O ingresso do poeta Ferreira Gullar na Academia Brasileira de Letras, na última sexta-feira (5 de dezembro), nos move à abordagem sobre a participação de maranhenses na Academia Brasileira de Letras.
A presença de escritores do Maranhão na Casa de Machado de Assis avulta não apenas pela expressiva quantidade, mas, sobretudo, pela qualidade fulgurante dos nomes que dela passaram a fazer parte desde a sua fundação, em 20 de julho de 1897.
À época da inauguração da Academia Brasileira de Letras, o Maranhão ainda carregava a fama de Atenas Brasileira e desfrutava do prestígio de ter um elenco de escritores famosos, que brilhava no Rio de Janeiro, então, o maior e o mais importante centro de cultura do país.
Não à toa, contribuiu com nada menos do que cinco valorosos intelectuais, que emprestaram à ABL uma projeção cultural que até hoje repercute dentro e fora do país: Artur Azevedo, dramaturgo, contista, poeta, jornalista e crítico teatral, fundador da Cadeira 29; Aluísio de Azevedo, jornalista, desenhista, romancista, criador do naturalismo na literatura nacional e autor dos chamados romances de costume, dentre os quais O Mulato, Casa de Pensão, O Cortiço e Filomena Borges. Fundou a Cadeira 4; Henrique Coelho Neto, jornalista, professor, romancista, poeta, e orador. Conhecido como “príncipe dos prosadores” foi o fundador da Cadeira 2. Deixou uma vasta e rica bibliografia; Graça Aranha, romancista de primeira linha, com destaque para os livros Canaã, Malazarte e O meu próprio romance. Fundou a Cadeira 38 e um dos articuladores do Movimento Modernista; Raimundo Correia, diplomata, jornalista e poeta. Livros principais: Primeiros sonhos, Sinfonias, Versos e Versões e Aleluia. Fundou a Cadeira 5.
Além dos cinco fundadores, o Maranhão ainda forneceu à Academia Brasileira de Letras cinco expressivos homens de letras para patronos das Cadeiras 1, 15, 18, 21 e 36, respectivamente, os poetas Adelino Fontoura, Gonçalves Dias e Teófilo Dias, e os jornalistas João Francisco Lisboa e Joaquim Serra.
Como se não bastasse, dois maranhenses e brilhantes luminares da literatura brasileira são também sócios correspondentes da Casa de Machado de Assis: o poeta e publicista Odorico Mendes e o filólogo, poeta e professor Sotero dos Reis.
Mas não são apenas os membros fundadores, os patronos e os sócios correspondentes, acima citados, que figuram na notável galeria da Academia Brasileira de Letras. Ao longo dos anos, continuamos a produzir homens de cultura e de projeção nacional, que integraram aquela reluzente instituição.
Em 3 de outubro de 1919,um maranhense de reconhecido mérito cultural foi eleito para os quadros da ABL: o jornalista, cronista, poeta e crítico literário, Humberto de Campos, para ocupar a Cadeira 20, na sucessão de Emílio de Menezes. Nascido na cidade de Miritiba deixou obras que o tornaram famoso, ressaltando-se As Memórias e o Diário Secreto.
Dezenove anos depois, ou seja, a 14 de julho de 1938, outro maranhense, nascido em Pirapemas, elege-se para aquele sodalício: Viriato Correia, para ocupar a Cadeira 32, sucedendo a Ramiz Galvão. Jornalista, contista, teatrólogo e autor de crônicas históricas e livros infantis, Viriato escreveu Minaretes, Contos do Sertão, Histórias de nossa história, Brasil dos meus avós, e Cazuza.
A 4 de novembro de 1954, mais um conterrâneo ingressa na Academia Brasileira de Letras: Josué Montello, nascido em São Luis, eleito para a Cadeira 29, para substituir o escritor Claudio de Sousa, sendo recebido pelo conterrâneo, Viriato Correia. Membro da Academia Maranhense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia de Ciências de Lisboa, Josué notabilizou-se no cenário literário como romancista, jornalista, novelista, cronista, memoralista e teatrólogo. Também ocupou cargos públicos importantes e legou uma obra romanesca invejável, que lhe valeu prêmios valiosos no Brasil e no exterior, dentre os quais Luz da Estrela Morta, Cais da Sagração, Largo do Desterro, Noite sobre Alcântara, Os degraus do paraíso e Os tambores de São Luis.
Na década seguinte, o jornalista, poeta, cronista e ficcionista Odilo Costa, filho, nascido em São Luis, bateu às portas da Casa de Machado de Assis. Eleito em1969 ocupou a Cadeira 15, sucedendo a Guilherme de Almeida. Era membro das Academias Maranhense e Piauiense de Letras. Bibliografia: Livro de poemas, A faca e o rio, Tempo de Lisboa e outros poemas, Os bichos no céu, A vida de Nossa Senhora.
Depois de Odilo, passamos quase duas décadas sem marcar presença na Academia Brasileira de Letras. Esse vazio foi quebrado pelo escritor José Sarney, que se elege a 17 de julho de 1980, para a Cadeira 38, cujo último ocupante foi o paraibano José Américo de Almeida. Josué Montello é quem recepciona Sarney, membro também das Academias Maranhense e Brasiliense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Academia de Ciências de Lisboa. Jornalista, cronista, poeta, contista e romancista é dono de relevante bibliografia, em que pontificam os livros Saraminda, O dono do mar, A duquesa vale uma missa, Brejal dos Guajas, Norte das Águas, e A canção inicial.
O mais recente maranhense a ingressar na ABL foi o poeta Ferreira Gullar. Com ele, são onze os membros efetivos aqui nascidos que dela fazem parte. Não fora a sua injustificada resistência, já poderia estar a mais tempo no cenáculo dos “imortais”. Nasceu em São Luis, mas projetou-se nacionalmente no Rio de Janeiro, onde praticamente produziu toda a sua obra poética, com destaque para os livros Um pouco acima do chão, A luta corporal, Poema Sujo, Por você, por mim, Antologia Poética, Cultura posta em questão e Vanguarda e subdesenvolvimento. Gullar elegeu-se a 9 de outubro de 2014, para ocupar a Cadeira 37, na sucessão do poeta Ivan Junqueira.
Em tempo: Coelho Neto e Josué Montello ainda tiveram a honra de presidir a Academia Brasileira de Letras.