A UNANIMIDADE CHAMADA LEOMAR

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Eu e meus conterrâneos de Itapecuru ainda estávamos abalados com a perda de Nonato Buzar, cantor e compositor de renome nacional, quando outra notícia também pesarosa e inexorável deixa a nossa terra triste e mais pobre: o falecimento prematuro de Leomar de Sousa Amorim, um de seus filhos mais cultos e honrados.

Prematuro porque era ele um magistrado de 58 anos, que morreu sem cumprir totalmente a missão que a vida lhe destinara e legada pelo saudoso pai, Leonel Amorim, e a dedicada mãe, Maria do Rosário.

Os horizontes que se abriam a Leomar, no exercício de uma profissão da qual era um abnegado cultor, só teriam limite quando chegasse ao cume da magistratura e assumisse o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, que sem dúvida alcançaria por mérito, competência, honradez e probidade.

Além dessas quatro qualidades, Leomar, ao final da vida, acrescentou mais uma à sua altiva personalidade: a de intrépido e valente guerreiro. Durante quase oito anos lutou brava e estoicamente para vencer a terrível enfermidade que o atormentava ao completar meio século de vida. Como se fosse uma figura bíblica do porte de Davi, mesmo sabendo que estava enfrentando um terrível Golias, jamais se abateu ou se desesperou diante de algo inevitável e implacável. Morreu com o troféu de vencedor nas mãos, pois, na medicina, poucos são os casos em que os atacados por câncer de pâncreas conseguem ter uma sobrevida igual à dele.

Em sou de uma geração à frente de Leomar, fato que me dá autoridade para falar sobre ele, que conheci nos idos da infância, quando morávamos na mesma rua e na mesma cidade. Seus pais vieram do Piauí nos meados da década de 1950 e instalaram-se em Itapecuru, onde criaram raízes e construíram uma família conceituada e respeitada. O pai era agrimensor, advogado provisionado e professor. A mãe, professora. Tiveram dez filhos, todos nascidos naquela cidade e receberam nomes começados com a letra L. O quarto da prole batizou-se com o nome de Leomar.

Ele e todos os irmãos estudaram na escola criada pelo pai, em fevereiro de 1957, a Escola Regional Gomes de Sousa. Em seguida, veio para São Luis, onde fez o curso secundário e ingressou no curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão, por influência do genitor, com quem aprendeu as primeiras noções da profissão que abraçou e se tornou figura de realce. Diplomou-se bacharel em 1978.    Antes de ingressar no mundo da magistratura, submeteu-se a concurso para o corpo jurídico do Banco da Amazônia, onde se projetou como advogado.

Depois, tivemos um convívio diário, por conta de seu futuro sogro, Luis Alfredo Neto Guterres, da diretoria da Federação da Indústria do Maranhão, onde eu era assessor, que o indicou ao presidente da entidade, Alberto Abdala, para prestar serviços na assessoria jurídica.

Embora prestando bons serviços no Banco da Amazônia e na Federação das Indústrias, Leomar deixou as duas entidades por um motivo mais do que auspicioso: aprovado em recente concurso foi chamado pelo Tribunal de Justiça para tomar posse no cargo de juiz de Direito na comarca de Barra do Corda.

À frente daquela circunscrição jurisdicional, também, ficou pouco tempo haja vista a série de concursos aos quais se submeteu, sendo aprovado em todos, com destaque para o juizado federal e o magistério da Universidade Federal do Maranhão.

Daí por diante, ninguém mais o segurou. Impôs-se como magistrado e professor, sobretudo depois que o seu currículo foi enriquecido com o mestrado em Ciências Jurídicas e Políticas na Universidade de Lisboa, em Portugal, habilitando-se a integrar o corpo docente da Universidade de Brasília e membro do Conselho Nacional de Justiça.

Em dois momentos, passei a ter por ele mais admiração e figurar na relação das pessoas do meu bem querer. Primeiro, quando publicou em O Estado do Maranhão, em fevereiro de 2008, um artigo de sua autoria sobre o meu pai, Abdala Buzar, amigo e correligionário político de seu genitor.

Tratava-se do perfil irretocável de papai, mostrando o seu significado como homem público e empresário de Itapecuru. Ao final do artigo, revelou: “Abdala deixou uma grande prole, da qual o mais ilustre descendente é o meu amigo Benedito Buzar, ex-deputado, advogado, jornalista consagrado e membro da Academia Maranhense de Letras. Como bom filho, honra o pai e as tradições de cultura da cidade de Itapecuru”.

Segundo, quando eu estava empenhado em fundar a Academia Itapecucuruense de Ciências, Letras e Artes. Ajudou-me, incentivou-me e fez o que estava ao seu alcance para a instituição ganhar corpo e vida. Por isso, fez parte da AICLA. Estava feliz na noite de sua posse, sobretudo porque ocupou a cadeira patroneada pelo pai, Leonel Amorim de Sousa.

De Leomar, sempre guardarei esta particularidade: nunca cortou o cordão umbilical com a terra em que nasceu.

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