Normalmente quando se especula a respeito do mais importante jornalista do Maranhão, a resposta é unânime: João Francisco Lisboa, o qual, teve como contemporâneo, outro jornalista, também defensor de ideias políticas e princípios éticos, chamado José Cândido de Moraes e Silva, que, na verdade, não alcança a dimensão nacional de João Lisboa, mas se destaca na atividade jornalística pelo talento inexcedível e pela intrepidez como lutou pela liberdade dos maranhenses, numa fase em que os portugueses teimavam em não reconhecer a Independência do Brasil.
PRIMEIROS ESTUDOS
A 21 de setembro de 1807, José Cândido nasce no Sítio Juçara, em Itapecuru-Mirim. Filho de Joaquim Esteves da Silva, farmacêutico e português, e de Maria Querubina de Morais Rego, maranhense e de família nobre.
Com 9 anos, ele e mais cinco irmãos, todos menores de idade, ficaram sem o pai. Treze anos depois, em março de 1816, a mãe, também falece.
Na condição de órfãos, foram amparados pelos amigos e parentes. José Cândido fica sob os cuidados do comendador Antônio José Meireles, negociante português, que paga os seus estudos em São Luís. Aluno aplicado e inteligente, por conta de seu protetor, foi estudar na cidade de Havres, na França, de 1918 a 1821.
O comendador Meireles, percebe ser o protegido dotado de potencial vocação para as letras, por isso manda-o estudar Medicina em Lisboa e depois na Universidade de Coimbra, onde aprende grego e matemática.
RETORNO AO MARANHÃO
Ao tempo em que estudava em Coimbra, eclodiram no Brasil as lutas pela independência do jugo lusitano. Impregnado do sentimento de liberdade, abandona os estudos em Coimbra e a 15 de julho de 1823, deixa Lisboa com destino ao Maranhão, mas ao chegar não encontra o protetor, que se mudara para o Rio de Janeiro, mas recomenda ao seu guarda livros, José Gonçalves Teixeira, para colocar José Cândido à frente do serviço escrituração mercantil.
José Gonçalves, desencadeia perseguições de toda natureza e incompatíveis com a índole e a formação cultural de José Cândido, que chegavam ao cúmulo da agressão física. Depois de áspera altercação com o guarda-livros, o jovem itapecuruense abandona o serviço, indo morar na casa do avô paterno, que o recebe de braços abertos, onde já residiam as irmãs.
A NOVA FASE DE VIDA
Em 15 de dezembro de 1823, retorna às plagas em que nascera e instala-se em Palmeira Torta, às margens do rio Itapecuru, e monta um pequeno estabelecimento para venda de produtos agrícolas.
Os negócios iam relativamente bem, mas ele não se identifica com aquele tipo de vida, inadequada para quem tinha outras ambições. Com o falecimento do avô paterno em 1825, abandona Palmeira Torta e retorna a São Luís, onde, em maio de 1926, passa a morar com as irmãs.
Aos 19 anos, para sustentar a família, abre, na própria casa, uma pequena escola, para ensinar as primeiras letras, francês e geografia, o que fazia também em residências particulares e para quem desejava seguir a carreira militar.
COLÉGIO E JORNAL
Proibido de dar aulas para os futuros militares, instala um modesto internato. Para melhorar o estabelecimento, associa-se ao amigo Manuel Pereira da Cunha. Dessa união, surge um colégio de bom padrão, bem como fundaram uma modesta tipografia.
Com os recursos provenientes dos negócios, José Cândido e as irmãs tiveram as vidas substancialmente melhoradas. O desejo de ingressar na atividade política, começa a inquietá-lo e a comprometer a profissão de professor. Resolve, então, substituir o magistério pela tribuna jornalística, para defender as causas do povo e os desmandos dos governantes.
Determinado a cumprir a missão de jornalista, não se intimida com as invectivas pessoais e morais assestadas contra a sua pessoa, monta um jornal, que, a 27 de dezembro de 1827, circula com o título de O Farol, considerado o primeiro órgão divulgador das ideias liberais no Maranhão, para combater “os excessos contra a Constituição, a liberdade, a segurança individual e a propriedade dos cidadãos brasileiros”.
