas, que o denunciavam como barganha política, a direção dos Diários Associados trouxe para São Luís, técnicos e equipamentos da TV Tupi, e usaram os estúdios da Rádio Timbira, que funcionava no começo da Rua Osvaldo Cruz, de onde geravam imagens para os aparelhos de televisão, espalhados na Praça João Lisboa, para uma multidão que às noites comparecia para ouvir notícias, vocalizadas pelo famoso locutor Carlos Frias, bem como  ver shows de artistas nacionais do rádio, cinema e teatro do nível de Adelaide Chiozzo, Trio Irakitan, Francisco Carlos, Emilinha Borba, Ivon Cury e de cantores da terra, a exemplo da Dupla Ponto e Vírgula, Orlandira Matos, Lourdinha Costa, Maria Emília, Hamilton Raiol e Joran Coelho.

SEGUNDO MOMENTO

O segundo momento da presença da televisão em São Luís, verificou-se quando eu cursava Direito, na antiga Faculdade da Rua do Sol.

Desta vez, a tevê veio para ficar, época em que a sociedade maranhense exigia inovações tecnológicas, na área da comunicação social, onde a televisão era a principal atração.

A inauguração da pioneira estação de TV em São Luís, surge oito anos depois do arremedo de televisão, que Chateaubriand instalou com finalidade eleitoral. Às 21 horas de 9 de novembro de 1963, o representante do Presidente da República, ministro da Justiça, Abelardo Jurema, o governador Newton Bello e o deputado Raimundo Bacelar apertaram um dispositivo eletrônico, fazendo com que as imagens da TV- Difusora, canal 4, fossem para o ar.

 ENLATADOS E DE CHANCHADAS LOCAIS

Os irmãos Raimundo e Magno Bacelar, que não eram neófitos na área da comunicação social, pois fundaram o Jornal do Dia e a Rádio Difusora, adquiriram os equipamentos de televisão nos Estados Unidos e os instalaram nos últimos pavimentos do Edifício João Goulart, na Avenida Pedro II

Mesmo funcionando em espaços não adequados, a TV Difusora veiculava uma programação à base de enlatados, com filmes geralmente americanos e seriados, intercalados com programas de artistas locais, que, sob à direção do saudoso Reynaldo Faray, apresentava shows, entrevistas e até novelas, que não passavam de chanchadas tupiniquins.  

Quem pagou um preço alto por acreditar que a TV Difusora viera para ficar, foi um pequeno número de gente, que, por isso, via a casa ser invadida por vizinhos curiosos e visitas incômodas. Alguns, para se livrarem dessas inoportunas figuras, fechavam antes do anoitecer as portas das moradias. Outros, porém, mais sabidos, cobravam dos visitantes e curiosos, um pequeno valor monetário, para ajudar no custo da eletricidade.

A CHEGADA DO VÍDEO-TAPE

Três anos depois da inauguração da TV Difusora, quando havia aumentado consideravelmente a quantidade de aparelhos de tevê e de telespectadores, os irmãos Bacelar, aprontaram outra surpresa aos maranhenses: em junho de 1966, implantaram o sistema de vídeo-tape, que fez a  programação da emissora dar uma guinada de 180 graus.

Pelo vídeo-tape, os programas veiculados pelas emissoras do Rio e São Paulo, como noticiários, novelas, shows com cantores nacionais e estrangeiros, apresentações de peças teatrais, com atores e atrizes famosos e partidas de futebol, com os grandes craques, passaram a ser vistos, não simultaneamente com os sulistas, mas dias depois.    

A REPERCUSSÃO DAS NOVELAS

A primeira novela transmitida pela TV Difusora foi produzida pela Record, chamada de Redenção, que fez enorme sucesso em São Luís, a ponto de dar nome a um bairro novo, nas proximidades do Filipinho.  A realidade dos moradores assemelhava-se à ficção novelesca.

Por causa dessa novela, um garoto que morava no Apeadouro, ao ver uma cena violenta, teve um choque emocional e perdeu a fala por várias horas.

Nessa mesma novela, uma das atrizes interpretava uma mulher fofoqueira denominada de Maroca, que acabou virando em São Luís o verbo marocar.    

