Amigos e admiradores de Josué Montello não conseguem esquecê-lo e muito menos o dia 21 de agosto. Nesta data, em 1917, portanto, há 95 anos, ele nascia nesta cidade, cidade essa que adorava e fez dela, ao longo da vida de escritor, cenário de numerosos romances, contos e crônicas.
Josué costumava definir-se como um maranhense profissional, fato que o levava a vir com freqüência a São Luís. O mês preferido de suas temporadas entre nós era agosto. Só motivos relevantes poderiam prendê-lo no Rio de Janeiro e evitar que, em companhia da amada e inseparável Ivone, não estivesse aqui, neste período do ano.
Dois motivos o traziam a São Luís em agosto: rever a Casa de Cultura, que tem o seu nome, e passar o aniversário em companhia dos amigos, que sempre fizeram questão de comemorar a efeméride com as pompas e as honras merecidas.
Nesta terça-feira, quando completaria 95 anos, quero lembrá-lo e homenageá-lo não focando a brilhante e marcante trajetória de intelectual e de membro de renomadas instituições culturais, dentre as quais a Academia Brasileira de Letras e a Academia Maranhense de Letras. Prefiro pinçar a outra faceta de sua personalidade: a política.
Ao contrário do que muita gente pensa, Josué não era um homem infenso ou arredio ao mundo da política partidária. Em certas fases da sua vida, no auge do prestígio de escritor, esteve no redemoinho das confabulações políticas e cogitado para assumir cargos importantes na cena pública do Maranhão.
As primeiras marcas de Josué Montello na vida pública maranhense ocorreram na transição da ditadura getuliana para a democracia, quando o empresário Saturnino Belo, indicado por Vitorino Freire, assumiu o cargo de interventor federal no Maranhão.
Em maio de 1946, o interventor convidou o amigo Josué para executar em São Luis um trabalho de fôlego, pois desejava promover uma reforma no sistema educacional do Maranhão, contando, para isso, com recursos federais. Na época, ele ocupava o cargo de diretor de Cursos da Biblioteca Nacional, razão pela qual o ministro da Educação, Ernesto de Sousa Ramos, colocou-o à disposição do Governo do Estado.
Em São Luís, Josué dedicou-se exclusivamente à elaboração do plano até o momento em que o interventor precisou de sua competência intelectual e de sua capacidade de trabalho, para ajudá-lo nas tarefas atinentes à administração.
Sabendo-o habilitado e dinâmico, Satu não hesitou em convidá-lo para o cargo de Secretário Geral do Governo, o segundo mais relevante na estrutura do Estado. Nomeado a 20 de junho de 1946, dedicou-se à elevada função com desenvoltura e eficiência, mas sem prejudicar o trabalho que se comprometera fazer, intitulado “A Reforma do Ensino Normal e Primário no Estado do Maranhão”.
À frente da Secretaria Geral do Governo ainda substituía o interventor nas ausências de São Luís, quando viajava ao Rio de Janeiro, para tratamento de sua debilitada saúde ou resolver problemas referentes ao desempenho da máquina administrativa.
Também avocou o papel de articulador político, com vistas a dar musculatura à candidatura de Satu a governador às eleições de janeiro de 1947, projeto que não vingou, face ao dispositivo constitucional que tornara inelegíveis os que estavam no exercício do cargo de interventor federal.
Inobstante o trabalho edificante que realizava no governo, no final de 1946, deu por concluída a missão que lhe foi confiada pelo interventor. Antes, porém, passou às suas mãos o documento que preconizava novas diretrizes na educação do Maranhão, que lhe valeram merecidas homenagens do chefe do Executivo, em solenidade, na Biblioteca Pública, e do magistério maranhense, no Teatro Artur Azevedo.
Entregou o cargo e retornou ao Rio de Janeiro, sendo lotado no gabinete do presidente Eurico Dutra, o qual, por interferência do senador Vitorino Freire, foi nomeado, em 1947, diretor da Biblioteca Pública Nacional.
Durante o tempo passado nesta cidade, não se descurou da militância jornalística. No jornal Diário de São Luís, assinava a coluna “Dia Sim, Dia Não”, em que comentava assuntos de cunho literário.
Instalado novamente no Rio de Janeiro, mas com o pensamento no Maranhão, aguardava o momento para executar dois projetos. O primeiro, no dia 21 de setembro de 1948, quando tomou posse na Academia Maranhense de Letras, elegendo-se a 21 de agosto de 1946, ocupando a cadeira nº 31, patroneada por Raimundo Lopes da Cunha.
O segundo, em 1950, ao integrar a chapa de candidatos do Partido Social Trabalhista, às eleições para a Câmara dos Deputados. Afastou-se da direção da Biblioteca Pública Nacional e participou da campanha eleitoral, na certeza de que receberia da cúpula partidária e do eleitorado o reconhecimento pelo fecundo trabalho prestado ao Estado.
A campanha eleitoral daquele ano foi das mais violentas quanto à fraude eleitoral. Josué não se beneficiou do esquema fraudulento e nem contou com recursos significativos para a compra de votos, sendo, por isso, inapelavelmente derrotado. Obteve apenas 2.974 votos. O PST elegeu cinco deputados federais, restando-lhe a quarta suplência, mas não assumiu o mandato.
Amargurado, distanciou-se da cena política. Mesmo assim, em duas oportunidades, o seu nome foi apontado para disputar cargos eletivos.
Em 1954, para ser suplente de senador do jornalista Assis Chateaubriand, que perdera as eleições na Paraíba e buscava eleger-se no Maranhão ao Senado da República. Em 1965, na sucessão do governador Newton Bello, teve o nome lembrado para substituir o deputado Renato Archer, vetado pelo regime militar, que enfrentaria nas urnas a candidatura de José Sarney, lançada pelas Oposições Coligadas.
Não conhecia essa faceta do nosso Josué montello,que pelo visto,além de intelectual ilustre,também transitou pela política partidária.E pelo que li,com bastante desenvoltura.É um dos poucos maranhenses,que tanto pela sua obra literária,quanto pela sua conduta ilibada,conforme o texto em epígrafe,nos enche de orgulho de ser maranhense.