O ESTILO GOVERNAR DE CAFETEIRA

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Seis meses depois de Epitácio Cafeteira assumir o cargo de governador do Maranhão (15 de março de 1987) veio a lume a primeira crise na sua administração, que resultou na exoneração do secretário de Planejamento, Lino Moreira, que assim explicou: “Não me adaptei ao estilo de governar de Cafeteira”.

Antes de se eleger governador, Cafeteira exerceu o cargo de prefeito de São Luis, no período 1966 a 1968, no exercício do qual impôs um estilo de governar sui generis, a ponto de concluir o mandato com invejável popularidade, mesmo atritado com o governador da época – José Sarney.

O tipo de gestão empregado por Cafeteira no Palácio La Ravardiére deu-lhe tamanho prestígio popular, que, sem pestanejar, levou-o para o Palácio dos Leões. Três pilares sustentavam o estilo de gestão cafeteirista.

No primeiro pilar, reluzia o seu incontrolável estrelismo pessoal. Não à toa, administrou a cidade sem a população saber a equipe que com ele trabalhou.  Tudo girava em torno de sua figura exótica.  Brilhar mais do que ele só ele mesmo. Fazia questão absoluta de monopolizar as atenções da sociedade, sem nenhum auxiliar a lhe fazer sombra.  Parafraseando o rei francês Luis XIV, sempre dizia: “A prefeitura sou eu”.

No segundo pilar, estonteava a sua insaciável capacidade para concentrar decisões e monopolizá-las em benefício próprio. Por princípio e dogma, não delegava tarefas e as cumpria à risca. Na secretaria da Fazenda, pagamento não se fazia sem antes passar pelo seu crivo. Despesas de custeio e investimento só com o seu sinal verde. Processos só fluíam com a sua autorização. Por desconfiar de tudo e de todos, emperrava a burocracia municipal. Quem ocupava cargo comissionado sabia que o resultado do trabalho era canalizado para o prefeito. Nem a esposa, que dirigia o órgão da assistência social, tinha livre arbítrio para agir.

No terceiro pilar, o dom da onisciência aflorava em toda a plenitude. Costumava dizer que a sua cabeça era melhor do que plano de governo. Só ele sabia fazer as coisas e dar ordens. Ponderar e contestar eram verbos que não se conjugavam na prefeitura. Jamais pedia opinião ou consultava algum auxiliar. Marcou presença no cargo pelas ações intempestivas, comportamentos inusitados e gestos histriônicos. Cultiva a demagogia como arte política.

Anos depois de deixar o cargo de prefeito, Cafeteira elege-se governador em 1986, com o apoio de seu maior adversário político: José Sarney. Eleito, leva para o Palácio dos Leões o estilo usado no Palácio La Ravardière.

Mas bastaram seis meses de gestão de governo para mostrar que os dogmas que regiam seus princípios gerenciais não passavam de falácias. A equipe de trabalho que nomeou, e com bons nomes, não conseguiu se projetar e nem voar mais alto do que ele. Era o dono da verdade e da bola. Ao secretário da Fazenda, José Sousa, e ao chefe da Casa Civil, Eduardo Lago, que comandavam os órgãos mais importantes do aparelho estatal, não deu autonomia para caminharem com os próprios pés. Da Casa Civil retirou a função mais valiosa: a articulação política. José Sousa foi totalmente ignorado, fato que o levou a deixar o cargo. A esposa de Cafeteira, Isabel, nomeada secretária de Desenvolvimento Comunitário, perdeu a luminosidade. A ela não foram repassados os recursos para os programas e projetos de repercussão social.

No referente à centralização das decisões, continuou o mesmo da prefeitura. Enfeixou em suas mãos a máquina administrativa e fez dos titulares dos cargos figuras decorativas. As obras do Projeto Reviver só ganhavam corpo depois de vistoriadas por ele. Não era engenheiro, mas pousava de conhecedor das técnicas da construção civil. Muitas obras foram refeitas por não serem antes submetidas à sua consideração.

A exoneração do economista Lino Moreira da secretaria de Planejamento foi uma demonstração explícita de arrogância e de intolerância. Lino entrou na linha de tiro do governador por tomar medidas inerentes ao cargo que ocupava.  Ao avocar a gestão do Projeto Nordeste, foi acusado por Cafeteira de fazer um governo paralelo e gerador de crise.

Depois das linhas encimadas, uma pergunta é pertinente: por que lembrar fatos e atos que pertencem ao passado e que não resistiram ao tempo?  Resposta: pelos comentários reinantes na cidade de que o estilo governar de Cafeteira povoa sobre o Palácio dos Leões.

Eu, particularmente, acho difícil um modelo daquele jaez, executado há mais de cinqüenta anos na prefeitura e depois no governo, e que pouco teve de construtivo à cidade e ao estado, possa servir de parâmetro a uma administração pautada em outras concepções políticas e filosóficas.

 

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