PERSEGUIÇÃO
O Farol, na sua luta constante e tenaz contra a opressão e o autoritarismo, não perdoava os governantes que teimavam, mesmo depois da independência, em ofender e perseguir os maranhenses pelos jornais oficiais Minerva e Bandurra.
A partir de fevereiro de 1928, passa a ser alvo de irresistível perseguição, do novo presidente da província, marechal Manuel da Costa Pinto, que não via com bons olhos um órgão da imprensa difundindo ideias liberais.
A princípio, tenta impedir a circulação de O Farol e fechar a tipografia onde era impresso. Como não consegue, pressiona o promotor público, Joaquim José Sabina, a mover seguidos processos contra o jornalista, sob a justificativa de cometer “delitos de abusos de liberdade de imprensa”. A despeito da perseguição, José Cândido não se abate e continua a batalhar pela causa da liberdade.
Não satisfeito, a autoridade provincial prepara contra o dono de O Farol um plano de vingança, para ficar sob a ira da opinião pública. Enquanto atacado, mais José Cândido se fortalecia politicamente e conquistava forças para defender as ideias para a conquista da liberdade do povo maranhense.
PRISÃO E LIBERDADE
Sem fazê-lo recuar com relação às causas que considerava justas, o presidente Costa Pinto, no auge da insanidade, o intima a comparecer ao Palácio, onde é submetido a rigoroso e desumano interrogatório, que serve de desculpa para prendê-lo, ato que fez O Farol deixar de circular e privar a família dos meios de subsistência.
Na prisão, recebe a solidariedade dos que comungavam com as suas ideias, a ponto de a ele serem oferecidos recursos para fugir com destino à Europa, o que recusa, pois queria ficar no Maranhão, para continuar a luta que abraçara. O maior apoio que recebe naquela fase de prisioneiro partiu do amigo, Odorico Mendes, que veio do Rio de Janeiro para prestar-lhe solidariedade.
Após cinco meses de reclusão, consegue, afinal, a liberdade por iniciativa do novo presidente do Maranhão, desembargador Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, a 14 de janeiro de 1829. O Farol que havia paralisado a publicação no número 56, volta a circular.
PARTICIPAÇÃO NA SETEMBRADA
Com a abdicação de Pedro I, a 7 de abril de 1831, os liberais maranhenses, dentre os quais José Cândido e Frederico Magno de Abranches, articulam um movimento, conhecido por Setembrada, com o apoio de militares e de populares, exigindo do presidente da província várias reivindicações.
Num primeiro momento, o presidente Araújo Viana concorda com as propostas, tempo que precisa para a a13 de novembro prender os oficiais e os líderes civis engajados na Setembrada.
O dono de O Farol, um dos alvos da ofensiva governista, não consegue ser preso, porque foge para as matas do Itapecuru, onde fica até receber a cobertura parlamentar de Odorico Mendes, que o abriga em sua residência.
Por julgar que a casa do fraternal amigo não lhe dava a devida e necessária segurança, aluga casa, na Rua dos Remédios, dotada de esconderijo e propício para refugiar-se. Em uma das vezes, os policiais demoraram mais tempo do que o previsto e, por pouco, ele não morria asfixiado.
TRISTE FIM
Diante de tanta perseguição, suas condições físicas e financeiras pioraram e o seu organismo entra em processo de definhamento, causando-lhe o estreitamento da uretra, que, à falta de condições higiênicas, resulta numa incontrolável inflamação, cujo inexorável resultado é a sua morte em 18 de novembro de 1832.
José Cândido não publicou livros, mas o que escreveu no seu jornal serve, de acordo com o biógrafo Henriques Leal, para atestar que “Não houve nunca jornal que exercesse ascendente mais decidido sobre a população, nem tribuna que atraísse mais ouvintes, ou granjeasse com a sua imensa popularidade tão frenéticos e espontâneos aplausos”.