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PÉROLAS POLÍTICAS DE ALFREDO DUAILIBE

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Quando o Dr. Alfredo Duailibe deixou a política e a medicina, atividades nas quais se projetou no Maranhão como uma das mais importantes figuras humanas e profissionais, eu, conquanto não fosse de sua geração, sempre o visitava, a princípio na sua confortável casa, no Calhau, que trocou depois por um apartamento bem amplo, no bairro Renascença, onde, morava em companhia da idolatrada esposa, Maria, e da filha Teresa.

Nessas costumeiras visitas, geralmente vespertinas,  conversávamos sobre assuntos diversos, mais do passado do que do presente, sobretudo do tempo em que militou na vida pública, quando nela ingressou a convite do interventor federal Saturnino Bello, para dirigir o Departamento de Instrução Pública, em 1946, na transição da ditadura para a democracia, época em que conheceu Vitorino Freire, com o qual forjou uma longa e fraterna amizade.

Ao longo de nossas conversas, Dr. Alfredo, dotado de memória privilegiada, não fazia reservas ou deixava de contar, com riqueza de detalhes, tudo que eu perguntava sobre pessoas, atos e fatos de uma das fases mais polêmicas e importantes da política maranhense, relatos que tenho gravado e de onde selecionei algumas pérolas políticas, para conhecimento das novas gerações, que ignoram por completo as figuras humanas que pontificavam no cenário político maranhense, no qual Alfredo Duailibe, brilhou pela competência, honradez e integridade, como deputado federal, secretário de Estado, suplente de senador, senador, vice-governador e chefe do Executivo.

Ele nasceu em São Luís a 19 de outubro de 1914, filho de Linda Sady e Salim Nicolau Duailibe, ambos libaneses. Formado pela Faculdade Nacional de Medicina, do Rio de Janeiro. Faleceu a 24 de abril de 2010, com a idade de 95 anos.   

AS PÉROLAS POLÍTICAS

– O governador Sebastião Archer da Silva, ao contrário do que aparentava, era um político sabido, astucioso, esperto e primava pelo cavalheirismo e refinada educação.

– Vitorino Freire jamais interferiu em qualquer administração estadual ou procurou tutelar qualquer governador do Maranhão.

– A competência política de Vitorino podia ser medida pelo tipo de oposição que enfrentava no Maranhão, gente de luta e de capacidade, a exemplo de Clodomir Cardoso, Lino Machado, Genésio Rego, Clodomir Millet, Neiva Moreira, Fernando Viana e Henrique de La Rocque.

– Quem começou a quebrar o comando político de Vitorino no Maranhão não foi Newton Bello, mas Renato Archer, pelo enorme prestígio que desfrutava no governo do presidente Juscelino Kubitscheck.

– Dos governadores eleitos por Vitorino, Newton Bello foi o que menos se enquadrou ao vitorinismo.

– Eugênio Barros era muito amigo de Vitorino, mas não tolerava o seu secretário de Interior, Justiça e Segurança, Benu Lago.       

– Foi com a Revolução de 1964, que adotava o figurino político da UDN, que Vitorino começou a perder o prestígio político que tinha no plano federal.

– Vitorino só fez bem aos militares, mas a Revolução foi ingrata com ele.

– Vitorino tinha uma qualidade nobre: sabia respeitar as amizades dos amigos com seus adversários políticos. Ele jamais questionou o meu bom relacionamento com Sarney.

– Eu aconselhei Sarney a não renunciar ao mandato de governador, quando foi pressionado pelos militares, em 1968, baseado no fato de ser eleito pelo povo e não pela Revolução.

– Fraude eleitoral no Maranhão sempre houve. Quando o PSD fazia era de acordo com os oposicionistas.

– Os três melhores governadores que o Maranhão teve em todos os tempos: Paulo Ramos, Newton Bello e José Sarney.

– Chico Abreu, próspero comerciante de Ipixuna, atual, São Luís Gonzaga, não era profeta, mas costumava dizer ao meu pai, Salim Duailibe: – O seu filho, Alfredo, quando crescer vai ser médico e governador do Estado.

– No final do governo Newton Bello, ele mandou sondar-me para assumir o cargo de governador e assinar o ato de sua aposentaria de consultor jurídico. Diplomaticamente, não concordei com a proposta, mas aceitei ausentar-me do Estado, para que o seu substituto legal, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Aldenir Silva, satisfizesse os interesses pessoais do governador.

– O que eu consegui ao longo da minha vida, devo à medicina e ao magistério de nível superior. Da política, não ganhei materialmente nada. Dela só conquistei amizades.  

