Normalmente, quando se especula a respeito do mais importante jornalista do Maranhão de todos os tempos todos os pensamentos voam na direção de João Francisco Lisboa.
A grandiosidade de João Lisboa, como jornalista e historiador, é de tal modo indiscutível e unânime, que ofusca o nome de outro maranhense, também brilhante, com atuação destacada no jornalismo e em movimentos políticos de nossa terra, chamado José Cândido de Moraes e Silva.
José Cândido e João Lisboa nasceram no mesmo município – Itapecuru. O primeiro, no Sítio Juçara, em 21 de setembro de 1807; o segundo no então povoado Pirapemas, em 22 de março de 1812. A separá-los apenas cinco anos, por isso, tiveram atuação relevante numa época histórica em que o povo maranhense lutou bravamente pela conquista da liberdade e a independência do Brasil.
Na verdade, embora contemporâneo de João Lisboa, José Cândido não alcançou a dimensão de seu ilustre conterrâneo. Mas não é por isso que a gente o esqueça e deixe de realçar a sua fulgurante participação na cena política e na atividade jornalística do Maranhão, através das quais pugnou por governos assentados no liberalismo e contra a tirania e o despotismo dos governantes.
A biografia de José Cândido nos dá conta de que ele perdeu os pais ainda criança e veio para São Luís, onde ficou sob os cuidados de um comerciante português, que custeou os seus estudos nesta cidade e depois na França e Portugal.
Quando estudava em Coimbra, eclodiram as lutas pela liberdade do Brasil do jugo lusitano. Abandono os estudos e retorna a São Luís, onde encontra dificuldades para se manter em companhia das irmãs, que ficaram na orfandade. Aos 19 anos, resolve ensinar francês e geografia em residências particulares. Ganha prestígio como professor, fato que o leva a associar-se a Manuel Pereira da Cunha, com o qual instala um colégio e monta uma modesta tipografia.
Apaixonado pela causa libertária do país deixa o magistério pela atividade jornalística, através da qual passa a combater os desmandos dos presidentes da Província do Maranhão. Com efeito, em dezembro de 1827, fazia circular em São Luís o primeiro número do jornal O Farol, considerado o primeiro órgão divulgador das ideias liberais, visando repudiar “os excessos contra a Constituição, as liberdades, a segurança individual e a propriedade dos cidadãos”.
A partir de fevereiro de 1928, José Cândido passa a ser alvo de perseguição do presidente do Maranhão, Manuel da Costa Pinto, que tenta impedir a circulação de O Farol e movendo processos contra o jornalista, que não conseguiram intimidá-lo ou recuar diante das difamações a ele imputadas. Quanto mais atacado, mais ganhava conceito e respeito da opinião pública.
No auge de sua insanidade, o presidente Costa Pinto intima o jornalista a comparecer ao Palácio do Governo, onde foi submetido a severo interrogatório, que resulta em sua prisão e a não circulação de O Farol. Preso e seviciado, recebe a solidariedade dos amigos e dos que comungavam com as suas idéias. A ele foram oferecidos recursos para viajar a Europa, proposta que recusa, pois desejava continuar no Maranhão e dar continuidade à luta que abraçara com destemor. Um de seus maiores amigos, o escritor Odorico Mendes, veio do Rio de Janeiro, especialmente para apoiá-lo.
Após cinco meses de prisão, José Cândido, por iniciativa do novo presidente do Maranhão, Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, em janeiro de 1829, manda soltá-lo. Livre, fez O Farol circular novamente, sem perder as características de jornal independente e de intransigente arauto das causas brasileiras.
Em abril de 1831, com a abdicação de D. Pedro I, em São Luís, veio à tona um movimento revolucionário, encabeçado por José Cândido e Silva e Frederico Magno Abranches. O movimento, com o apoio de militares e do povo, ficou conhecido como Setembrada e exigia dos governantes a expulsão dos portugueses, a suspensão dos desembargadores, a demissão dos funcionários que não fossem brasileiros e de padres contrários à causa do Brasil.
O presidente da Província, Araújo Viana, a princípio, mostra-se simpático ao movimento, mas muda de opinião e prepara uma ofensiva para prender as lideranças militares e civis da Setembrada, dentre os quais José Cândido. Este, a princípio, escapa da prisão porque foge e esconde-se nas matas do Itapecuru. Dias depois, volta a São Luís, homiziando-se na casa do amigo, Sotero dos Reis. Sentindo-se ali inseguro, aluga casa na Rua dos Remédios, onde se refugia quando caçado pela polícia. João Lisboa, seu amigo, toma a iniciativa de substituí-lo à frente de o Farol Maranhense, para que o jornal não deixe de circular.
Com a saúde abalada e sem recursos para se manter, o intrépido jornalista teve ainda de enfrentar uma enfermidade crônica, causado pelo estreitamento da uretra. A doença fez com que viesse a falecer em 18 de novembro de 1832, com a idade de 25 anos.