DEBATES, EMBATES, COMBATES NAS ELEIÇÕES DE 2016
Deixei baixar a poeira das eleições de 2016, para abordar um assunto que ainda está na ordem do dia: a disputa pelo cargo de prefeito de São Luis.
Como costumava fazer num passado não tão distante, quando militava diariamente na imprensa maranhense, após o encerramento dos pleitos, tecia breves comentários sobre o comportamento dos candidatos e a postura do eleitorado.
Ontem, como hoje, são anotações captadas ao longo da campanha política, que chamaram a minha atenção. As eleições, realizadas na semana passada, a despeito das alterações nela processadas, visando torná-la mais limpas e verdadeiras, não atingiram os objetivos colimados, pois apresentaram vulnerabilidade e vícios de outrora.
Mesmo sem o financiamento privado, algumas ferramentas do passado, como o uso da máquina pública e a compra de votos, continuaram em voga e manipuladas por agentes políticos. Mas isso é assunto para outro momento. A conversa de hoje gira em torno de atos e fatos que levaram o pleito municipal de São Luis a ser realizado em dois turnos.
NOS DEBATES, SURPRESAS E DECEPÇÕES
O primeiro debate teve a participação de cinco candidatos: Edivaldo Holanda, Eliziane Gama, Wellington do Curso, Fábio Câmara e Eduardo Braid, este, depois de espernear juridicamente. A grande sensação do confronto foi o candidato do PMN, que, de maneira sensacional e surpreendente, despontou no cenário político, saindo do anonimato e impondo-se como o melhor do programa televisivo, tanto que tirou o candidato Wellington do páreo, e, por várias vezes, deixou o prefeito em situação desconfortável, face às fulminantes perguntas sobre a sua gestão.
Por conta do bom desempenho, Braide conquistou a classe média de São Luis, que nele votou em massa no primeiro turno, assegurando-lhe o direito de participar do segundo confronto, contra o prefeito, considerado favorito.
Mas quem o viu no primeiro debate, batendo forte nos adversários, especialmente no candidato do PDT, não o reconheceu no confronto seguinte. Em certos momentos, sobretudo quando o problema de Anajatuba veio à tona, mostrou-se descontrolado e em dificuldade para recuperar o ímpeto de bom lutador.
No primeiro, deu show e brilhou intensamente; no segundo, decepcionou e não repetiu a façanha anterior, mas a sua atuação foi superior à do adversário, que só se defendeu, sem convencer.
Se o candidato do PMN tivesse apresentado o desempenho igual nos dois programas, teria conseguido uma votação mais expressiva, que, talvez, ultrapassasse a vantagem abocanha pelo prefeito na zona rural.
NO EMBATE, A MÁQUINA PÚBLICA FUNCIONOU
Depois do debate, o embate propriamente dito. Foi aí que Braide perdeu a definitivamente a eleição, por conta do despudorado uso da máquina pública estadual e municipal, em favor do prefeito, fato comprovado pelos meios de comunicação e assistido candidamente pelas autoridades da Justiça Eleitoral, que não moveram uma palha para coibir ou intimidar os que a utilizaram como estratégia de luta para reeleger Edivaldo.
Nos quinze dias antes do pleito, o festival de gastança em favor do candidato do PDT, para ficar mais quatro anos no comando da prefeitura de São Luis, foi algo espantoso. Uma operação de guerra deflagrou-se em toda cidade, com o objetivo de reverter a posição que Braide alcançara em curto espaço de tempo e que ameaçava o favoritismo de Holandinha.
No centro urbano e na parte litorânea (São Francisco e adjacências), habitada pela classe média e mais elitizada, onde Braide conquistara adeptos e simpatizantes, o rolo compressor se fez presente ao longo do dia. Para execução dessa operação, um programa foi cumprido à risca e montado através de estratégias compactas e simultâneas, visando massificar e popularizar o nome e o número do prefeito.