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O TRICENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS

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Em 2012, houve uma extensa programação de eventos, organizada pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Luís, com vistas às comemorações do quarto centenário de fundação da capital maranhense.

Naquela vasta programação, faltou, contudo, algo precioso e importante: um álbum comemorativo e ilustrado, preparado com esmero e recursos da tecnologia moderna, sobre avanços e conquistas da cidade aniversariante, ao longo de seus quatro séculos de vida, assim como fizeram o Governo do Estado e a Prefeitura de São Luís, em 1912, quando festejaram o terceiro centenário de fundação da capital maranhense.

O ALBUM DO TRICENTENÁRIO

A feliz iniciativa de publicar um álbum relativo aos trezentos anos de fundação de São Luís foi do governador do Maranhão, Luiz Domingues da Silva (1910-1914) e do intendente da cidade, Mariano Martins Lisboa, à época, eleito para cumprir apenas dois anos de mandato (1910-1912).

O álbum, porque ainda não havia policromia, teve a impressão em preto e branco, trabalho realizado pela Typogravura Teixeira, considerada a melhor da cidade, com textos e fotos sobre os festejos comemorativos de tão auspicioso evento histórico.

A COMISSÃO ORGANIZADORA

Para não haver nenhuma suspeita quanto à competência da comissão organizadora do tricentenário da cidade, o governador Luiz Domingues nomeou um grupo de alto nível, formada pelo geógrafo e professor do Liceu, Justo Jansen Ferreira, o historiador e diretor da Biblioteca Pública, José Ribeiro do Amaral, e o oficial da Secretaria de Governo, Domingos Castro Perdigão, para preparar uma programação “que se estendesse do dia 8 de setembro, data em que foi implantada, em 1612, a primeira cruz, no lugar onde é hoje a Avenida Maranhense (Pedro II), até o dia 1° de novembro , quando celebrou-se a incorporação dos indígenas da ilha à civilização do Ocidente pelo compromisso de obediência à França”.

EXPOSIÇÃO DOS PRODUTOS

A parte principal da comemoração foi a exposição dos produtos do Estado, “organizado pela Sociedade Popular do Trabalho e instalada em cinco vastos salões do Palácio, ladeados pelo jardim da entrada e o Jardim Zoológico, que se achavam artisticamente ornamentados”.

 Os salões palacianos “ostentavam belíssima decoração e de imenso gosto estético. No salão nobre realçavam as bandeiras nacional, a maranhense e a francesa. Numa das paredes, estava armado, em quadro, a carta geográfica do Estado, trabalho da autoria do Dr. Justo Jansen Pereira”.

A ornamentação interna e externa do Palácio dos Leões “foi toda custeada por empresas da cidade e fotografada pelo sr. Abdon Coelho, proprietário da Fotografia Popular”.

A INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO

No dia da inauguração, “realizaram-se festas e solenidades no recinto da exposição, que se tornou o centro da comemoração, sendo franqueada ao público e visitantes às quintas-feiras, domingos e feriados”.

“A harmoniosa orquestra dos Irmãos Pargas deliciou os convidados com uma festa musical, onde foram executadas e escolhidas belas melodias. Essa atração artística atraiu grande número de famílias ao evento, especialmente os amantes da boa música”.   

PRESENÇAS ILUSTRES

Além das autoridades e de figuras importantes da sociedade maranhense, a Exposição Comemorativa “foi honrada com a visita de muitos viajantes, em trânsito na cidade, dentre estes alguns estrangeiros de alta posição social, como o ilustre general Ismael da Rocha e o famoso escritor francês, Paul Adam e de sua esposa”.

Para receber o intelectual visitante, “o governador Luiz Domingues, nomeou uma comissão especial, formada por Antônio Lobo, Godofredo Viana, Joaquim Franco de Sá, José de Almeida Nunes e Domingos Barbosa, major João Pedro Smith e do padre José Lemercier”.

Os ilustres hóspedes franceses “foram homenageados com um suntuoso almoço no Palácio do Governo, onde a Comissão da Exposição ofereceu ao casal diversos produtos maranhenses”.

O ENCERRAMENTO DA EXPOSIÇÃO

Como o programado, “encerraram-se a 1º de novembro de 1912, os festejos comemorativos ao Tricentenário da Fundação de São Luís, ato revestido de brilhantismo, notando-se a presença das principais autoridades civis, militares, professores e alunos da Escola Modelo e do Instituto Rosa Nina, representantes da imprensa e de funcionários públicos”.

