31 de janeiro de 1966. Posse de José Sarney no Governo do Maranhão, perante extraordinária multidão, na Avenida Pedro II. O cineasta baiano, Glauber Rocha, já glorificado internacionalmente com o filme “Deus e o diabo na terra do sol”, esteve presente àquele ato público e político.
Glauber, à época, com 25 anos, filmou toda a solenidade com a finalidade de produzir um documentário intitulado “Maranhão 1966”, do qual aproveitou algumas cenas para inserir no seu antológico filme “Terra em Transe”.
Em cima do discurso de Sarney, o cineasta documentou a miséria, a pobreza, a falta de saúde e a péssima educação oferecida ao povo maranhense e o que o jovem governador pensava para remover esse dantesco quadro de subdesenvolvimento.
Quarenta e oito anos depois, não um cineasta, mas um jornalista da TV Globo, Fernando Gabeira, vem ao Maranhão para entrevistar Flávio Dino, sobre a situação do Estado e como o recebera.
Se Glauber fez um trabalho para o cinema, Gabeira realizou um programa jornalístico para a televisão. O cineasta e o jornalista, conquanto tenham usado ferramentas de comunicação midiáticas distintas, procuraram pontuar as dificuldades que esperavam Sarney e Flávio e as estratégias que adotariam para promover as mudanças prometidas na campanha eleitoral, para o Maranhão superar o seu atraso econômico e social.
Visto sob os olhos de ontem e de hoje, tanto o documentário de Glauber Rocha quanto a entrevista de Fernando Gabeira foram feitas com o desiderato de atrair as atenções da nação brasileira para a situação do Maranhão e alertar as autoridades federais para o drama da população, na sua grande maioria, ainda à margem do progresso e das conquistas da tecnologia.
Salvo melhor juízo, foi com esse propósito que Sarney e Flávio, em tempos diferentes e distantes, trouxeram Glauber e Gabeira a São Luis. Quanto a isso, parece não haver dúvidas. Mas quanto à repercussão do documentário e da entrevista, a situação muda literalmente. O trabalho do cineasta baiano bateu de longe o realizado pelo jornalista carioca.
Enquanto o documentário sobre Sarney até hoje é objeto de estudos e pesquisas, mantém-se na pauta da mídia impressa e eletrônica e saiu da esfera do cinema para invadir a internet, a matéria jornalística a respeito de Flávio, não alcançou o efeito desejado. Limitou-se puramente ao cotidiano da televisão e sem obter a ressonância que dela esperavam os adeptos do governador do PC do B. Em São Luis, a entrevista foi vista por pouca gente, não ganhou destaque e nem causou comentários e sussurros.
O programa de Gabeira, por não repercutir aqui e alhures, virou um factóide. Já o documentário de Glauber, contestado por alguns e exaltado por muitos, transformou-se em obra de arte.
O jornalista e escritor Nelson Mota, por exemplo, não economizou elogios ao trabalho cinematográfico do cineasta baiano. De sua apreciação crítica, pontuo esse trecho: “Em Maranhão 66, a narrativa se estrutura na dialética entre as imagens de realidade dramática e a demagogia caricata do jovem político provinciano que está tirando do poder um velho coronel”. Mais ainda: “Em vez de filmar uma celebração vitoriosa, Glauber usou e abusou da verdade e do patrocínio de Sarney para fazer um devastador documentário sobre um arquetípico político brasileiro”.
RECURSOS BLOQUEADOS
A Academia Maranhense de Letras passa por uma crise sem precedentes em matéria de recursos para a sua manutenção.
Ao longo dos últimos anos, a instituição tem vivido por conta de subvenções decorrentes de projetos de leis aprovadas pela Assembleia Legislativa e Câmara Municipal e sancionadas, respectivamente, pelo governador João Castelo e pelo prefeito Tadeu Palácio.
De acordo com as leis, o Governo do Estado e a Prefeitura de São Luis se obrigam a repassar mensalmente à Casa de Antônio Lobo recursos da ordem de dez salários mínimos, o equivalente a pouco mais de R$ 36.000,00 anuais.
Há dois anos, a prefeitura deixou de repassar tais recursos à AML, inobstante os apelos feitos ao prefeito e à direção da Fundação Municipal de Cultura.
O Governo do Estado, todavia, cumpre, não com a regularidade desejada, o que manda a legislação aprovada. Mas o último repasse de 2014, embora liberado pela secretaria da Cultura, encontra-se retido no Banco do Brasil por ordem de bloqueio do governador Flávio Dino.
Embora limitada, a importância bloqueada faz falta à Academia, razão pela qual os “imortais” esperam que o governador autorize a liberação do recurso.