Para agitar mais a cidade, em pontos de maior movimentação, a numerosa presença de gente contratada para balançar as bandeiras vermelhas do candidato do Governo. Para atrair as atenções dos moradores dos edifícios residenciais, centenas de carros de som infernizaram os ouvidos dos incautos com mensagens publicitárias e músicas que ressaltavam o número do candidato numa repetição sem fim do é 12, é 12, é 12, é 12, é 12, até o saco encher. Com vistas a tornar o número do candidato mais palatável, introduziram-se cartazes no frontispício dos prédios residenciais e adesivos nos carros particulares.
Na periferia da cidade e na zona rural, o esquema era outro, mas tão pesado e influente quanto ao aplicado no meio urbano. Naqueles redutos, o dinheiro correu solto e o voto funcionou como moeda de troca.
Enquanto a campanha de Edivaldo massacrava urbi et orbi, a de Braid brilhava pela ausência. Sem recursos, sem marqueteiro, sem apelo publicitário, sem carro de som e outros produtos do marketing, ao candidato do PMN restou a alternativa de sair com alguns abnegados amigos pelas ruas dos bairros e da periferia em busca de votos, usando para isso a persuasão, vocalizada pelo jovem deputado, que lembrava a luta de Davi contra o poderoso Golias.
Para culminar, a sua infeliz manifestação de não aceitar apoios de determinados grupos políticos, a exemplo, dos sarneístas. Nesse capítulo, Braide mostrou infantilidade e esqueceu a máxima de que em eleição o feio é perder.
NO COMBATE, PROJETOS E PROPOSTAS FARAÔNICOS
Ao longo do debate pela televisão, um pecado capital foi cometido pelos dois candidatos: a apresentação de propostas faraônicas e promessas irresponsáveis, para transformar São Luis numa Dysneylândia, tantos os sonhos demagógicos de ambos.
Fariam isso e aquilo, mas não explicavam o principal: com que recursos contariam para a realização de tantas obras e serviços. Por esperteza ou desconhecimento, omitiam a fonte de onde extrairiam verbas para emoldurar a cidade, como se fosse um sonho de uma noite de verão.
Qualquer pessoa mais ou menos bem informada sabe que há anos as receitas da Prefeitura são insuficientes para fazer face às despesas contraídas pela burocracia municipal. Não fossem as transferências federais, o caos já teria implodido o Palácio La Ravardière.
Algumas obras que a gestão de Edivaldo Holanda alavancou nos bairros foram com recursos repassados pelo governador Flávio Dino, que se empenhou a fundo para dar uma sobrevida ao atual prefeito e reelegê-lo para mais quatro anos.
A CRISE FISCAL E OS DESAFIOS DA CIDADE
Mas tudo leva a crer que no novo mandato, o gestor da capital maranhense não contará com os recursos do Governo do Estado, haja vista a política fiscal em andamento no país, com reflexos diretos nos cofres do Tesouro.
Está escrito nas estrelas que os prefeitos eleitos enfrentarão a mais difícil conjuntura de toda a sua vida pública, pois a mais grave crise fiscal que se tem registro na história do Brasil, explodirá com mais intensidade nas prefeituras, a unidade administrativa mais próxima das pessoas. O quadro municipal é o mais negativo, porque a grande maioria dos municípios não consegue pagar as contas com o dinheiro da arrecadação própria. A prefeitura de São Luis não foge a essa regra.
Nesses quatro anos de gestão, o prefeito Edvaldo Holanda Junior, com a ajuda do Governo do Estado, cuidou praticamente de questões pontuais da cidade: pavimentação de ruas, reforma das escolas e postos de saúde, construção de praças públicas e melhoramentos urbanísticos.
Mas do centro histórico, com o seu patrimônio arquitetônico e artístico, necessitado de reformas e de atenções especiais, não se ouviu uma palavra nessa campanha eleitoral. Esquecido pela atual administração, nada de positivo fez-se para recuperá-lo e torná-lo um dos pontos de atração turística de São Luis.
Por fim, que o primeiro ato do prefeito seja montar um secretariado de menor porte e estritamente técnico, evitando o loteamento da máquina pública municipal entre políticos fichas-sujas, evangélicos e carreiristas.