Presidiu a cerimônia o governador Luiz Domingues, que fez questão de premiar os produtores, após o que concedeu a palavra ao Dr. Justo Jansen, presidente da comissão organizadora, ao longo do discurso disse que a França, “se manteve grande  entre as nações do mundo, para, mais uma vez, assegurar o valor da raça”.       

 Ao final da brilhante oração, fez questão de “glorificar Daniel de La Touche, senhor de La Ravardiére e dos seus arrojados companheiros que se deixaram esta ilha, com a esperança desvanecida de fundar a França Equinocial, em compensação, formaram os primórdios desta cidade, cuja população, 300 anos depois, aqui, distintamente representada, rememora os seus nomes, conservando-os entre os valorosos que da lei da morte se libertaram, permitindo-me parafrasear, mais uma vez, o sublime verso do imperecível vate da heroica nação lusitana de que descendemos”.

FRANCESES E PORTUGUESES

Pelo que li no Álbum Comemorativo do 3º Centenário da Fundação de São Luís, em 1912, o povo participou e aplaudiu o tão festejado evento, durante o qual não aconteceu nenhuma discussão ou polêmica, como se viu em 2012, em que intelectuais e historiadores, pelos jornais ou em reuniões acadêmicas, defendiam teses ou opiniões divergentes acerca da fundação de São Luís.

Enquanto um grupo defendia ardorosamente a tese da fundação de São Luís pelos franceses, o outro grupo, abraçava a causa de que a capital maranhense teve os portugueses como fundadores.

Em 1912, o povo do Maranhão não estava dividido entre franceses e portugueses quanto à fundação de São Luís, pois o sentimento dominante, à época, era de que a glória dessa iniciativa pertencia indiscutivelmente à França.

Outro assunto que não levantava discussão naqueles tempos: o nome da capital maranhense, que deveria ser grafada com s e não com z.        

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NOVENTA ANOS DE GULLAR

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Se Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, não tivesse falecido a 4 de dezembro de 2016, no Rio de Janeiro, onde estava radicado desde 1951, certamente que a cultura brasileira comemoraria no próximo dia 10 de setembro, os seus noventa anos de vida, quase todos dedicados às letras e às artes do País.

Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Lago Burnett, José Sarney, Lucy Teixeira, José Bento Neves e outros jovens intelectuais, fizeram parte do movimento literário que vicejava em São Luís do Maranhão, no final da década de 1940, que se reunia com frequência em uma movelaria na Rua do Sol e onde nasceu a revista A Ilha, tendo como parceiro o também poeta Lago Burnett, totalmente voltada para a promoção dos novos valores literários de nossa terra.

O intelectual maranhense notabilizou-se a nível nacional por ser um escritor talentoso, um poeta de expressão, um crítico de arte renomado, um tradutor respeitado, um memorialista famoso e um ensaísta invejável, sendo, também, famoso por ser um dos fundadores do neoconcretismo.

Gulllar foi um escritor engajado politicamente, integrou as fileiras do PCB, razão porque foi perseguido pela ditadura militar, exilando-se na União Soviética, Argentina e Chile.

Depois de muito assédio, concordou em fazer parte da Academia Brasileira de Letras, eleito para a Cadeira 37, que pertencia a Ivan Junqueira, e tomou posse a 5 de dezembro de 2014.

VIDA E OBRA

Em setembro de 1998, uma das melhores revistas de cultura publicadas no Brasil, denominada Caderno de Literatura Brasileira, editada sob os auspícios do Instituto Moreira Salles e da Lei de Incentivo à Cultura, dedicou toda uma edição ao extraordinário homem de letras, nascido em São Luís.

Dentre as matérias incluídas na revista, todas de excepcional qualidade literária, selecionei a intitulada “A campanha”, que traz uma cronologia, um verdadeiro retrato sem retoque dos primeiros tempos de sua vida no Maranhão e de sua ida para o Rio de Janeiro, cidade que o projetou para o Brasil como extraordinário e polivalente intelectual.

A CRONOLOGIA

1930 – Nasce no dia 10 de setembro, na Rua dos Prazeres, 497, em São Luís, capital do Maranhão, José Ribamar Ferreira, quarto filho do comerciante Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Depois dele, o casal teria ainda mais sete filhos.

1941 – Matricula-se no curso primário do Colégio São Luís Gonzaga, um dos mis tradicionais da cidade e de orientação católica; quatro anos antes, iniciara seus estudos no Jardim Decroli, de onde sairia para ter aulas primeiramente com as irmãs Duarte, costureiras e dublês de professoras e em seguida numa escola particular, da qual acabaria fugindo.

1942 – É aprovado em segundo lugar no exame de admissão do Ateneu Teixeira Mendes; não concluiria, porém, o ano letivo nesse colégio.

1943 – Ingressa na Escola Técnica Federal. Apaixonado por certa Terezinha, moradora na mesma rua que ele, abandona seus dois grandes amigos, apelidados de “Esmagado” e “Espírito da Garagem da Bosta”.

O apelido de Gullar na época era “Periquito” e passa a ficar dentro de casa lendo livros retirados da Biblioteca Pública e escrevendo poemas.

1945 – Sua redação sobre o Dia do Trabalho ganha nota 95 e é elogiada pela professora de português na escola inteira. Os cinco pontos que faltaram para a nota máxima se devem a erros de gramática, levando-o a mergulhar no estudo das normas da língua.

A redação, que ironizava o fato de não se trabalhar no Dia do Trabalho, seria o ponto de partida para o soneto “O trabalho”, primeiro poema publicado por Gullar, três anos depois no jornal O Combate, de São Luís.

1948 – Começa a trabalhar como locutor da Rádio Timbira, ao mesmo tempo em que se torna colaborador do jornal Diário de São Luís.

1949 – Publica seu primeiro livro de poesia, “Um pouco acima do chão”, editado com recursos próprios e o apoio do Centro Cultural Gonçalves Dias.

1950 – Presencia o assassinato de um operário pela polícia, durante repressão do governo a um comício de Adhemar de Barros, na Praça João Lisboa, em São Luís.

Em protesto, nega-se a ler, em seu programa na Rádio Timbira, uma nota que aponta os comunistas e baderneiros como responsáveis pela morte. Essa atitude faz com que perca o emprego de locutor; o episódio, porém, rende-lhe um convite para participar da campanha politica no interior do Maranhão.

 Com o poema “O galo”, inspirado em anúncio do sal de frutas Eno, vence concurso promovido pelo Jornal de Letras; a comissão julgadora era formada por Manuel Bandeira, Willy Lewin e Odilo Costa Filho.

Gullar começa a escrever poemas que iriam integrar o livro “A luta corporal”

1951 – Muda-se para o Rio de Janeiro. Indicado pelo jornalista João Condé, consegue emprego na redação da Revista do Instituto de Aposentadoria e Pensão do Comércio. Conhece o crítico de arte, Mário Pedrosa, iniciando uma longa amizade. Publica na Revista Japa, que teve somente um número, o conto “Osiris come flores”. Entusiasmado com o texto, o escritor Herberto Sales, arranja-lhe um emprego de revisor na revista O Cruzeiro. Entre dezembro e março do ano seguinte, passa três meses num sanatório  em Correias, Estado do Rio, tratando de uma tuberculose.   

1953 – No dia em que completa 23 anos, é apresentado pelo jornalista Oliveira Bastos a Oswald de Andrade. O escritor modernista havia lido o então inédito e recém-concluído A luta corporal e leva de presente a Gullar dois volumes teatrais de sua autoria, um contendo “A morta e O rei da vela” e outro, “O homem e o cavalo”. Nessa época, Gullar começa a escrever “Crime na flora ou Ordem e Progresso”, texto quase que inteiramente em prosa poética. Concluído no ano seguinte, o livro só seria publicado em 1968 pelo editor José Olympio.   

1954 – Casa-se com a atriz Thereza Aragão, com quem teve três filhos. Lança a “Luta Corporal”, impresso na gráfica da revista O cruzeiro. Após a leitura do livro, os poetas Haroldo de Campos e Décio Pignatari escrevem-lhe uma carta manifestando o desejo de conhecê-lo. No final do ano, Gullar começa a trabalhar como revisor na revista Manchete.

1955 – Às vésperas do carnaval, conhece Augusto Campos, iniciando discussões a respeito da literatura. Trabalha como revisor no Diário Carioca, antes de engajar-se no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil.

1956 – A convite de Augusto e Haroldo Campos e Décio Pignatari, participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, que acontece em dezembro no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

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